sábado, 20 de janeiro de 2018

uma música para o fim de semana - Manel Cruz


Para quem os Ornatos Violeta deixa um apertozinho no coração pelas saudades que deixou ao se extinguir em 2000, o nome de Manuel Cruz está muito longe de ser um desconhecido: era o seu vocalista e fundador.

Nunca fui um grande admirador de Ornatos, quase tudo neles que não me atraia. As vozes, as letras, os arranjos musicais.
Quando um elemento fundador de uma determinada banda sai e eventualmente funda uma outra, inevitavelmente trás sempre consigo, para a génese da nova, algo da velha.

E isto é válido para o Manuel Cruz. No seu recente trabalho, o primeiro foi há dois anos com Estação de Serviço, este lança a sua continuidade com Extensão de Serviço mantendo a formação da sua banda.
A canção de serviço é Ainda Não Acabei. E ao ouvi-la confirmei o que pensava dos Ornatos e o porque nenhuma música de Estação de Serviço ecoa no meu ouvido: chata, monótona com letra sensaborona.


Bom fim de semana ☺





Ainda não acabei

Eu desta vez vou conseguir 
desta vez vou largar 
eu não estou farto eu cansei-me
do que apenas parece 
eu não sei se eu sou forte 
só que tenho este grito
não contem comigo 
para ser sol na terra 
eu vivi sempre em guerra 
a lamber pés de puta 
não percebo as razões 
estou perdido na mata
de cabeça madura 
sempre dando na fruta

desta vez eu desisto 
de lutar contra a merda 
eu sou feito de perda
é mais do que um desabafo 
é uma voz que desperta 
um consolo de abutre
no direito à vivência 
do pacote completo 
não lamento palavras
são o meu alimento 
nem o amor que reservo 
a quem me vê fora delas
trago a bomba no peito 
não a trago no saco
tira-me o teu retrato
sem remorsos do assalto 
quando não se tem alma 
não se corre esse risco

tu não sonhas quem sou 
tu não vês nem metade 
só queria cantar 
já não sei bem porquê
e perguntas então 
porque não pões um fim
nessa vida sofrida 
a resposta tem graça 
é que eu adoro esta vida

ainda não acabei

vamos embora chorar 
vamos embora sorrir
vamos embora sair 
vamos embora ficar 
vamos embora cair 
vamos embora voltar 
vamos embora ou não 
são tudo coisas do chão 

ainda não acabei


quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Doll Face


A busca pelo estereótipo da beleza impossível propagada pela caixa que mudou o mundo...







terça-feira, 16 de janeiro de 2018

um poema de... Florbela Espanca



Escreve-me!


Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!

Escreve-me! Há tanto, há tanto tempo
Que te não vejo, amor! Meu coração
Morreu já,e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!

"Amo-te!"Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!

Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então...brandas...serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...


Florbela Espanca


segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

série "matching" de Stefan Draschan - I


Stefan Draschan é um fotografo austríaco com especial queda para os museus de Paris, Berlim e Viena e acima de tudo tem uma queda gigantesca para a... paciência.
O site Borepanda refere que ele gastou uma eternidade de tempo a fotografar o projecto People Matching Artworks (iniciado em 2015).

O que Stefan fez foi encontrar alguém que nestes três museus se posicionasse perante um quadro com as cores da roupa, o seu estilo a condizer com ele, com o quadro que observa.
Há situações em que esta relação é tão perfeita que questiono se a fotografia não terá sido encenada, em vez de um acaso ter conduzido essa pessoa para a sua... alma gémea cromática e estilistica.

Quando tudo se combina, as cores, o estilo, o desenho, nós dizemos que tudo condiz, está a condizer, os ingleses usam o match mas os franceses têm o termo pendant.
Entre nós e provavelmente por ser chic, especialmente pelo lado feminino, esta palavra francesa com algumas escorregadelas fonéticas e sintácticas, é utilizada com o aportuguesamento: fazer ou estar pandã ou pandam.

O Ciberdúvidas da língua portuguesa esclarece aqui:

"Embora ouçamos dizer a alguns portugueses «fazer pendant», no sentido de «combinar», nenhum dicionário regista a ortografia "pandam". Por esse motivo, pendant continua a ser apenas um galicismo dispensável."


Estou na dúvida se eu utilizo a nossa capacidade quase inata de absorver e tornar nossos, os termos estrangeiros, o divertido e bastante palerma termo pandam, ou se utilizo o termo original francês e armo-me em fino e chic com o pendant, ou ainda se escolho o nosso genuíno termo "a condizer".

Nenhuma delas. Escolho o termo inglês "matching" que é fiel ao projecto de Stefan Draschan - People Matching Artworks

A primeira fotografia, ilustra na perfeição o objectivo a que se propôs este fotógrafo.