É muito fácil de gostar deste cd. É directo, sincero, linear. Não existem grandes floreados técnicos efeitos sofisticadissímos de som ou pós produções.
Mas recorre frequentemente a samples de vozes que de algum modo, pela sua história, pela vivência e influência ajudam a construir e a dar coerência a uma narrativa musical.
Manoel de Oliveira, Martin Luther King, Dalai Lama, Frank Lloyd Wright, António Pinho Vargas, John Lennon e vários outros.
O primeiro álbum de Mahogany, parece que Duarte estava sem grande ideias de dar um nome artítisco e lembrou-se que a sua guitarra era essencialmente feita por mogno, que em em inglês se chama... Mahogany. ;)
A House in Iceland, do guitarrista Duarte Ferreira, é um conjunto de colagens destas samples auditivas que se apreciam num quadro pendurado numa parede.
Há um conteúdo histórico a que não se consegue fugir, mas não são colocadas despropositadamente, servem uma lógica que ajuda à narrativa.
É um álbum que está dessintonizado, as frases vão se se sucedendo umas às outras aleatoriamente sem nexo.
Mas numa segunda análise a maneira como vão surgindo, reparamos que fazem o resumo de um ano que acaba de findar. Assim é A House in Iceland.
O que me ocorre de imediato é o quanto deve ter sido difícil compor este álbum. Não apenas na vertente musical, mas principalmente no que diz respeito à escolha dos diversos samples, das ideias que estas transmitem e depois construir uma narrativa musical estruturada e coerente.
A faixa All That is Right and Beautiful é uma faixa curta, que não chega aos dois minutos. É o que é. É doce, é simples.
Foram usadas samples de Henrique Medina Carreira, António Pinho Vargas e Manoel de Oliveira.
A contraposição surge com o tema Of Human Evils and Divine Contemplantions.
As samples da Mahogany introduz são mais densas, são de líderes mundiais, religiosos, lendas da música e idealistas - Robert F. Kennedy, John Lennon, Dalai Lama, George W. Bush, Martin Luther King.
São consentâneos com o título que oscila entre o bem e o mal, com a guitarra eléctrica aos 2.14 min a dar sinais de vida de querer saltar a cerca, a criar a tensão e stress, a marcar transições, linhas que se ultrapassam e contradições para aos 2.31 acentuar ainda mais essa... irritabilidade.
As bases que estão por detrás da construção de A House in Iceland tornam-no absolutamente fascinante.
Bom fim de semana :)