Hoje em dia pensar na Wikileaks, é pensar num dilema.
Sob o pretexto e ao abrigo da liberdade de imprensa pode divulgar-se textos e documentos confidenciais pondo em causa, países, instituições, diplomacias e relações de poder económico e político?
Ou será que dada a importância que a divulgação deste tipo de documentos tem para as relações internacionais e nacionais, para além de potenciais embaraços mais ou menos pessoais, se deve anular o direito à liberdade de imprensa?
Sou dos que pensam que a liberdade de imprensa, a transparência deve prevalecer.
Por natureza e definição tudo o que envolva o Poder, seja ele de ordem pessoal, empresarial ou nacional é opaco. São meandros pouco transparentes e mal explicados.
É sabido que sob as palavras mágicas e vagas de "segredo de estado" se esconde muita coisa obscura que todos nós gostaríamos de saber.
Se casos como a compra dos submarinos e as suas contrapartidas ou a Face Oculta, que volta a estar na berra, foram divulgados e são conhecidos da opinião pública foi devido à liberdade de imprensa.
Será que nós estamos satisfeitos da maneira com que o Poder está lidar com estes casos? Não nos sentiríamos melhor se um site como o Wikileaks tivesse mais informação para divulgar?
Ou outro caso bem conhecido de divulgação de informação confidencial, desta vez por parte de um jornal americano, o Washington Post, foi o escândalo Watergate que culminou com a demissão do presidente Nixon.
Será que não se ganhou socialmente com a divulgação destes casos?
Não se trata de espionagem, roubo de documentação, motivação política ou económica.
É talvez a única maneira que a opinião publica tem de conhecer verdadeiramente do que é feito nas suas costas, de escrutinar as notícias que vão saindo (ou que não vão saindo) nos meios de comunicação, a legitimidade das decisões que a classe dirigente toma.
Talvez o único problema, o grande embaraço, é a maneira descrente e suspeita com que opinião pública passa a olhar para os seus políticos e decisores.
A silenciação e a censura da Wikileaks apenas significa a protecção e manutenção da opacidade dos corredores do poder e de quem decide.
E são cinicamente, os EUA, os tais que por exemplo espiaram a ONU e o seu secretário geral Ban Ki-moon, que estão liderar uma ofensiva contra este site.
Em contrapartida e em reacção oposta, estão a gerar e a generalizar um movimento acerrimamente a favor de Julian Assange e do seu síte.
Não sou a favor nem contra a filosofia da Wikileaks, apenas sou contra o seu encerramento.
O que deve ser questionado não é a publicação ou a divulgação deste tipo de documentos e informações, mas sim a maneira como eles chegam às fontes que as divulgam, neste caso à Wikileaks.
Ou seja, no limite, a grande questão ética a colocar e a resolver, é a fuga de informação em si e não a sua divulgação.