sábado, 6 de dezembro de 2014

uma música para o fim de semana - José Cid


Já há algum tempo que não ia ao baú das memórias. Lembrei-em de José Cid no âmbito da iniciativa Toca a Todos. Ele é um dos cabeças de cartaz deste evento.

Durante uns largos anos José Cid dominou a cena musical portuguesa. Explode na década de 70 e inícios dos anos 80.
Quase sem se dar por isso, ele começou a desaparecer e durante algum tempo andou muito discreto, longe da ribalta mas sem verdadeiramente parar.

Da mesma maneira que se manteve discreto, nos últimos anos reapareceu em grande e em força voltando aos palcos. Não perdeu os "velhos" fãs do início da sua carreira e conquistou e eu diria surpreendentemente, novos fãs no sentido das faixas etárias do jovens adultos.
Tal como Quim Barreiros tornou-se um dos músicos mais bem amados por parte da população estudantil, participando em variadas semanas académicas.

Manteve-se igual a ele próprio. Polémico e algo desbocado. São famosas as suas afirmações acutilantes e irónicas.

"Se o Rui Veloso é o pai do rock português, eu sou a mãe."

E uma das minhas preferidas,que verdadeiramente concordo além de ser deliciosa -

"Gostava que não reparassem só no mau (…). De qualquer forma, o meu pior é muito melhor do que o melhor do Tony Carreira."

José Cid tem um ódio de estimação a Tony Carreira, afirmando que está acima dele a qualquer nível.
Que adoraria cantar com ele. Cid com o piano, Tony com a guitarra. Sem bailarinas, sem grandes luzes. Apenas um palco. E remata dizendo que o difícil seria Tony aceitar.

Para todos efeitos José Cid é um senhor da música portuguesa.
Abriu portas a novos estilos musicais, soube navegar por entre diferentes marés. Como quem diz, é um músico ecléctico de forte influências jazzísticas e rockeiras. Particularmente rock alternativo e gótico que está a caracterizar os seus mais recentes trabalhos.
Sabe saltar de estilo em estilo e divertir-se com isso. Mas levando sempre a música a sério.




Com pouco mais de 45 anos de carreira, o tema para este fim de semana diz isso mesmo - Nasci para a Música.
Quando escrevi que fui ao baú das memórias é verdade. Esta canção surge em 1978 e é uma das que mais gosto de dele.
Também gostava de ter nascido para a música. Sério que gostava. Na verdade até nasci para a música, mas foi mais para gastar dinheiro nela...

Uma última nota. O nosso amigo José Cid que está de novo com uma pedalada enorme, cheio de energia, está a poucos meses de fazer...73 anos!
Nasceu a 4 de Fevereiro de 1942. Ah pois é!


Bom fim de semana :)




Música, eu nasci prá música
Para te ver sorrir e a sonhar
E se escutares com atenção
Tens o bater do teu coração
Na minha música

Recordo-me hoje vagamente
De quando era criança
Vivia numa vila linda à beira Tejo
Tinha uma namorada loira
E os amigos da escola
Sexta-Feira Santa dia no cortejo
E o meu pai dizia filho quando fores maior
Tens que ser um engenheiro ou Doutor
Qual Doutor dizia eu
Que mau Doutor seria
Quero é cantar numa telefonia

Música, eu nasci prá música
Para te ver sorrir e a sonhar
E se escutares com atenção
Tens o bater do teu coração
Na minha música

Quando entrei para o liceu
Comecei a tocar
O Jazz, a Bossanova, o Blues e o Rock and Roll
O António, o Marco e Michael
Eram os mil cento e onze
Os Beatles, o Elton John, Bob Dylan e os Rolling
Stones

E o meu pai dizia filho
Tens que usar gravata
Vê mas é se ganhas tino e juizinho
De blusão e de Blue Jeans igual a James Dean
Já mordia cá por dentro esse bichinho

Música, eu nasci prá música
Para te ver sorrir e a sonhar
E se escutares com atenção
Tens o bater do teu coração
Na minha música

Música, eu nasci prá música
Para te ver sorrir e a sonhar
E se escutares com atenção
Tens o bater do teu coração
Na minha música

Na minha musi
Minha musi
Minha música


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

cinco segundos


Muito recentemente comprei Spark of Life. O mais recente trabalho do trio do pianista polaco Marcin Wasilewski para a ECM. Tem como convidado especial que participa em algumas faixas, o saxofonista sueco Joakim Milder.
Quando o fui ouvir pela primeira vez, fiquei à espera deles.


E no início é o silêncio. Cinco segundos de silêncio.
O suficiente para nos pôr impacientes porque o raio da música que comprámos ainda não começou, ou, para quem conhece estes cinco segundos, é o tempo que precisamos para nos prepararmos para ouvir o cd que comprámos ou que queremos revisitar.
É precisamente este o objectivo do alemão Manfred Eicher e da sua etiqueta ECM.

São cinco segundos brancos e puros. Um compasso de silêncio para criar um espaço vazio à nossa volta. Uma abstracção ao meio ambiente que nos rodeia. Um silêncio que expurga a realidade dela própria.
O necessário mas breve retiro espiritual para que a nossa atenção se concentre no que é importante. A obra que alguém criou a pensar em nós e cuja dedicatória vamos ouvir.

É extraordinário que alguém (Manfred Eicher) tenha pensado em silêncio e objectivamente o tenha concretizado e massificado num cd como um prólogo à música. Pelo menos desde 1990 que o faz.
Faz recordar aquele breve compasso de espera que um maestro e a sua orquestra fazem antes de iniciar o seu concerto, a famosa frase "silêncio que se vai cantar o fado" ou as bem conhecidas e ainda hoje utilizadas pancadinhas de Molière. Todas elas anunciando que brevemente algo de sublime vai acontecer.

Por isso, no início de um cd da ECM, perante esses cinco segundos de silêncio, fechem os olhos e curvem ligeiramente a cabeça. 
Sintam o seu toque, a sua envolvência, intimidade e preparem-se para o que de melhor eles anunciam: música.




terça-feira, 2 de dezembro de 2014