Quando por vezes o meu espírito reclama paz e tranquilidade, recorro frequentemente a esta música.
Quer o tema, quer o álbum a que ele pertence chama-se Braço de Prata e é o terceiro trabalho a solo de Tim. Foi lançado em Novembro de 2008.
Apreciem :)
Texto previamente publicado na revista de artes online Textualino
Dance, dance, otherwise we are lost.
Pina Bausch
Pina Bausch entrou um pouco por acaso na minha vida ao ver uma dança sua nos Encontros Acarte da Gulbenkian em 1989.
Foi em 1994, numa associação entre Lisboa - Capital Europeia da Cultura e a Gulbenkian, mais uma vez através dos Encontros Acarte e já bem mais consciente da importância dela e do seu trabalho que assisti às suas obras mais emblemáticas: Café Müller, Kontakthof e Sagração da Primavera.
Voltaria a reencontrá-la precisamente há dois anos atrás em 2008 no CCB no Festival Pina Bausch.
A dançar é delicada, quase débil e muito espectral com os seus longos braços e corpo longilíneo. Fora dos palcos, o seu rosto tinha aspecto triste e ar distante, quase vazio. Era reservada, tímida e introspectiva.
Philippine Bausch, Pina Bausch para o mundo, nasceu a 27 de Julho de 1940 e morreu a 30 de Junho de 2009, com 68 anos, cinco dias após lhe ter sido diagnosticado um cancro do pulmão, fruto certamente dos cigarros que invariavelmente se fazia acompanhar.
Pina Bausch dançou a vida, o quotidiano com os seus objectos e os sentimentos e emoções que o acompanham.
Na sua dança encontramos o amor, a solidão, a nostalgia, a alegria, a necessidade. Tudo aquilo por que uma vida humana se pauta.
Era através da observação das actividades diárias, do comportamento humano que muitas vezes ia buscar inspiração para as suas obras.
As suas coreografias escapavam e quebravam os cânones da dança. É uma dança fragmentada, teatralizada, nervosa, frequentemente obsessiva, com gestos repetidos vezes sem conta.
É uma dança onde tudo serve para o bailarino se exprimir, onde nada parece ter sido deixado ao acaso.
Até a respiração dos bailarinos parece ter um propósito e não apenas um resultar da exigência física da dança em si própria.
À energia súbita e repentina são frequentemente contrapostos os silêncios e as pausas.
Utilizava o corpo dos seus bailarinos não só como o natural instrumento de dança mas também como uma tela cujas formas devem ser expostas e/ ou sugeridas.
Através de Wim Wenders e de Pina, entramos profundamente, não na vida de Pina Bausch - Wim Wenders mantém a reserva da privacidade que lhe era tão cara - mas sim na sua obra.
Este projecto estava planeado para ser feito conjuntamente entre a coreógrafa e o realizador, mas com a morte desta, Wim Wenders hesita na continuidade dele, mas tendo-o retomado a pedido da família e amigos de Pina Bausch.
Na ausência da mentora do Wupperthal Tanztheater, são os bailarinos da sua companhia que nos mostram e nos introduzem na sua obra ao fazerem apresentação deles enquanto bailarinos e ao descreverem experiências e contactos que tiveram com ela.
Percebemos que Pina Bausch era uma mulher de poucas palavras, enigmática, afectuosa, atenta e capaz de dizer a palavra certa na altura certa.
Através da câmara de Wim Wenders entramos e tornamo-nos, sem no entanto o invadirmos, íntimos do mundo de Pina Bausch.
Um mundo belo, tenso e intenso. Um mundo feito de quotidiano, de movimento e de palavras.