sábado, 22 de setembro de 2012

Outono, esperei um ano inteiro por ti


Para muitos é o fim do calor, o início das sombras, dos dias tristes, das noites frias e longas, o pré-anúncio do Inverno.
Longe disso!


Eu vejo o Outono como a estação das cores quentes e suaves. 
É a estação dos laranjas, dos vermelhos, dos castanhos e dos amarelos.
É quando a natureza acorda, espreguiça-se e solta-se do torpor e abrandamento que a canícula do verão impõe.
É quando o colorido da queda das folhas esconde o cinzento do alcatrão das ruas e estradas e a monotonia das colinas forradas por folhas verdes é substituída pelas esplendorosas cores outonais das mesmas folhas. 
A luz do dia é mais bonita e suave, as neblinas são mais frequentes e conferem tons de mistério às cidades, aos parques, aos edifícios. 


Eu vejo o Outono como a estação dos sentidos. 
O aroma a terra - o melhor perfume do mundo! - que se liberta, quando as primeiras chuvas caem e arrastam as poeiras suspensas no ar para o chão, o cheiro das castanhas assadas, quentes a saírem dos assadores ou então as nuvens de vapores carregados do aroma de erva doce que nos inunda mo nariz quando destapamos a tampa de uma panela de pressão onde elas foram cozidas.
É altura do aroma a mofo que a roupa solta quando sai da escuridão prolongada das gavetas onde estiveram escondidas e fechadas durante vários meses e nos diz que uma nova estação chegou.

São os fabulosos sons do restolhar das folhas caídas no chão quando são pisadas, os sons da chuva que cai nos vidros da nossa casa e o estalar dos troncos que ardem na lareira. 
As cascatas começam a cantar alegremente as suas melodias nas encostas montanhas e os rios vão acordando da sua entediante secura.
Redescobrem-se sabores que se comem à dentada. As maçãs redondas, a pêra alongada, os elegantes cachos de uva, as castanhas que cabem na palma da mão, as pesadas abóboras e as laranjas e tangerinas de gomos bem desenhados e finos. Delícia!


Eu vejo o Outono como a estação da libertação.
Libertamo-nos do calor sufocante que faz colar a roupa à pele húmida, do cansaço que nos assola e torna os nosso passos pesados e lentos,
Libertamo-nos da tirania dos ares condicionados, libertamo-nos das noites mal dormidas, dos interiores tórridos dos carros estacionados ao sol,
Libertamo-nos dos óculos escuros que nos protegem do brilho agressivo da luz veranil e as praias reganham a sua quietude e sossego e o mar canta só para nós.


Outono é poesia e música. Celebram-se as colheitas. É confortável e aconchegante. É a preparação para o Inverno. É a calmia antes da tempestade. É a melhor estação de todas.

Ele chegou hoje. Estava a ver que nunca mais vinhas. Esperei um ano inteiro por ti Outono. :)))





uma música para o fim de semana - Jorge Fernando


Desespero atraiu-me logo da primeira vez que a ouvi. 
Atraiu-me a complexidade da letra, a elegante economia das notas da sua música e acima de tudo, por dar primazia a aquilo que mais define uma canção, a voz. Ou mais particularmente, as vozes.

É um fado. Sofisticado de sonoridade muito rica e invulgar, que incorpora em si outros géneros musicais. Um fado que soube dar um passo em frente, que quebrou estereótipos e soube escapar ao lado fácil, ligeiro e comercial que caracteriza o fado que se ouve nas rádios.

João Fernando é nome e voz consagrada no meio musical do fado. Autor e compositor, trabalhou vários anos lado a lado com Amália Rodrigues. 
Lançou no passado 10 de Setembro o seu trabalho mais recente Chamam-lhe Fado, onde se encontra o tema Desespero que lança o álbum.
Vai estar em concerto nos dias 5 e 6 de Outubro, respectivamente no Coliseu de Lisboa e Porto.

Desespero talvez seja uma das músicas em língua portuguesa mais interessantes que foram aparecendo por aqui, nos fins de semana da Esteira.

Embarquem na extraordinária letra e depois deixem-se ser guiados pelas grandes e bem distintas vozes de João Fernando, Virgul e Dino D'Santiago.


Desespero
O mar turva-se aos meus olhos 
porque o céu amua com a terra e entristece.

Desespero
Roça a minha fantasia
a língua da serpente e o meu céu não amanhece.

Rasga a sede do meu sonho 
toma-me em teus braços nos instantes do delírio.
Rasga o ventre do teu dono 
com a sinfonia nos compassos do martírio.

Salva-me, amor salva-me.
Estrela sensual que o meu céu seduz.
Amor salva-me, vem e salva-me.

Olhar tropical
que ao meu olhar dá luz.


Bom fim de semana :)




quarta-feira, 19 de setembro de 2012

ao meu dono


Olá Dono :)

Faz hoje um ano que parti :(. Foi muito difícil para ti mas fizeste bem deixares-me ir. Aquela coisa feia eu que tinha dentro do meu focinho não me deixava respirar e não me deixava dormir. Dormia e respirava muito mal e muitas vezes só melhorava quando estavas comigo.
Já andava muito cansado e era para mim difícil levantar e andar. Além que já estava surdo e já não ouvia a tua voz.
Passei quinze anos ao teu lado :))).

Agora estou num sítio muito bonito, o Céu dos Cães. Tenho grandes prados para correr, erva para comer e cheirar, muitas árvores para alçar a minha pata, paus para agarrar e montes de gatos e outros cães para brincar.
Ah, e também tenho bué de bolas de todos os tamanhos e feitios para correr e saltar atrás delas. Algumas têm apitos. Tão fixeeeee!!!

Sabes, encontrei um menino que há muitos anos não via e com quem gosto muito de brincar. Não pára quieto :))). Às vezes eu quero dormir e ele está sempre acordar-me para brincar tal como tu fazias quando eu era cachorro. Também encontrei o avô Joaquim e a avó Bé.
Ainda continuam a dar muitos mimos, "bifes" e faço-lhes muitas festas.
Eu tomo conta deles e eles de mim. Estamos todos juntos.


Sei que muita vezes pensas em coisas que me fizeste. Quando perdias a paciência comigo, quando me ralhavas e te zangavas comigo, ou ainda quando me davas comer que eu não gostava e eu me fazia difícil para comer.
Não te preocupes com isso dono, não estou chateado ou aborrecido contigo por essas pequenas coisas. O meu coraçãozinho de cão não sabe o que essas coisas. Isso de estar chateado contigo não existe.
Para mim o que importava eram as tuas festas, poder estar ao teu lado, brincar contigo, abanar a cauda quando chegavas e ajudar-te a passar os momentos maus que de vez em quando tinhas.


Gostei de ver o teu rosto enquanto e sentir a tua mão no meu focinho, no meu último dia contigo enquanto os meu olhinhos se fechavam e o meu coração parava suavemente.
Agradeço-te tudo quanto me deste e quanto fizeste por mim. Teres estado sempre ao meu lado.

Hoje sentes ainda mais a minha falta e estás muito triste por não estar aí contigo. Não fiques dono, estou num sítio bonito e sem tu saberes, sem tu veres, eu  vou muitas até aí para ver como tu estás e saber se estás a portar bem.

Mando-te uma fotografia de nós dois. Estava muito feliz aqui, eu estava com o meu dono. A pessoa que eu mais gostava no mundo.




Auf, auf
Thor