Gosto muito de GNR, gosto muito de Xutos & Pontapés, gosto muito de Sétima Legião, mas quanto a Madredeus eu tenho uma paixão.
E essa paixão deve-se para além dos arranjos musicais de Pedro Ayres de Magalhães, um dos mentores do grupo, mas acima de tudo deve-se à voz de Teresa Salgueiro. Ela é os Madredeus.
Quando em Novembro de 2007, anuncia a sua saída dos Madredeus, para mim foi igualmente o anúncio do seu fim.
Pedro Ayres de Magalhães tenta dar a volta à situação e cria a Banda Cósmica. Os músicos são os mesmos mas tem novas vozes femininas. Mas em 2010 esta formação vê os seus dias terminar. Hoje em dia, Pedro Ayres de Magalhães tenta trazer de novo os Madredeus à ribalta, mas mais uma vez sem a voz de Teresa Salgueiro certamente que lhes faltará a sua verdadeira essência, a sua verdadeira natureza.
Há n canções dos Madredeus que poderia escolher para este fim de semana mas opto com facilidade por Haja o que Houver.
É um tema extraordinário. Tem tudo aquilo que gosto nos Madredeus: a beleza e a candura da voz de Teresa Salgueiro e a delicada sonoridade dos instrumentos tocados.
É uma letra que acredita em regressos, no voltar. Aqueles cujos finos e invisíveis fios de prata une não estarão verdadeiramente separados e que o destino, a união, se cumprirá.
Não deixa de ser espantoso que os bancos que foram as instituições que precipitaram, que deram e continuam a dar origem a uma crise global cujo fim ainda está longe e onde possivelmente o pior ainda estará para vir, tenham que ser os primeiros a serem resgatados deixando tudo o resto a arder.
Ver Meia-Noite em Paris foi como fazer as pazes com Woody Allen. Não porque nos tivéssemos zangado, mas sim porque me distraí de seguir o seu trabalho.
Não vi Matchpoint, Scoop, Sonho de Cassandra e Vicky Cristina Barcelona.
Meia-Noite em Paris é uma ode e uma carta de amor a esta cidade e uma época, a da Idade de Ouro dos anos 20 do século passado.
Woody Allen filma Paris de uma maneira terna e sem pejos recorre a clichés.
Mostra tudo o que a cidade tem para oferecer - a Torre Eiffel, Sacré Coeur, Notre Dame, Versalhes, o rio Sena, a ponte Alexandre Terceiro - como se tratasse de postais enviados para as caixas de correio do mundo inteiro.
De dia vemos as cores suaves em tons de pastel, à noite as cores são douradas, quentes e românticas, convidativas à imaginação, ao sonho e à magia dos anos 20 quando os bares, os cabarets e clubs nocturnos de Paris se transformam numa imensa tertúlia borbulhante de criatividade onde encontramos gigantes da literatura e artes como Hemingway, Gertrude Stein, Salvador Dali, Cole Porter, Scot Fitzgerald, Picasso, Luís Buñuel, Degas e Gauguin.
É com este mundo dos anos 20 de Paris, que o argumentista Gil Pender (Owen Wilson) - um surpreendente e perfeito alter ego do gesticulante e neurótico Woody Allen - se identifica e até sonha viver e conviver os seu ídolos literários.
Decidido a deixar de escrever argumentos para se dedicar à escrita de romances, sabe que encontrará em Paris a aura e a motivação que precisa para o fazer.
Uma noite após uma discussão com a sua noiva, a superficial Inês (Rachel McAdams) pouco dada aos devaneios literários de Gil e que não compreende o seu fascínio por Paris, este parte para um passeio nocturno pelas margens do Sena e à meia noite é abordado por um velho táxi. É convidado a entrar nele pelo famoso escritor norte americano Scot Fitzgerald e sua mulher Zelda.
Através deste táxi e do casal Fitzgerald, Gil franqueará à noite as portas da magia de Paris e entrará no seu mundo de sonho.
Se Owen Wilson surpreende completamente com Gil Pender, Kathy Bates, Corey Stoll e Marion Cotillard são extraordinários respectivamente como Gertrude Stein, Ernest Hemingway e Adriana, a bela modelo de Picasso e por quem Gil se apaixonará.
Vê-se que Woody Allen dedicou-lhes tempo e diálogos para os consolidarem como personagens e através deles percebermos as suas personalidades.
Pelo contrário Salvador Dali por Adrien Brody e Luis Buñuel por Adrien de Van parecem demasiado caricaturais e pouco consistentes. Especialmente o primeiro.
Pouca ou nenhuma atenção é dada a personagens como Man Ray, Matisse, Degas, Gauguin e outros que surgem esporadicamente. Fica-se com água na boca por não se conhecer mais sobres eles. São pouco mais que nomes no ecrã.
É este o único senão da excelência que caracteriza Meia-Noite em Paris, a excepção que confirma a regra. Há uma enorme constelação de nomes da cultura universal - poderiam ser menos e em contrapartida a sua caracterização ser mais enriquecida, o que nos permitisse conhecê-los melhor - que obriga por parte de quem vê o filme a ser minimamente conhecedor das suas personalidades e das suas obras ou ter alguém ao seu lado que vá soprando umas dicas de quem é quem e o que fez.
Caso contrário uma das partes mais bonitas e fascinantes do filme ficarão diluídas no desconhecimento.
Tal como a cidade que retrata, Meia-Noite em Paris é um filme extraordinário e pleno de magia.
Foi um grande reencontro que tive com Woody Allen.