sábado, 11 de setembro de 2021

vinte anos de 11 de Setembro de 2001 - alguns números


Vinte anos em que o impossível aconteceu, mas por muito que veja as imagens na televisão, continua a parecer impossível que tenha acontecido.

Nos grandes acontecimentos, usualmente estão também ligados grandes números e consequências. que se prolongam no tempo. 
Os números do 9 de Setembro, são naturalmente pesados. 2799 pessoas das quais 344 bombeiros, 71 polícias e 55 militares, morreram neste dia. Cinco portugueses estavam entre as vítimas. Estima-se que entre 75% a 80% das mortes sejam homens. 
A vítima mais nova tinha dois anos e a mais velha tinha 85 anos. Ambos iam a bordo nos quatro aviões que foram desviados por 19 sequestradores.
Apenas cerca de 60% das vítimas destes actos terroristas estão identificadas. Aproximadamente 80000 pessoas terão participado em todas as operações (resgate e limpeza) que envolveram os acontecimentos do 11 de Setembro.

Até aos dias calcula-se que cerca de 18000 de outras pessoas, sofrem ou morreriam anos mais tarde devido a doenças causadas pela poeira tóxica que pairou no ar. Nomeadamente: dores de cabeça e tosses crónicas, asma, bronquites, rinites, problemas intestinais, leucemias, fibroses, cancros pulmonares, rins e outras formas de cancro. 
Acredita-se que em 2018, o número de pessoas que morreram por exposição à nuvem nociva terá ultrapassado o número de mortes directamente associadas aos atentados.

9.3 mil milhões de dólares é o valor que as seguradoras terão gasto nas indemnizações de pessoas e empresas que estiveram envolvidas nos eventos que ocorreram há vinte anos.




sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Luto parental - transcendendo as querelas políticas


A petição da Acreditar sobre o alargamento do luto parental e o projecto de lei apresentado pelo PAN, nesse mesmo sentido, parece ter sido bem acolhido pelos líderes dos partidos que constituem o parlamento. Mas nem só a questão do luto parental vê o seu periodo alargado.

Situações como o falecimento do cônjuge, pais e mães, noras e genros, têm o período alargado para 15 dias, e a perda gestacional, antes dos três meses de gestação e após este tempo, verão o período de luto significativamente alargado. Respectivamente quinze e vinte dias.

É uma questão não só de justiça, mas é muito mais uma questão bom senso e a cima de tudo de sensibilidade perante violentas perdas emocionais.

Para além do PAN, segundo o Observador, estas são as reacções dos diversos líderes políticos à proposta:


Ana Catarina Mendes, líder parlamentar do PS, indicou à TSF que o alargamento do luto parental é “justíssimo” e anunciou que o Partido Socialista também vai apresentar com uma iniciativa legislativa.

Jerónimo de Sousa manifestou a mesma intenção que o PS, considerando a questão “muito sensível”, segundo a Agência Lusa. “Vamos agarrar nessas propostas, vamos atualizá-las e naturalmente participar nesse debate com esta ideia de que todos estamos de acordo, com a pertinência da proposta tendo em conta os seus objetivos e dimensão, lá estará o PCP.”

Catarina Martins disse que a lei atual é “cruel” e que o BE já tem um “projeto de lei pronto” para esta questão. Salientou ainda que “ninguém faz um luto de uma criança em cinco dias, também não fará em 20”, mas considerou importante “que as pessoas possam ter algum tempo para recuperar.”

Rui Rio afirmou estar “de acordo que se olhe e que se faça uma graduação” da lei “com sentido de justiça e de humanidade”.

Francisco Rodrigues dos Santos está “plenamente de acordo” com o alargamento do luto parental. “Se o Estado tiver a humanidade e a sensibilidade de dar a esses pais [que perderam os filhos] mais algum tempo para se reerguerem e poderem retomar as suas vidas com o mínimo de dignidade, deve dar-lhes essa ajuda”, reforçou o líder do CDS-PP.

Muito bem. Muito bem mesmo.


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Luto parental - o luto de uma vida não cabe em cinco dias


Luto parental. O objectivo é passar dos actuais cinco dias de luto para vinte dias para que se possa...abrandar o desespero, para respirar melhor, sem soluçar.
A iniciativa do lançamento desta petição é da Acreditar.

"Os pais que vivem a perda de um filho vivem o luto de uma vida – a vida que partilharam e a vida que se ficou pelos sonhos e pelos planos. Para estes pais, o Estado contempla 5 dias de luto.
Considerado como uma das experiências mais traumáticas para o ser humano, o luto parental é um processo intenso, complexo e que pode durar uma vida.
5 dias é um tempo manifestamente insuficiente. A petição que lançamos visa alargar o período de luto pela morte de um filho para 20 dias."



Assinem aqui. Explorem o site, explorem o tema. Leiam o que está em causa, leiam os testemunhos para perceberem (para quem tem o privilégio de não saber) o que está em causa: o inimaginável, o que não se explica, o que só se sente.







quarta-feira, 8 de setembro de 2021

A Luz da Ásia de Edwin Arnold - de Siddhartha a Buda

Tal como ouvir música, adoro ler. Talvez sejam das coisas que mais gosto de fazer na vida.
O que mais me agrada, quer numa quer na outra, é a grande capacidade de nos transportarem para formas diferentes de verem o mundo, de o sentir, de o interpretarem, ou de o reinterpretar. Os temas a que se dedicam são tão vastos quanto aquilo que queiramos e a personalidade que neles é investida reflecte naturalmente a personalidade de quem neles coloca a sua alma e a sua experiência de vida

Acabei muito recentemente de ler As Notas de um Velho Nojento do alemão Charles Bukowski que nos faz mergulhar num obscuro, underground e desagradável sub-mundo dos excessos, dos vícios dos bares mal iluminados, do álcool, das apostas, das mulheres fáceis e das suas vidas desesperadas, forçadamente superficiais. 
Depois, logo a seguir, quase no imediato a este livro, li A Luz da Ásia. A diferença entre ambos dificilmente poderia ser maior.

A Luz da Ásia é escrito por Edwin Arnold, um poeta e jornalista Britânico, tendo sido chefe editor do Daily Telegraph durante várias décadas.
Se a literatura do alemão nos mergulha numa decadência muito física, a do britânico eleva o nosso espírito à luz. 
A Luz da Ásia, publicado pela primeira vez em 1879, retrata o percurso do príncipe indiano Siddartha, Gautama, filho da rainha Maya e do rei Suddhodana. Desde o seu muito auspicioso e nobre nascimento até ao momento final em que atinge o estado supremo da Luz e da Verdade ao tornar-se Buda.

Seguimos o seu percurso enquanto homem que nasce e casa com uma bela mulher (Yashodhara) da qual tem um filho (Rahula). Vive num opulento palácio rodeado das mais belas riquezas, num ambiente em que não há dor, tristeza ou sofrimento, isolado do mundo, até ao momento em que decide partir do seu palácio para contactar com a realidade que lhe era negada, sentindo um apelo, um chamamento e um dever para cumprir a missão para a qual sabe que nasceu: a procura da Verdade e da comunhão com o Universo, que será atingida ao encontrar-se primeiramente com a jovem Sujata de Senani e depois ao sentar-se e meditar debaixo da figueira sagrada bodhi em Bohd Gaya

Siddartha abdica da sua elevada casta, dos bens materiais que lhe toldam o espirito, para se tornar um mendigo, alguém que vive da comida que lhe oferecem numa tigela e que pratica a meditação como meio de alcançar, compreender e atingir a Luz.
No último capitulo, o oitavo, estamos na presença de Buda e assistimos em primeira mão ao seu sermão onde estabelece um caminho, a essência do budismo, para o homem normal poder igualmente alcançar o supremo: os Cinco Preceitos, as Quatro Nobres Verdades e o Caminho Óctuplo.

Todo livro é uma glorificação da vida física e espiritual (e lendária) de Siddartha. Para quem, como eu, o budismo faz todo o sentido e tem uma certa identificação com o mesmo, o livro é extremamente interessante. Tem um bom ritmo, sendo uma excelente introdução à religião budista, mas também à cultura (e mitologia) indiana, lendo-se de rajada. 
No fim percebemos o quanto é diferente a religião cristã do budismo. Se a primeira tem fundamentos na dor, no sofrimento, no castigo e na existência de um Deus e do seu filho, o budismo procura a compreensão, a verdade, o despojamento dos bens materiais, a protecção dos seres vivos e como tudo isto reside no interior de nós próprios e também por nós pode ser alcançado, sem requerer a presença ou adoração a um Deus, quebrando o ciclo das sucessivas reencarnações.

Uma curiosidade. Consta que o título inicial deste livro seria A Luz do Mundo, mas para não entrar em colisão com as fortes e enraizadas convicções cristãs da época, o título foi alterado para um mais aceitável e consensual Luz da Ásia. Cristianices...