sábado, 16 de setembro de 2017

uma música para o fim de semana - Da Chic


É o último fim de semana do verão. A estação da superficialidade, da efemeridade, da inconsequência e dos amores que não se prolongam.
Dos corpos que se trabalham durante meses para serem exibidos durante semanas

As músicas de verão são também isso mesmo: são fáceis, "orelhudas", duram tanto tempo quanto uma mini se bebe debaixo de um chapéu de sol, numa qualquer esplanada batida pelo fim de tarde numa praia, ou um bronzeado que desaparece ao fim de duas semanas.

Cal Me Foxy de Da Chic, o alter-ego musical de Teresa Sousa, é pensado para o verão.
Música electrónica dançável, cantada em tom anasalado, num loop repetitivo de funk e hip hop, sem grandes preocupações sonoras, que não que seja a de entrar na cabeça.
A letra não é variada e certamente não foi por pensar nos seus versos que Da Chic deixou de dormir.

Sei que foi um hit de verão porque entrou na minha cabeça. E se uma música destas entrou na minha cabeça dura e surda para este género de musical, só pode por ter sido um sucesso e ter andado no air play das rádios durante algum tempo.
Na Antena 1 garantidamente que sim, porque foi por esta estação, uma das minhas praias FM preferidas e constantes ao longo do tempo, que soube que Da Chic existia.

Agora no fim do verão, ela vai desaparecer e para o ano será substituída por outra inconsequência musical veranil.
Em jeito de requiem para o moribundo verão, oiçamos Call Me Foxy. Um discreto abanarzeco de cabeça não fica mal de todo.


Bom fim de semana ☺





quarta-feira, 13 de setembro de 2017

sewage surfer


Esta fotografia à semelhança da de ontem é também uma finalista do concurso Wildlife Photographer of the Year deste ano.
O seu autor chama-se Justin Hofman

Mas o significado é o oposto. Esta não tem beleza.
Esta é um grito, é um choro do nosso planeta.

Um dos mais elegantes, mais delicados e mais finamente talhados pela natureza, habitantes do nossos oceanos, o cavalo marinho, agarra-se a uma âncora para se estabilizar e deixar-se ir ao sabor da corrente no recife Sumbawa Island, na Indonésia.

Tudo bem se não fosse um cotonete, tudo bem se não fosse plástico, tudo bem se não fosse lixo humano deitado ao mar, ou que chega ao mar.
Em condições normais, um cavalo marinho agarra-se a uma alga, navega ancorado numa.

Esta fotografia não tem nada de belo. É profundamente triste, revoltante, negra.
Uma imagem tenebrosa daquilo que estamos a fazer ao nosso planeta, à nossa casa.

Justin Hofman, deu um nome apropriado à fotografia: Sewage Surfer.
Traduzindo à letra será Surfista do Esgoto.

Na verdade é um navegante do lixo. Do nosso lixo, do lixo que não pertence ao mar.





terça-feira, 12 de setembro de 2017

artic treasure


É assim que se chama esta espantosa fotografia de Sergey Gorshkov. Ela é uma das finalistas do concurso Wildlife Photographer of the Year deste ano.

Uma raposa do árctico segura na sua boca um ovo, o seu tesouro árctico, e lava-o para a sua toca.
Os castanhos do seus olhos é quase o único de toque numa fotografia que parece ser a preto e branco mas que não é.




segunda-feira, 11 de setembro de 2017

um poema de... Wislawa Szymborska (sobre o 11 de Setembro de 2001)


De tudo o que vejo sobre o 11 de Setembro, o que mais me impressiona são os Jumpers, os que saltaram das janelas.
Quando os vejo, em fotografias, em vídeos, grito-lhes sempre:

NÃO SALTEM,
NÃO SALTEM,
NÃO SALTEM!!

Mas eu não sei o que é estar desesperado.
Não sei o que eles passaram, para terem que escolher, decidir entre a morte certa e a morte garantida.
Não os compreendo, porque não consigo imaginar o que é estar pendurado numa janela e de um lado ter gritos, fumo que queima a garganta, calor que retira a esperança e do outro ter centenas de metros de ar fresco, de azul, de espaço livre.

Há dezasseis anos que penso neste dilema e há dezasseis anos que não consigo responder.
Não pretendo encontrar uma resposta, mas também não consigo de deixar de pensar nele.
E de os respeitar. E de os admirar.


Wislawa Szymborska, uma poetisa polaca, escreveu um poema sobre os Jumpers.
A eles dedico uma admiração sem limites, porque vai para além dos limites o que eles viveram.


Fotografia do 11 de Setembro

Atiraram-se dos andares em chamas.
Um, dois, ainda alguns mais,
mais acima, mais abaixo.

A fotografia deteve-os na vida,
preservou-os
sobre a terra rumo à terra.

Cada um ainda inteiro,
com rosto individual
e o sangue bem guardado.

Ainda há tempo
para os cabelos esvoaçarem
e do bolso caírem
chaves e alguns trocos.

Ainda estão no âmbito do ar,
ao alcance dos lugares
que acabaram de se abrir.

Só posso fazer duas coisas por eles:
descrever este voo
e não lhe acrescentar a última frase.


Wislawa Szymborska







série "estatísticas da vida" - CCXL


Não é só Listerine. Existem outras possibilidades.
Os Halls, principalmente os pretos, são à prova de... disso! ;)