De tudo o que vejo sobre o 11 de Setembro, o que mais me impressiona são os Jumpers, os que saltaram das janelas.
Quando os vejo, em fotografias, em vídeos, grito-lhes sempre:
NÃO SALTEM,
NÃO SALTEM,
NÃO SALTEM!!
Mas eu não sei o que é estar desesperado.
Não sei o que eles passaram, para terem que escolher, decidir entre a morte certa e a morte garantida.
Não os compreendo, porque não consigo imaginar o que é estar pendurado numa janela e de um lado ter gritos, fumo que queima a garganta, calor que retira a esperança e do outro ter centenas de metros de ar fresco, de azul, de espaço livre.
Há dezasseis anos que penso neste dilema e há dezasseis anos que não consigo responder.
Não pretendo encontrar uma resposta, mas também não consigo de deixar de pensar nele.
E de os respeitar. E de os admirar.
Wislawa Szymborska, uma poetisa polaca, escreveu um poema sobre os Jumpers.
A eles dedico uma admiração sem limites, porque vai para além dos limites o que eles viveram.
Fotografia do 11 de Setembro
Atiraram-se dos andares em chamas.
Um, dois, ainda alguns mais,
mais acima, mais abaixo.
A fotografia deteve-os na vida,
preservou-os
sobre a terra rumo à terra.
Cada um ainda inteiro,
com rosto individual
e o sangue bem guardado.
Ainda há tempo
para os cabelos esvoaçarem
e do bolso caírem
chaves e alguns trocos.
Ainda estão no âmbito do ar,
ao alcance dos lugares
que acabaram de se abrir.
Só posso fazer duas coisas por eles:
descrever este voo
e não lhe acrescentar a última frase.
Wislawa Szymborska
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