sábado, 14 de janeiro de 2017

uma música para o fim de semana - Mozart


Um requiem é uma missa dedicada, uma homenagem aos mortos, aos defuntos. É pensada para desejar o eterno descanso, repouso - significado da palavra latina requiem - e a paz eterna ao defunto, e usualmente está presente nos funerais.
A sua estrutura está enraizada nos missais romanos e católicos, e os muitos que existem seguem de muito próximo essa estrutura.


Requiem aeternam; Kyrie eleison.
Sequentia, Dies Irae (O Dia da Ira):

Tuba mirum; 
Liber scriptus; 
Quid sum miser; 
Rex tremendae; 
Recordare; 
Ingemisco; 
Confutatis; 
Lacrimosa.

Domine Jesu Christe (Senhor Jesus Cristo).
Sanctus (Santo).
Agnus Dei (Cordeiro de Deus).
Communium, Lux aeterna (Luz eterna).
Libera me (Libertai-me).


Existem dois requiems que são de uma beleza e elegância estrema. O meu preferido é o requiem de Verdi e o outro que vem logo atrás é o de Mozart.

O de Mozart está envolto em várias curiosidades. A mais conhecida passa por a identidade de quem encomendou ao compositor austríaco ser desconhecida. Em Julho de 1791, uma pessoa envolta e tapada por um capuz fez o pedido a Mozart de compôr um missa dos mortos e pagou metade em avanço. Sabe-se que quem fez este pedido foi o conde Franz von Walsegg e que este era conhecido por se apropriar das obras de terceiros. O que não se sabe verdadeiramente é se o homem do capuz seria ou não o próprio conde.

O objectivo deste requiem era celebrar o primeiro aniversário da morte da mulher de Walsegg. Mozart sabendo disto, mas precisando do dinheiro, aceitou relutantemente.
Uma outra, é que a certa altura Mozart, um crente no ocultismo, acreditou que o requiem encomendado pelo encapuçado era para o próprio Mozart. E de facto, Mozart morreu a escreve-lo e não o deixou acabado. A sua mulher, Maria Constanze, afirmou que o compositor andava obcecado com a obra e que terá a mesma a causa da sua morte.

Para Constanze poder receber a parte em falta, ela pedido ao discípulo de Mozart, Franz Xaver Süssmayr para concluir o que estava em falta no requiem, adaptando o muito que já existia e compondo ele próprio o que não existia de todo, que nas palavras de Constanze seria realmente muito pouco, porque o Requiem estaria praticamente concluído por Mozart.

E de novo o mistério surge, pensa-se que não não terá sido apenas Süssmayr a participar na conclusão nesta missa dos defuntos. Pelos diferentes estilos que surgem nas secções em falta, outros compositores poderão ter participado neste requiem, mas não deixa de ser uma possibilidade e frequentemente contestada.
E há quem pense que a própria viúva de Mozart terá sido uma dessas pessoas, uma vez que esta conhecia muito o trabalho do seu marido e ela própria era compositora.

Uma das secções que Mozart largamente escreveu, mas que não chegou a acabar é o Lacrimosa, o último elemento do segmento Dies Irae.
O Lacrimosa de Mozart é um dos mais pungentes e mais belos que conheço. Rivaliza com o de Verdi.

E porque escolho o Lacrimosa de Mozart, como uma música para o fim de semana?
Porque nas exéquias de Mário Soares, esta peça foi tocada.


Bom fim de semana :)  😀




Lacrimosa

Lacrimosa dies illa,
Qua resurget ex favilla.
Judicandus homo reus:
Huic ergo parce, Deus.
Pie Jesu Domine,
Dona eis requiem. Amen.


Lágrimas

Dia de lágrimas, aquele,
No qual, ressurgirá das cinzas,
Um homem para ser julgado;
Portanto, poupe-o, ó Deus.
Ó, misericordioso, Senhor Jesus,
Conceda-lhe a paz eterna. Amém.


quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

um poema de... Álvaro Feijó


Os dois Sonetos de Amor da Hora Triste de Álvaro Feijó, foram os poemas que se ouviram a serem declamados pela voz gravada de Maria Barroso, no funeral que aconteceu ontem de Mário Soares no Mosteiro dos Jerónimos.

Não os conhecia de todo. São muito poderosos e ainda mais belos. São doridos e dolorosos de tanto saudosismo e romantismo que deles emana.
É de quem sente, de quem sentiu verdadeiramente a profunda emoção da despedida, da perda definitiva, numa esperança vã, mas esperança ainda assim, de que talvez não seja tão definitiva, tão eternamente perdida.
É um até já, para sempre.


I

Quando eu morrer - e hei de morrer primeiro
Do que tu - não deixes de fechar-me os olhos
Meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos
E ver-te-ás de corpo inteiro.

Como quando sorrias no meu colo.
E, ao veres que tenho toda a tua imagem
Dentro de mim, se, então, tiveres coragem,
Fecha-me os olhos com um beijo.

Eu, Marco Polo

Farei a nebulosa travessia
E o rastro da minha barca
Segui-los-á em pensamento. Abarca

Nele o mar inteiro, o porto, a ria...
E, se me vires chegar ao cais dos céus,
Ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus,


II

Não um adeus distante
Ou um adeus de quem não torna cá,
Nem espera tornar. Um adeus de até já,
Como a alguém que se espera a cada instante.

Que eu voltarei. Eu sei que hei de voltar
De novo para ti, no mesmo barco
Sem remos e sem velas, pelo charco
Azul do céu, cansado de lá estar.

E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação.
E não quero que chores para fora,
Amor, que tu bem sabes que quem chora

Assim, mente. E, se quiseres partir e o coração
To peça, diz-mo. A travessia é longa... Não atino
Talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem destino?