António Variações, barbeiro de profissão, que aprendeu em Amesterdão em 1976, nasceu em Fiscal, Amares, no ano de 1944.
Pouco compreendido na altura. Hoje sabe-se que ele foi um dos mais geniais músicos portugueses.
Era um homem bem à frente do seu tempo. Portugal não estava preparado para ele.
Não só pelos dotes de cabeleireiro, mas pela maneira como se vestia. A sua aparência excêntrica, o uso do brinco, a música que tocava, pela sua homossexualidade assumida e por ter sido a primeira figura pública nacional a morrer de Sida, se bem que as causas da sua morte tivessem sido disfarçadas sob a forma de bronco-pneumonia, uma consequência da Sida, do público em geral.
Foi através da sua morte que Portugal tomou conhecimento sobre a existência da Sida e esta entrou no vocabulário nacional.
Em Lisboa, no Hospital Pulido Valente, onde esteve internado, a autopsia foi feita com extremo cuidado.
Tudo o que lhe pertencia foi queimado, e o seu caixão selado. O seu corpo era considerado um caso de perigo para a saúde pública.
Durante a sua curta de vida de quarenta anos, dos quais dois anos como António Variações, lança dois álbuns.
Assinou pela Valentim de Carvalho em 1978. Mas esta editora, não compreendia bem a música de Variações e durante anos, o cantautor não editou nada. Teve que esperar até 1983.
É neste anos que é lançado o Anjo da Guarda, e no ano seguinte em 1984, ano em que morreria, sai o Dar e Receber.
Mais de trinta anos passados estes dois álbuns são referências na música nacional e são conhecidos por uma alargada faixa etária. Não só os que passaram pelos anos oitenta, como por aqueles, que, bem mais novos, ouviram António Variações pelos discos dos seus pais em casa, ou por uma estação de rádio.
Em 2004, forma-se a banda Humanos. O seu objectivo era pegar em inéditos do músico e dar-lhes visibilidade. E conseguiram.
Talvez pelos nomes sonantes que faziam parte: Manuela Azevedo, Camané, entre outros, mas muito mais devido ao desejo de se ouvir que o músico bracarense que tinha ainda para mostrar.
Não fui muito fã dos Humanos, mas do António Variações, sim. Por isso a música para este fim de semana, sai do seu segundo álbum e é um dos temas mais conhecidos do seu curto mas excepcional legado musical - Canção do Engate.
Talvez uma dedicatória a alguém muito especial para ele. Jelle Balder?? Fernando Ataíde??
Irrelevante! A letra celebra a aventura do amor, dos sentidos e da entrega. Venha de quem vier.
No passado dia de 3 de Dezembro, António Variações faria 71 anos.
Bom fim de semana :)
Canção do Engate
Tu estas livre e eu estou livre
E há uma noite para passar
Porque não vamos unidos
Porque não vamos ficar
Na aventura dos sentidos
Tu estas só e eu mais só estou
Tu que tens o meu olhar
Tens a minha mão aberta
À espera de se fechar
Nessa tua mão deserta
Vem que o amor
Não é o tempo
Nem é o tempo
Que o faz
Vem que o amor
É o momento
Em que eu me dou
Em que te dás
Tu que buscas companhia
E eu que busco quem quiser
Ser o fim desta energia
Ser um corpo de prazer
Ser o fim de mais um dia
Tu continuas à espera
Do melhor que já não vem
E a esperança foi encontrada
Antes de ti por alguém
E eu sou melhor que nada
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