"I am sitting in a room different from the one you are in now. I am recording the sound of my speaking voice and I am going to play it back into the room again and again until the resonant frequencies of the room reinforce themselves so that any semblance of my speech, with perhaps the exception of rhythm, is destroyed.
What you will hear then, are the natural resonant frequencies of the room articulated by speech. I regard this activity not so much as a demonstration of a physical fact, but more as a way to smooth out any irregularities my speech might have."
Assim começa I'm Sitting in a Room, a obra pivotal de Alvin Lucier.
Data de 1969 e é o resultado de gravações consecutivas da sua fala sobre ela própria. Há uma gravação original, a primeira que é declamada por si. Depois entra num ciclo de reproduções e gravações sucessivas, uma por cima da outra. É curioso ver como estas gravações sucessivas vão perdendo o "sentido" da sua fala e discurso, vão se degradando, evoluindo, reconstruindo-se de uma forma completamente nova. Uma paisagem sonora abstracta, ressonante e aparentemente amorfa, contudo musical, com certas frequências a tornarem-se "agressivas" enquanto outras se uniformizam-se, se esbatem. A sensação de espacialidade, de volume ocupado mas também de distância, está sempre em crescendo até ao fim deste trabalho.
Como objecto de experimentalismo é fascinante ouvir esta obra.
O MoMA (Modern Museum of Art) de Nova Iorque adquiriu I'm Sitting in a Room para sua colecção de arte sonora.
Aliás, a gravação que proponho para este fim de semana, é realizada numa sala do próprio MoMA.
Alvin Lucier, cuja formação musical de base é a música clássica, é um apreciador de jazz desde jovem. No entanto é com compositores como Merce Cunningham, Karlheinz Stockhausen, John Cage e David Tudor, que sofre e reconhece a influência e a importância que nele tiveram, apesar de depois ter percebido que o seu caminho teria um percurso diferente do deles. Tendo trabalhado com alguns destes nomes, terá sido com os dois últimos que trabalhou de uma forma mais próxima e cuja influência terá sido mais intensa.
O compositor clássico torna-se quase um cientista, um tecnológo, um explorador do som.
Sabe que as temperaturas ambientais, variações do volume do espaço, da acústica, a presença de pessoas, podem influenciar de uma forma determinante o resultado final de uma instalação, de uma paisagem, de uma peça sonora e respectiva gravação. Joga com enorme intuição e mestria essas mesmas variáveis para produzir novos resultados com as mesmas obras.
É isto que acontece com outra obra importante de Lucier, e igualmente reconhecida internacionalmente - Music on a Long Thin Wire - o título diz tudo sobre ela. Tata-se de uma instalação sonora onde um longo e fino fio é esticado ao longo de um determinado espaço, cujo som é captado por microfones quando este é colocado a vibrar.
Lucier escreveu que uma "audição atenta é mais importante que produzir sons."
Para quem ouviu o início de I'm Sitting in a Room, terá certamente reparado que Lucier gaguejou em certos trechos do texto, de facto o seu autor era mesmo gago. São as imperfeições do discurso que menciona no fim do referido texto.
Este compositor norte-americano, um dos mais relevantes experimentalistas e educadores da arte do som, morreu na quinta-feira passada, 02.12.2021, com noventa anos, vítima de uma queda.
Não sendo fácil apreciar, pelo menos num sentido clássico de música, a obra de Alvin Lucier, esta vale a pena ser explorada. Se pensarmos nela menos em termos de música, mas mais na perspectiva de som, de arte e de exploração sonora, que é de facto, ajude.
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