Ontem a propósito da comemoração do 123º aniversário do nascimento de Fernando Pessoa, encontrei no Facebook alguém que tinha lançado este poema de Álvaro de Campos.
É sobre cansaço. Não o fisíco, mas o da alma.
Aquele cansaço que vem de dentro, das entranhas, que torna a visão turva e o pensamento obscuro.
Aquele cansaço que não se aplaca e que pesa uma enormidade.
Aquele cansaço que não se aplaca e que pesa uma enormidade.
Não conhecia este poema. Grande pecado meu!
Aqui fica a minha redenção.
O que há em mim é sobretudo cansaço —
O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço. Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Cansaço...
Álvaro de Campos
09.10.1934
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