terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Grande Ecrã - O Lobo de Wall Street


Nunca vou ver um filme de Martin Scorsese a pensar que poderei vir a ver um mau filme ou um filme assim assim. E nunca saí de uma sala de cinema depois de ver um Scorsese com essa sensação.

O Lobo de Wall Street não foi excepção. Um filme tresloucado, com uns toques de comédia negra e de politicamente incorrecto, que Scorsese filme com um à vontade e jovialidade que talvez à priori não seria de esperar.

Conta a história verídica de um corrector, Jordan Belfort, pouco escrupuloso que desde cedo na sua vida, mostra uma grande aptidão para o dinheiro.
E quer ganhar muito, cada vez mais. Mas curiosamente não é bem a ganância do lucro que o motiva. É tudo aquilo que o dinheiro pode comprar.
Carros, casas, barcos, helicópteros, diversão, sexo, drogas, prazer a rodos. Leva uma vida devassa e gasta dinheiro como se não houvesse amanhã. E ter mais, cada vez mais não lhe chega.

E ao longo desta vertiginosa vida hedonista de Jordan Belfort, ao contrário do que seria de esperar, Scorsese consegue criar uma aura de simpatia e de empatia em seu torno.
É como se conseguíssemos compreender (e até desejar) o que o leva a ter esse comportamento exacerbado e portanto sai perdoado.

Há apenas um senão e que não é muito vulgar encontrar na filmografia deste realizador. É um filme muito linear, quase unidimensional.
Sabemos desde muito cedo a motivação do jovem Belfort e assistimos à sua fulgurante escalada no mundo de Wall Street.
Ele atraia as atenções e a certa altura um agente (Kyle Chandler) entra em cena para perceber a dimensão dos negócios do corrector. E de imediato surge a expectativa que vamos assistir a uma perseguição de gato e rato que verdadeiramente não acontece.
Naturalmente que esperamos que sejam dois homens iguais entre si, mas em lados opostos da cerca.
Mas sabemos muito pouco sobre este agente. E apenas esporadicamente assistimos ao seu despique com Belfort, o que é pena porque gostamos sempre ver os opostos a esgrimirem as suas melhores armas.

Desta maneira Scorsese falha uma desejada e motivadora tensão e dialéctica entre estes dois homens. Teria introduzido uma outra dimensão ao filme.
Por outro lado, sobra tempo suficiente para perceber os níveis de devassidão e de excessos da vida de Belfort e da sua equipa.

Naturalmente que Leonardo Dicaprio como Jordan Belfort impera. Tenho alguma dificuldade em vê-lo como um grande actor, mas admito que o seja.
Em certos momentos ele torna-se brilhante, quando ele nos olha directamente nos olhas e fala connosco, quando ele motiva as suas tropas. Verdade seja dita o filme é todo dele, se bem que o seu principal parceiro de negócios e colega de loucuras, Donnie Azoff, muito bem desempenhado por Jonah Hill lhe dê um suporte considerável.

Scorsese com imaginação, (alguma) subtileza e inteligência introduz poder, sexo, nudez, drogas, ganância, a ausência de regras ou como as contornar, o viver a vida no seu luxo máximo, ao longo de três horas sem grande pruridos.
Assistir a um filme mal comportado e politicamente incorrecto de Martin Scorsese, é um luxo.




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