José Eduardo Agualusa no seu livro Passageiros em Trânsito escreve " O passado é como o mar: nunca sossega". Concordo em parte com esta visão. Mas vejo-o mais como as ondas do mar que vão e vêm.
O passado não está quieto, não está sossegado, é verdade. Não tem que estar e não pode estar. Tempos a tempos tem que estar presente e depois recuar. Como as ondas do mar.
Não se pode ignorar o passado. Nós somos o passado, somos feitos dele. A sabedoria, a experiência acumulada em nós, no dia a dia, vem do passado. Somos ensinados por ele.
O nosso passado define o presente e influencia o nosso futuro.
A história universal, a história de um país, a nossa história é alicerçada no passado. Elas têm que ser consultadas, aprendidas e frequentemente reaprendidas.
Há lições a serem retiradas do passado para serem melhoradas, evitadas, ou até repetidas e adaptadas.
Diz-se que águas passadas não movem moinhos quando muitas vezes alguém insiste em repisar, reviver, viver permanentemente no passado.
Viver no passado é estagnar, é estar preso e não viver. Mas...
... é tentador rondar o passado, ficar por lá mais do que é devido. Deitarmos numa cama de espinhos cujas dores já conhecemos e nos habituámos em vez das novas que hão de vir e cujas intensidades nos são desconhecidas.
Ou então aconchegar-mo-nos nas memórias bonitas e boas que deixámos lá atrás, porque podemos voltar a não ter outras ou a não terem a mesma intensidade. Às vezes são elas que nos fazem adormecer com um sorriso nos lábios
Haverá sempre alguém que irá dizer, que não evoluímos, que somos parvos por estarmos a olhar para trás, que o caminho é para frente, o que já lá vai lá vai, etc, etc... É verdade. Há razão nestas afirmações.
E contudo são essas águas passadas que há pouco mencionei que nos vão dizer e mostrar como melhor construir os próximos moinhos, como evitar areias movediças e águas pantanosas.
O passado é curioso. Enquanto o presente é um permanente e sempre fugaz limbo temporal, entre o que foi e o que será, o futuro nunca existirá. O passado é o único que existe porque já foi. É com ele que se edificam as memórias.
Dos três talvez não seja o mais interessante, isso será sempre o que está para vir. Mas certamente é o mais útil.
O passado não pode estar quieto. Ao longe é inútil e em cima de nós é asfixiante, sufocante. Tem que ir e vir. Por vezes até temos que ser molhados por ele.
Como as ondas do mar.
Lindissimo....
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