2 de julho de 1930, nascia um senhor que se tornaria, desde há longos anos, um dos pianistas vivos que mais admirava. O seu nome era Frederick Russell Jones.
Escrevi "era" por dois motivos. O primeiro porque em 1950 converteu-se ao islão e mudou o nome para aquele que todo o mundo, e para a posteridade, iria sempre conhecê-lo: Ahmad Jamal.
O segundo motivo, e este verdadeiramente triste, Ahmad morreu hoje e de acordo com a sua filha, Sumayah Jamal, vítima de cancro da próstata.
Ele entra na minha vida, curiosamente através de um álbum contemporâneo, o Blue Moon, editado em 2012 e não por um dos seus clássicos.
No ano a seguir comprava sem hesitação Saturday Morning. Em 2017, encontrava o Marseille, pessoalmente menos bem conseguido que os dois anteriores. Finalmente em 2022, e após ter comprado as gravações completas do lendário But Not For Me at the Pershing, gastava alegremente umas largas dezenas de euros ao comprar as gravações ao vivo de Emerald City Nights (1963-1964 e 1965-1966) at the Penthouse, em Seattle.
Encontrando-me actualmente bem atento à saída do terceiro volume destas gravações.
Porquê este carinho por Jamal? É como Fernando Pessoa, ele consegue falar comigo, com a minha alma.
Tem uma sonoridade bem característica que faz com que saibamos quem está tocar sem que saibamos quem é previamente.
O seu piano é elegante, sofisticado e dinâmico. Virtuoso, delicado e exuberante mas não em excesso. Toca com um prazer genuíno e mostra isso na forma com que toca, como toca e no que toca.
Ahmad Jamal morreu hoje aos 92 anos, cancro na próstata. Sinto genuinamente a sua falta. Perdi um amigo de noites e dias calmos, serenos e tranquilos, um lenitivo para dores de alma, pensamentos inquietos e acelerados.
Para honrar o legado deste pianista, que pessoalmente ombreia com Bill Evans no panteão do jazz, vou escolher um tema de um dos seus maiores trabalhos e concertos ao vivo da história do jazz: as gravações ao vivo do seminal álbum But Not For Me.
Corria o dia 16 de Janeiro de 1958. O local é o salão do Hotel Pershing em Chicago. Ahamad Jamal no piano lidera um trio com o contrabaixista Israel Crosby e o baterista Vernell Fournier.
Desse concerto temas como Poinciana e But Not for Me ficaram clássicos.
Saindo da influência destes dois temas, tenho um terceiro que gosto mesmo muito e que se chama Wood'yn You.
Delicado, cheio de ritmo, comunicativo, expressivo e muito cativante.
Já tinha feito aqui uma referência à sua genialidade e importância que tinha para mim por altura dos seus 84 anos.
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