Em contrapartida é filme mais pessoal e claramente com um toque romântico. Em Sem Tempo para Morrer seguimos mais o homem que o agente secreto, mais o seu sacrifício pessoal em prol da sua família do que pelo mundo. A empatia com o 007 de Daniel Craig há muito que já estava criada e assistir ao seu fim proporciona um certo alívio. A sensação que os seus demónios - sempre presentes ao longo dos seus cinco filmes - que o assolavam e inquietavam finalmente acabaram.
Coloco este último filme de Bond abaixo de Casino Royale e Skyfall mas uns furos acima do apático e modorrento Quantum of Solace. Ainda o poria baixo de Spectre muito por culpa de Safin.
Os actores que estão nos papeis de M (Ralph Fiennes que não está a altura de Judi Dench), Q (fantástico Ben Wishaw) e Moneypenny (sofisticada e dinâmica Naomi Harris) espero que se mantenham, e acredito que sim, uma vez que foram aparecendo ao longo desta sequência de cinco filmes, substituindo os actores anteriores.
Por algum tempo é-nos apresentado um 007 feminino, Lashana Lynch, na personagem Nomi. Começa por surgir como a nova 007 para depois voltar a delegar o título em Bond. Uma espécie de pro-forma. Parece empenhada no papel, mas pessoalmente parece-me algo monótona e sem carisma. A sua participação é, diria, secundária. Claramente uma cedência ao politicamente correcto.
Rami Malek, no vilão Safin também não traz valor acrescentado à longa linhagem de gente cuja missão de vida é matar o maior número de pessoas, conquistar e controlar o mundo, destruir países, pôr a mão na maior quantidade de dinheiro possível e em mísseis nucleares. Sempre que Safin aparecia no ecrã, ficava a contar o tempo para quando o deixava de ver e ouvir. Grande tormento este Safin. Saudosos tempos do Silva (Javier Bardem), do Le Chiffre (Mads Mikkelsen) e Blomfeld (Christoph Waltz).
Léya Seydoux, menos interventiva que em Spectre, mais focada no seu papel de mãe e no apoio, sofrido e emocional a 007, é neutra no seu desempenho.
Resta o curto aparecimento da belíssima Ana de Armas como agente Paloma da CIA. Soube a pouco mas esperemos que em futuros filmes o seu tempo de ecrã aumente consideravelmente. Fica a sensação que o seu aparecimento também não foi casual. Especialmente sabendo que Felix Leiter, igualmente CIA, também não tem o melhor dos destinos.
Interessante reparar que os filmes de Daniel Craig são como uma mini-série dentro de outra série. Casino Royale mostra o começo do agente e Sem Tempo para Morrer (um título enganador) concluí-o de uma forma irreversível. Entre estes, a personagem evolui e passa por diversos estados de espirito e fases da vida, Podendo ser vistos individualmente, eles fazem muito mais sentido quando vistos como um todo.
Fica a questão de quem virá a seguir. Terá um trabalho ciclópico. Daniel Craig elevou a fasquia a níveis muito altos. Curioso será saber como os argumentistas vão desenhar e compor o novo agente. O que conseguiram com Craig foi notável. Agora existe uma família 007 e fico igualmente curioso com o que irão fazer com esta nova personagem (a filha) e já agora com a mãe. Qual a continuidade delas, isto se houver alguma.
Forçosamente novos tempos estão para chegar, e precisam-se urgentemente novas ideias relativamente à composição dos maus da fita, para o futuro 007.
No que diz à canção de abertura do genérico de Sem Tempo para Morrer, de Billie Eilish, vem na linha da boçalidade de Sam Smith em Spectre e portanto na direcção oposta ao tema de Adele em Skyfall. Provavelmente, tal como o filme, um dos melhores temas de sempre de Bond.
Para quem seguiu Daniel Craig desde Casino Royale faz todo o sentido ver este Sem Tempo para Morrer, para quem aparece para ver o último filme deste actor e apenas por ser o seu último, talvez não valha a pena assistir ao vigésimo quinto filme de James Bond.
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