terça-feira, 19 de outubro de 2021

Bhoren & Der Club of Gore - escuro como a noite, e ainda bem


Li num site de jazz que se deve começar a ouvir Bhoren & Der Club of Gore às duas da manhã, sozinho e com um copo de absinto. Concordo em absoluto. 

É um jazz profundamente estruturado, pausado, lento e compassado. Praticamente monocórdico, melancólico, certamente depressivo. 
É algo espectral e etéreo. Urbano e elegante. Minimalista, preciso e bem planeado. Sussurrante. Evoca as cidades à noite, vazias e lentas, os reflexos do nosso rosto em janelas ou montras mortiças pela escuridão e por uma sujidade mal resolvida pela passagem curva de um pano húmido. 
No entanto, é gentil, acolhedor e amigável. Definitivamente relaxante, convida ao afundar no sofá, à letargia, ao encostar ou a deslizar lentamente até ao chão por uma parede silenciosa, de copo na mão - não necessariamente absinto - e perdido no tempo. Fantástico para esvaziar a mente e partir lentamente para outros lugares, sem destino e sem vontade de voltar. 
Não serve para quem procura a luz, o brilho do sol ou algo que nos eleve ou retire a alma de estados mais sombrios e pesados.
A última faixa do álbum, a 9 - Deads and Angels - diz tudo: é tocada debaixo de chuva e com alguma trovoada pelo meio.

Nomes para classificar o jazz desta banda alemã; actualmente um trio formado por Christoph Clöser (saxofone tenor, piano e vibrafone), Morten Gass (teclas e guitarra eléctrica) e Robin Rodenberg (contrabaixo); formada em 1992 não faltam: dark jazz, noir jazz ou outros mais excessivos, e diria pouco adequados, como doom jazz ou horror jazz. 
Os membros dos Bhoren & Der Club of Gore antes da sua formação estavam imersos nas variantes (mesmo) mais pesadas do metal: grindecore, hardcore, doom e death. Em 1993, "viraram a agulha" - e de que forma! - ao dedicarem-se ao estilo de música que actualmente tão bem os caracteriza e pelo qual se tornaram conhecidos, tornando-se uma referência neste sub-género do jazz.

O meu encontro com esta banda foi do melhor que me aconteceu em vários anos desde a descoberta de GoGo Penguin (Man Made Object) e da leitura do meu primeiro livro (A Sul de Nenhum Norte) de Charles Bukowski.
Deles, comecei com Sunset Mission, um álbum lançado em Fevereiro de 2000 e o Piano Nights de 2014 está já a caminho da minha casa.

Deixo o tema que abre Sunset Mission, Prowler.









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