A seguir a Fernando Pessoa, é a poesia de Florbela Espanca que mais admiro.
É violenta, é rasgada. Desesperada e virulenta. Tal como Pessoa, a sua poesia é profundamente sentida. Mas enquanto a de Pessoa vem da sua mente e precisa de ser pensada e interpretada.
A de Espanca vem do seu coração, directo até nós. É simples, é linear. Muito impactante.
Vem de um peito em chamas, da sua alma magoada, de uma personalidade perturbada e vida conturbada.
Florbela Espanca suicidou-se no mesmo dia que nasceu - 8 de Dezembro.
Nasceu em 1894 e morreu em 1930.
Não o fez por acaso. Vida e morte no mesmo dia, faz sentido com a sua poesia dilacerada.
Florbela Espanca já passou diversas vezes e por diversos motivos pela Esteira: aqui, aqui, aqui e aqui.
Faz hoje 85 anos que encontrou o descanso que procurava e merecia.
Angústia
Tortura do pensar! Triste lamento!
Quem nos dera calar a tua voz!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular a hidra num momento!
E não se quer pensar! ... e o pensamento
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós ...
Querer apagar no céu – ó sonho atroz! –
O brilho duma estrela, com o vento! ...
E não se apaga, não ... nada se apaga!
Vem sempre rastejando como a vaga ...
Vem sempre perguntando: “O que te resta? ...”
Ah! não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta!
Florbela Espanca
(Livro de Mágoas)
(Livro de Mágoas)
Gostei...da evocação e do poema!
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