sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Grande Ecrã - O Sal da Terra


Por trás de um grande homem há há uma grande mulher. É verdade.
E quando está na sombra dela, ela será, porventura, maior que o grande homem.


Sebastião Salgado é um daqueles fotógrafos que mesmo que alguém não conheça o seu nome, já viu uma fotografia sua,
O Sal da Terra é um documentário co-realizado por um grande cineasta Wim Wnders e pelo seu filho, Juliano Salgado, sobre a sua vida e obra.
Faz sempre abrir os olhos perante as (altas) expectativas de ver o que está por trás das sua fotografias.
Engano. No fundo, o documentário serve para mostrar as fotografias tiradas. E muito pouco mais.

Podiam mostrar mais. As condições, e como se relaciona e se adapta aos ambientes físicos e sociais em que trabalha, Como fazer que as pessoas se habituem à sua presença e tenham os comportamentos usuais quer as suas fotografias mostram.
As vicissitudes do seu trabalho. a opção pelo preto e branco, etc.., etc...Dar a perceber, mais do que mostrar as fotografias, a obra. Como surgiram, como foram construídos e planeados alguns dos seus maiores trabalhos. Por exemplo: Trabalho, África ou Génesis.

Nos projectos que demoram vários anos a serem concluídos, o que faz às milhares fotografias tiradas? Anda com elas? São enviadas? Como são editadas? Como são escolhidas? Como foi pensada a estética que as caracteriza?
São estas perguntas para as quais não há respostas, que nem sequer são abordadas e que seria fascinante conhecer.

É precisamente neste ponto que o documentário falha redondamente. E diria eu que é propositado.
A sua mulher chama-se Lélia Wanick Salgado. O seu nome e a sua imagem aparecem esporadicamente no filme. E quando aparece, é apenas para suportar o fotógrafo, para o engrandecer.

Na verdade é Lélia que faz o trabalho de leão.
O trabalho que não se vê e que não se admira. É para ela que Sebastião Salgado envia as milhares de fotografias que tira, é ela que as edita, portanto é ela que estetiza, é ela que escolhe as fotografias que vão aparecer nas suas exposições e livros, é ela que organiza as ditas exposições e livros, é ela que gere a equipa que faz surgir o trabalho de Sebastião Salgado.
E é este trabalho fabuloso que não é mostrado, que não é reconhecido e que se mantém desconhecido de muita gente.

Pessoalmente, é de uma tremenda injustiça, que Wim Wenders, o filho, e acima de todos, o próprio Sebastião Salgado, não mencionem sequer o trabalho que dá vida, ao seu trabalho.
Por isso comecei este post com os parágrafos iniciais.
Em frente a uma espantosa fotografia, que nos desperta admiração e emoções de Sebastião Salgado, de imediato tem que se associar ao seu nome, o nome de Lélia Wanick Salgado.

Sal da Terra é um filme monótono, sem dinâmica e quase boçal.
Pergunto-me como é que um realizador que fez um trabalho espantoso sobre o trabalho de Pina Bausch (Pina), faz um trabalho tão vulgar, tendo em conta, que tal como em Pina, tem material de eleição, para fazer um filme para não se esquecer.

E só vejo um motivo, ou melhor, dois, para que este documentário tenha sido tão galardoado. Ter Wim Wenders e Sebastião Salgado no mesmo filme. Com estes dois juntos, deve haver pouca gente no circuito comercial do cinema que tenha a coragem de não o galardoar...




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