Everest é um filme de desperdícios.
De realização, argumento, de actores, do 3D.
O argumento é insípido, os diálogos são monótonos e pouco incisivos, as personagens não têm personalidade, são lisas que nem uma tábua de engomar e mostram-se incapazes de comunicar, de estabelecer uma ligação ao espectador.
A realização de Baltasar Kormákur é mediana, muito pouco empolgante tendo em atenção que não consegue esconder aqui e a ali o recurso a imagens CGI. O 3D é absolutamente medíocre.
Em momento nenhum nos consegue atirar para dentro da montanha. Ela não nos abraça, não tem envolvência e não fala connosco.
Se pensarmos nas inacreditáveis paisagens que uma montanha com pouco menos de nove mil metros (nem é preciso tanto!) consegue exibir, é um desperdício atroz de uma tecnologia que se faz pagar cara.
Mas há outro desperdício em Everest: os actores. Eles são em grande quantidade e bem conhecidos do público em geral. Emily Watson, Josh Brolin, Sam Worthington, Keira Knightley, Jake Gyllenhaal, Robin Wright e a encabeçar toda esta gente, está um razoavelmente conhecido Jason Clarke.
Com toda esta gente conhecida, o que faz Baltasar Kormákur? Praticamente nada. Não os desenvolve, não lhes confere alma. Nota-se um esforço honesto de Josh Brolin (Beck Weathers) e de Jason Clarke (Rob Hall), os restantes passam ao lado, muito por culpa de falta de tempo de antena.
Notórios os desempenhos de Keira Knightley (mulher de Rob Hall) e Robin Wright (mulher de Beck Weathers) que são praticamente invisíveis.
Fica aquela sensação, algo amarga, de se serem um chamariz, um isco para os mais incautos irem atrás do elenco e não da história.
O mais frustrante neste filme, é que o seu objectivo principal, narrar a tragédia de Maio de 1996, o argumento e realização falham-no redondamente.
É preciso estar atento para perceber que as principais causas desta tragédia, a comercialização excessiva da montanha, a competição para ver quem coloca mais pessoas no cume, a falta de experiência de montanha de quem faz parte destas expedições e o conceito que quem paga, tem que fazer o cume, porque os preços em causa são mesmo muito altos, foram abordados.
Também para quem vê Everest seria interessante perceber qual a rota que os montanhistas estavam a seguir na montanha. Que o espectador fosse guiado também por essa rota, ter noção da geografia da montanha, onde é que os acontecimentos estavam a ter lugar, que características esses locais têm. Nomeadamente, altitude, visibilidade, dificuldade técnica.
As posições relativas dos diversos acampamentos relativamente uns aos outros.
O que é o Colo Sul, o Hillary Step, está muito próximo do topo, a pesar de este estar fielmente reproduzido, qual é a dificuldade que este oferece na sua transposição, porque a hora de retorno está tão bem definida, porque nessa hora tem que se estar em local seguro e acima de tudo mostrar, ilustrar, o porquê dessa hora.
A dificuldade que o corpo humano tem em adaptar-se a estas altitudes, o risco das mesmas, as transformações que este sofre, usar ou não usar oxigénio.
Não deixa de ser curioso que o próprio Jon Krakauer que participou na expedição trágica de Maio de 1996 que Everest retrata e que resultou num dos livros (Into Thin Air) em que o argumento se baseou, tenha rogado pragas sobre a forma como o seu livro foi adaptado e as personagens retratadas, incluindo ele próprio.
Evereste, não é um filme de acção, não é um filme catástrofe, não é um filme dramático, ou um filme documentário, é essencialmente um filme de um grande exercício visual, o que obviamente por si só não chega.
Mas para quem tem a curiosidade de ver um filme sobre a montanha mais alto do mundo, ver o seu esplendor, que não tenha problemas relativamente à história verídica que pretende contar, ou que seja relevante o comportamento do corpo humano em altitudes extremas, torna-se um filme interessante.
E quanto o monte Everest ser o lugar mais perigoso da Terra, nem de longe nem de perto. Nem sequer é a montanha mais perigosa do mundo ou a mais difícil de escalar.
Ainda bem que avisas. Assim já não vou ver! :)
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