Na verdade tal como eu, muitas mulheres pensam que este dia as secundariza em vez de lhes dar a força que merecem e que por vezes necessitam.
Do meu ponto de vista, é uma espécie de rebuçado que se lhes dá, quase uma esmola, pela subvalorização, falta de igualdade, de oportunidades e reconhecimento do seu papel na sociedade.
O verdadeiro dia da mulher é todo aquele em que esta se impõe pela força da inteligência, do saber fazer, pela competência, pela subtileza, por trazer a delicadeza e força que ser mulher e ser mãe pode trazer ao mundo que a rodeia.
Que o equilibro atinge-se quando a força da testosterona é moderada pela suavidade do estrogénio.
E aos poucos e poucos isto está acontecer. O que se está a passar nas faculdades é sintomático disso, a presença feminina é dominante.
Mas para as mais desconhecedoras, fiquem a saber que também existe o Dia Internacional do Homem - comemora-se a 19 de Novembro - que inteligentemente ninguém fala, mas que penso exactamente o mesmo que o seu congénere feminino. Não faz sentido existir.
De qualquer maneira e ainda pensando neste dia em particular, existe uma mulher que admiro muito, pela sua obra e naturalmente pela sua vida.
E através dela e da sua poesia homenageio a Mulher.
Curiosamente estreia hoje, o filme Florbela, um filme que nos mostra e revela a vida torturada dessa mulher que deu origem a uma das poesias mais viscerais, sofridas e violentas - na forma como revela os seus sentimentos e particularmente como vivia o amor - mas também uma das mais belas e delicadas que a poesia nacional tem para oferecer. Falo, claro, de Florbela Espanca.
Um dos meus poemas preferidos dela é este, mas no Dia Internacional da Mulher escolho outro poema dela.
Ele está pleno daquela visceralidade, revolta e violência emocional que lhe rasga o peito e a alma, que vem de dentro das suas profundezas e que tanto aprecio na poesia de Florbela Espanca.
A Mulher
I
Um ente de paixão e sacrifício,
De sofrimento cheio, eis a mulher
Esmaga o coração dentro do peito,
E nem te doas coração, sequer!
Sê forte, corajoso, não fraquejes
Na luta: sê em Vénus sempre Marte;
Sempre o mundo é vil e infame e os homens
Se te sentem gemer hão-de pisar-te!
Se às vezes tu fraquejas, pobrezinho,
Essa brancura ideal de puro arminho
Eles deixam pra sempre maculada;
E gritam então vis:"Olhem, vejam
é aquela a infame!" e apedrejam
a pobrezita, a triste, a desgraçada!
II
Ó mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada
Quantas morrem saudosa duma imagem.
Que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca rir alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doce alma de dor e de sofrimento!
Paixão que faria a felicidade.
Dum rei; amor de sonho e saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!
Florbela Espanca
Todos os poemas de Florbela são belos,pena morrer tão jovem.
ResponderEliminarMorrer jovem, à semelhança de Dean Martin, Marilyn Monroe, Jim Morrison ou Amy WineHouse, parodoxalmente garantiu-lhe algo que só por si a sua obra provavelmente não conseguiria, a eternidade.
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