segunda-feira, 11 de novembro de 2024

15 anos e um desabafo


Este último ano na Esteira, tem sido particularmente difícil.

Passado um ano, as três guerras que mencionei aqui (Sudão, Palestina e Ucrânia) ainda persistem. 
Já mal são notícias nas televisões e rádios.
As pessoas tornam-se indiferentes, alheias e habituam-se rapidamente à morte e ao sofrimento de dezenas e dezenas de pessoas. Uma cobertura jornalística, em todas as suas formas, tem habilmente, e deliberadamente, esquecido ou suavizado o inenarrável sofrimento e total ausência de condições de vida. De facto, não se trata de condições de vida, mas de condições de sobrevivência.

Das três guerras, a de Israhell contra a Palestina assumiu proporções pessoais que nunca tinha experimentado antes ou algo de comparável.
Mais de um ano depois continuo incrédulo com o que se passa em Gaza, Palestina, território ocupado, roubado e colonizado por um país predatório, governado por um assassino e genocida, Benjamim Netanyahu. O que se assiste ao que se passa e acontece em Gaza e Cisjordânia é de uma atrocidade sem limites. O que li em livros de história, relatos de sobreviventes, vi nos diversos memoriais de vários países que experimentaram o genocídio, vejo agora em directo no ecrã do meu telemóvel.

Em ano que se assinalou trinta anos do Genocídio Ruandês e setenta e nove anos sobre o Genocídio Judeu e dos Roma, o Ocidente que tantas vezes invoca "nunca esquecer para nunca mais voltar a acontecer" vira costas, fica em silêncio e dá até o seu apoio declarado ao genocídio do povo Palestiniano e deixa, permite que o crime de todos os crimes aconteça livremente, sem restrições económicas, físicas e morais.

O Ocidente, o paladino dos direitos humanos, dos valores humanitários, da defesa da vida, da paz, da liberdade de expressão e do mundo livre, tornou-se um assassino, cúmplice e participante activo deste genocídio, através do silêncio conivente e do fornecimento de armamento deste genocídio.

Sinto uma grande vergonha em ser ocidental, em ser português. O meu país também é cúmplice da bestialidade sionista israhellita. Coloca-se debaixo das patas negras de um crime hediondo e tal como o restante mundo ocidental, excluindo os irlandeses, curva-se subservientemente perante um estado que ignora, quebra, contorna, todas as regras que norteiam a dignidade do ser humano.

É frustrante, profundamente triste, uma sensação de profunda incapacidade, de inutilidade, viver nestes dias. Dias em que os nossos políticos são profundamente nojentos, repelentes, vendidos, ausentes de alma e de qualquer tipo de dignidade.
E continuamos a votar neles, como se a invocação da liberdade fosse condição sine qua non, uma obrigação.
Não é. Não votar neles é um grito de revolta e de indignação. Diz-se que podes votar branco, nulo, não na abstenção. Mas enquanto votarmos, seja de forma seja, enquanto os políticos não perceberem que são rejeitados, olhados de lado, repudiados, nunca perceberão o quanto indignos são de nós.






série "sad animal facts" - CXLVII













quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Joni Mitchell 81


A cantora canadiana, Roberta Joan Anderson faz hoje 81 anos. E.. quem é ela? E o que fez ela de especial?

Para o mundo, a Roberta Anderson é conhecida como Joni Mitchell. 
Teve uma vida daquelas. Em 2015, um aneurisma quase a matou. 
Teve que reaprender a andar, a falar, a cantar, a tocar guitarra, tudo. Depois disto Joni voltou aos palcos. E brilhou. Uma canção nunca falhou nos seus concertos.

Nesse altura, como agora, Joni Mitchell é sinónimo Both Sides Now. Admito que seja redutor "reduzir" uma cantora a uma única canção, especialmente quando falamos de Joni Mitchell. Pessoalmente, uma é a outra. Mas não consigo fartar desta canção.
Sempre que a ouço emociono-me. A ternura da sua voz toca-me sempre. Apetece-me chorar, sorrir, abraçar, beijar alguém, fazer o bem.
Existem mais de 1500 versões deste tema. Ilustra bem a importância, o poder, a impressão que este tema causa nas pessoas.

Foi editada pela primeira vez em 1967, no álbum Wildflowers. Joni tinha 23 anos.
A letra foi escrita, quando tinha 21 anos, dentro de um avião, num lugar à janela em que espreitando por ela, a cantora canadiana via as nuvens a passarem por ela.
Com esta idade, já tinha tido poliomielite, ao 9 anos, que a deixou paralisada e com sequelas para a vida, uma filha, nascida em 1965, que ninguém soube que existia e que foi abandonada pelo pai. 
Sem meios para a sustentar, sem apoio de ninguém, decidiu que o melhor para a sua filha, apenas com oito meses, era dá-la para adopção.
Em 1993, quando esta história é publicada nos jornais por causa de uma amiga que a vende a um tabloide. Em 1997, a filha é encontrada e desde então nunca mais separaram.

Both Sides Now, encontramos o que há-de melhor em nós, entra fundo na nossas alma.
Conta-nos como tudo tem dois lados, duas perspectivas, especialmente a vida e o amor. E como é difícil conhecer as duas. Particularmente a primeira.
Não podia concordar mais com ela.





Rows and floes of angel hair
And ice cream castles in the air
And feather canyons everywhere
Looked at clouds that way

But now they only block the sun
They rain and they snow on everyone
So many things I would have done
But clouds got in my way

I've looked at clouds from both sides now
From up and down and still somehow
It's cloud illusions I recall
I really don't know clouds at all

Moons and Junes and Ferris wheels
The dizzy dancing way that you feel
As every fairy tale comes real
I've looked at love that way

But now it's just another show
And you leave 'em laughing when you go
And if you care, don't let them know
Don't give yourself away

I've looked at love from both sides now
From give and take and still somehow
It's love's illusions that I recall
I really don't know love
I really don't know love at all

Tears and fears and feeling proud
To say, "I love you, " right out loud
Dreams and schemes and circus crowds
I've looked at life that way

Oh, but now old friends, they're acting strange
And they shake their heads and they tell me that I've changed
Well, something's lost, but something's gained
In living every day

I've looked at life from both sides now
From win and lose and still somehow
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all

It's life's illusions that I recall
I really don't know life
I really don't know life at all




e Trump ganhou as eleições...













segunda-feira, 7 de outubro de 2024

um ano de genocídio palestiniano


"Se mexe, morre", eis a filosofia israhellita. Animais incluídos.
Faz hoje um ano que o genocídio palestiniano começou às mãos de Israhell e com as armas, o silêncio, a conivência e consentimento do líderes mais rascos e merdosos de sempre: os ocidentais.

Tão merdosos e reles que me fazem vergonha de ser ocidental.
A Europa, que sempre se considerou a paladina dos direitos humanos, anti-corrupção, da democracia, o farol dos valores morais, o último lugar da Terra onde existe paz, de repente torna-se assustadoramente, cúmplice e voz activa do genocídio do povo palestiniano.
O dinheiro flui torrencialmente para financiar um "estado" terrorista, uma potência ocupante e colonialista, tal como aqueles que o financiam, e nada democrático, com as mais poderosas e assassinas armas, utilizadas abundantemente contra inocentes e civis.

Os números são horrendos, indiscritíveis. 
De acordo com a prestigiada revista de medicina inglesa, Lancet, o conflito terá causado - não uns muito estáticos e mal estimados 42000 mortos como aparece em todo o lado - qualquer coisa como cerca de 210000 (duzentos e dez mil) mortos, incluindo feridos.

Não consigo deixar encontrar um paralelo entre o actual genocídio palestiniano e o ruandês em 1994.
Em ambos, o Ocidente, a ONU (a organização mais inútil do mundo), assistiu a tudo, a uma carnificina desenfreada, um horror sem limites, corpos acumularem e a apodrecerem nas ruas, famílias inteiras assassinadas, hospitais, escolas, igrejas atacados por assassinos sedentos de sangue que actuam de forma impune e bárbara.

Hoje faz um ano que o genocídio palestiniano começou. Hoje faz um ano que a "civilização" ocidental voltou aos seus dias mais negros, mais cínicos, mais hipócritas e mais sangrentos.
Um gigante com pés e moral de barro.











série "sad animal facts" - CXLII











terça-feira, 1 de outubro de 2024

dia mundial da música - Haza Salam (Myriam Shebab)


O Genocídio dos palestinianos e há poucos dias, a invasão do Líbano por parte de Israhell, afecta-me profundamente. 

Afecta-me por o Ocidente ter parte activa nele. Por ser o culpado de este acontecer e continuar a acontecer.
Através da covardia do seu silêncio, através do apoio político, através do fornecimento de armas e por insistir que Israhell tem direito à auto-defesa.
Não tem. Não tem, mesmo. É meramente uma vil força ocupante que tem medo que os legítimos donos da terra que roubou e ocupou que regressem.
É uma vil força ocupante que sem o Ocidente, nada vale. É uma vil força ocupante que chantageia, que compra o mundo ocidental para a apoiar, que torna os políticos ocidentais num bando de ovelhas que a seguem sem qualquer vontade própria. 

Uma vil e monstruosa força ocupante que pelas suas acções deram a movimentos de resistência que lutam contra a sua ocupação, contra os assassinatos e rapto das suas crianças, das suas gentes. Resiste contra a prisão indiscriminada e sem acusação do povo palestiniano, contra a tortura que estes sofrem nas prisões. Resiste contra a Faixa de Gaza se ter tornado, a maior prisão, o maior campo de refugiados a céu aberto. Como já li num lado qualquer - Resistir é Existir.
Dói-me este Genocídio Palestiniano, porque tal como o Genocídio Ruandês, se estar a desenrolar à frente dos olhos do Ocidente que assiste em silêncio, sem compaixão pela vida humana, sem respeito pelos direitos humanos ou pelos valores humanistas, sempre de mãos nos bolsos.
Dói-me este Genocídio Palestiniano, porque pela primeira vez sinto uma vergonha profunda, um embaraço sincero por ser ocidental e quando viajo pelo mundo árabe pedir desculpa por o ser e por aquilo que os políticos ocidentais não decidem e não fazem.
Por os cretinos e imbecis políticos ocidentais afirmarem que o Holocausto nunca mais pode acontecer e permitem que outro Holocausto esteja mesmo a acontecer.

O Líbano, dói porque é um país que não merece os libaneses. É um povo que luta com todas as suas forças para fazer avançar a sua vida, num país que praticamente nada funciona. Um país cuja economia está enfraquecida por um governo corrupto e totalmente inepto.
Um país disfuncional com um povo funcional, simpático, que sabe receber e sorrir quem o visita.
Mas principalmente o que torna esta invasão por parte de Israhell e do Ocidente conivente, tão dolorosa foi facto de ter conhecido pessoalmente palestinianos que se lembram da Nakba, palestinianos que ainda acredita que um dia voltarão à terra que é deles e da qual foram expulsos e muitos milhares assassinado. Peguei nas suas chaves das sua casas, peguei, através delas, nos seus sonhos e na sua dor.
Conheci-os, falei com eles, estive nas suas casas na comunidade de refugiados de Sabra e Shatila.
Onde ocorreu - entre 16 a 18 de Setembro de 1982 - um dos maiores massacres da história palestiniana que ganhou o nome desta comunidade: o Massacre de Sabra e Shatila. Terão sido assassinados um número incerto (entre os três a cinco mil) de palestinianos entre outras nacionalidades que se albergavam nesta comunidade.
Se o massacre foi cometido por milícias libanesas, estas tiveram o total apoio de soldados israhellitas que não os ajudaram, que os impediram de fugir, que os cercaram para que não pudessem escapar.

Para o dia mundial da Música escolho uma das canções mais representam a inenarrável experiência que o povo palestiniano está vivenciar, o crime dos crimes: o seu Genocídio.

Maryam Shebab é do Kuwaiti. É uma das vozes que ajudaram a tornar esta canção conhecida em todo o mundo. 
A letra é do poeta egípcio Ahmed Fouad Negm (1929-2013). Versa sobre a paz e sobre o que é a paz. Algo que desde 1948, ano da Nakba, este povo nunca mais conheceu. Foi-lhes roubada, há 76 anos, pelo Ocidente e Israhell, e que continua sem saber o que é até aos dias de hoje.










domingo, 22 de setembro de 2024

Tu chegaste, Outonoooooooooo!


Não há dia mais bonito, mais acarinhado e desejado por mim, do que aquele em que o Outono chega. Um dia de libertação, de rejuvenescimento, de leveza.
Os próximos seis meses, anunciados por este dia, serão mais sossegados, pacificadores, tranquilos, macios, mesmo que estejam imersos na mais agreste das tempestades.

Não sei quantas vezes já terei colocado esta canção - Autumn Leaves - no palco da Esteira, ao longo de todos estes anos. Gosto mais dos covers instrumentais, mas na versão cantada (a original) podemos apreciar a beleza e a delicadeza da sua letra.
O original, cujo título é Feuilles Mortes, remonta a 1945, escrita por Joseph Kosma, nascido húngaro e depois naturalizado francês.

De qualquer maneira aqui vai mais outro cover deste maravilhoso tema outonal. A versão de, cantada em jeito de blues, Eric Clapton, um mago da guitarra. Uma versão adequada para uma estação repleta de magia.