terça-feira, 29 de março de 2022

dia mundial do piano - Erik Satie


Se o polaco Frederic Chopin foi sublime na forma como lidou com o piano, o bem humorado, enigmático e excêntrico francês Erik Satie, não ficou muito atrás.
Erik Satie, o k não fazia parte do nome dele, foi um acrescento da sua autoria, era de facto bem conhecido pela sua excentricidade. Só comia comer que fosse da cor branca, colecionava chapéus de chuva que não usava e que quando chovia guardava debaixo do seu sobretudo de veludo para não o molhar, era conhecido por usar sempre fatos de veludo cinzento que eram usados até à exaustão antes de o substituir por outro igual, por isso chamavam-lhe "velvet man" e carregava sempre consigo um martelo que dizia que era para sua protecção.

Se quando penso em Chopin a associação aos nocturnos é imediata, para mim Satie é sinónimo de gymnopédies (compôs três) e de gnossiennes (são seis).
A origem do termo gymnopedie não é consensual. Pensa-se que Satie o foi buscar a uma palavra grega dado a um festival religioso anual que ocorria em Esparta, onde os jovens dançavam, cantavam e declamavam poesia praticamente nus.
Por sua vez gnossiennes, um termo cunhado pelo compositor francês, que terá vindo da palavra gnose e dos movimentos gnósticos - que acredita que em cada homem existe uma essência imortal, portanto transcendente ao próprio homem mas que pode ser compreendida através do conhecimento - cuja filosofia Satie partilhava.

Quer as gymnopedies e as gnossiennes caracterizam-se por um corte ao romantismo tradicional ao qual Chopin (e Tchaikovsky) era um nome maior. Elas são austeras, repetitivas (os primeiros passos dados em direcção ao minimalismo), de notas pausadas e económicas. Quase que se ouve o silêncio por entre o lento desfilar das notas.
Em todas estas nove peças há uma melancolia, doçura e simplicidade que me cativam imenso. A minha favorita das primeiras é a nº 1 e das segundas é a nº 4. A nº 1 é conhecidíssima mas poucos sabem de quem é, a 4 não é tão conhecida e portanto ainda menos pessoas conhecem o seu autor como sendo Erik Satie.

Por vezes conhecermos o autor de algo que gostamos e conhecemos é mais de meio passo andado para despertar a curiosidade para o resto da obra, por isso a segunda peça (e compositor) que escolho para piano no dia mundial deste instrumento é a Gymnopedie nº1.
Para fãs do pianista norte-americano jazz Bill Evans, talvez reconheçam a forte influência desta gymnopedie de Erik Satie na sua fabulosa peça Peace Pice, a faixa número 7 do álbum Everybody Digs Bill Evans.

A pera que surge na imagem deste post refere-se a uma outra composição também muito conhecida chamada Três Peças em Forma de Pera.
A pianista é a lindíssima georgiana Khatia Buniatishvili.













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