Por três vezes é perguntado a Capicua esta pergunta e por três vezes esta responde:
Pão quente, terra molhada e manjerico
Esta pergunta qual o teu perfume favorito já a fiz a mim próprio várias vezes. Se pudesses criar um perfume o que porias lá dentro? Pessoalmente, retiraria o manjerico e acrescentaria o aroma a relva acabado de cortar.
Este é o tipo de hip hop que me cativa em Capicua. Não tem aquela enxurrada de rimas que se atrapalham uma às outras em frases confusas e rápidas que se pretendem recheadas de irreverência, mensagens de intervenção, anti-sistema, etc..., etc...
É um hip hop normal que conta histórias de vidas normais de pessoas normais. É um hip hop autobiográfico e que portanto com alguma facilidade fala connosco e nos revemos nele.
É na faixa Casa no Campo, do álbum Sereia Louca de 2008, que encontramos esta, diria eu, singela pergunta. Para além da referida pergunta, a tal que tanto gosto, fascina-me a guitarra. É apenas ela que acompanha a voz de Capicua.
Simples, calma, reflectida. Bem no oposto do ritmo sincopado e estereotipado do hip hop que nos inunda os ouvidos durante os sempre excessivos minutos (por poucos que sejam) que duram essas canções.
Já é a terceira vez que Capicua aparece no palco da Esteira.
Bom fim de semana 😉
Eu sei o que que eu quero
Quero de preferência não sair da minha casa
Aquela casa, específicamente, essa casa
Eu sei que eu não vou abrir mais mão da minha horta
E isso não é questão de idade
Eu acho que isso é uma questão de oposição
Eu quero uma casa no campo como Elis Regina
Plantar os discos, os livros, e quem sabe uma menina
Por mim até podem ser mais, um amor como aos meus pais
Os dias como os demais, sem serem todos iguais
Casa no campo com a porta sempre aberta
Deixar entrar amigos, partir à descoberta
Ter a minha cama grande, a colcha predileta
E um cão desobediente em cima da coberta
Eu quero uma casa completa com um pedaço de terra
E com espaço, quero o tempo adormecer na relva
Longe da selva de cimento
Eu acrescento que quero cultivar mais do que mero conhecimento
Quero uma horta do outro lado da porta
E quero a sorte de estar pronta quando a morte me colher
Quero uma porta do outro lado da morte
E ter porte de mulher forte quando a vida me escolher
Quero uma casa no campo que cheire à flores e frutos
A gomas e sugos, a doces e sumos
Cozinhar para quem quer comer, comer como sei viver
Com apetite, já disse, que não quero emagrecer
Comer de colher de sopa, fazer pão, estender a roupa
Faço pouco das bocas que me dizem p'ra crescer
Eu quero rasgar janelas nas paredes cujas pedras
Carregar com as mãos que uso para escrever
Casa no campo com lareira e fogo brando
Que ilumina todo o ano, sorriso de quem amo
Quero uma casa no campo que pode ser na cidade
Mas tem de ser de verdade, mesmo não tendo morada
Onde é que aprendeste o que é o infinito?
Foi na contracapa de um livro da Anita
Diz-me qual é o teu perfume favorito?
Pão quente, terra molhada e manjerico
Onde é que aprendeste o que é o infinito?
Foi na contracapa de um livro da Anita
Diz-me qual é o teu perfume favorito?
Pão quente, terra molhada e manjerico
Diz-me qual é o teu perfume favorito?
Pão quente, terra molhada e manjerico
Pão quente, terra molhada e manjerico
Anda viver comigo, colamos o nosso umbigo
E não passaremos frio no nosso lugar estranho
Anda viver comigo, colamos o nosso umbigo
E não passaremos frio no nosso lugar estranho
Ok!
Um filho, um livro, um disco, uma árvore
Um filho, um livro
Um filho, um livro, um disco, uma árvore
Um disco, uma árvore
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