Tenho andado algo afastado de Charles Lloyd desde que deixou a ECM e rumou para a Blue Note.
Não é o mesmo saxofonista que tanto admiro e que considero, a par de Paul Desmond e do norueguês Jan Garbarek, um dos melhores saxofonistas de sempre. Daqueles saxofonistas que às primeiras notas ouvidas sabemos logo quem são.
Charles Lloyd na Blue Note, talvez numa nova filosofia de abordagem ao jazz da etiqueta que o acolhe desde 2015. "perdeu" o conceito do belo motto da ECM - "the most beautiful sound next to silence".
Tornou-se (de novo) mais experimental, talvez mais inovativo, até aqui nada a dizer, mas pessoalmente deixou de dar espaço ao silêncio, à reflexão e à instrospecção. Perdeu-se a sua espiritualidade. Algo que apreciava muito em Lloyd na ECM. A excepção está em Passin' Thru, o meu primeiro álbum de Lloyd pela Blue Note.
Tone Poem está longe destas características. O problema maior com esta formação, e já de anteriores álbuns, enquanto Blue Note, está na integração (algo que Mathias Eick consegue na perfeição em When we Leave) do "pedal steel guitar," no som criado pelo quinteto. A questão não está de todo no instrumento, mas na forma como este foi trabalhado na composição dos temas. Diria que na maior parte dos temas que compõem este álbum, a "pedal steel guitar" está descontextualizada, demasiado presente.
Não cria grandes paisagens sonoras ou quando as cria parecem-me excessivas e mal desenhadas. Soa demasiado à hula havaiana.
O que é uma pena, porque o saxofone de Lloyd é igual a ele próprio, a subtil bateria de Eric Harland mal se descortina na barreira que Greg Leisz cria a volta da banda, Frisell fica completamente emaranhado nessa mesma barreira e o contrabaixo de Reuben Rogers parece que não existe.
Este fim de semana tive o Tone Poem em loop no leitor de cds a tentar percebê-lo, descobri-lo e até a tentar gostar dele. Sem muito sucesso. Não porque não seja bom, apenas porque definitivamente não sou adepto do papel desempenhado pela "pedal steel guitar". De facto, tenho uma embirração tremenda com este instrumento neste álbum. Quase uma praga.
O tema que escolho deste álbum, Ay Amor, é bem exemplificativo desse excesso da "pedal stell guitar".
Pelo contrário Prayer é de longe o tema mais bem concebido, capaz de nos levar por altos e suaves voos, onde os instrumentos têm uma voz harmoniosa e bem conduzidos pelo saxofone tenor. O contrabaixo maravilhosamente tocado com arco por Reuben dá-nos a perceber o quanto perdemos pela pouca percepção que temos dele ao longo dos 70 minutos de duração de Tone Poem.
Apesar de o considerar um erro de casting na obra de Charles Lloyd, irei dar ocasionalmente dar tempo de palco na minha sala ao seu mais recente trabalho porque gosto mesmo muito de Charles Lloyd, mas comparando com qualquer dos outros dez álbuns que tenho deste saxofonista de eleição, Tone Poem fica bem abaixo de qualquer um deles.
Tenho saudades de Lloyd quando estava na ECM. E sem preocupações cronológicas ou ordem de preferência de: Mirror, Notes from Big Sur, Canto, Water is Wide, The Call ou Sangam.
Volta a casa Charles Lloyd, estás perdoado 😉
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