sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Rudy Van Gelder


Rudy Van Gelder. Para muitos este nome é tão importante para o jazz como Miles Davis ou John Coltrane o são.
Mas, e isto é um grande mas, quer um quer o outro, e muitos, muitos outros, talvez não fossem tão grandes se não existisse este senhor. E é difícil pensar o que o jazz seria, se este homem não existisse.
Rudy Van Gelder (RVG) é um engenheiro de som americano, nascido a 2 de Novembro de 1924 que começou por ser um optometrista(!!!). E tornou-se o maior de sempre na história do jazz, género musical que este engenheiro abraçou com uma intensidade fora do vulgar.
Quando se fala de um engenheiro de som, estamos a falar de como o som de um determinado cd, ou de uma banda, soa.
O som de Rudy é quente, caloroso, envolvente, muito espacial. Emotivo e detalhado

Mas como tudo que caminha entre os deuses, RVG não é tão consensual como parece. Há quem o considere como excessivamente elogiado, sobrevalorizado, há quem discuta as suas técnicas de gravação, que ele fez questão de não as divulgar, que não reproduziam fielmente o som que se ouvia num estúdio de gravação.
Um dos jazzmen incontornáveis na história do jazz e um feroz crítico das gravação de RVG, foi o contrabaixista Charles Mingus.
Este acusava-o de deliberadamente alterar o som das formações de jazz, das vozes que o cantavam.
Não existe nenhuma sessão de Charles Mingus gravada por RVG. Charles Mingus viria a criar a sua própria etiqueta.

Claro que acredito que Rudy Van Gelder desse o seu toque pessoal nas gravações que fazia. Faz todo o sentido que tal acontecesse.
Tal como um pintor, um escultor ou um escritor, têm as suas visões pessoais do mundo e colocam essa visão naquilo que fazem, por isso gostamos mais de uns do que de outros, também RVG tem o seu próprio conceito de estética sonora, a interpretação de como o jazz deve ser ouvido, de como deve soar, e esse cunho pessoal está inscrito no seu trabalho, e eu sou um fã convicto desta forma de ver o som.

RVG trabalhou para várias etiquetas de jazz. A Impulse, Verve, Prestige
Mas é quando entra para a Blue Note que tudo acontece. Entre 1952 a 1967, Rudy Van Gelder revoluciona o som da Blue Note - ficaria conhecido pelo o Blue Note sound - e o do próprio jazz. Álbuns e músicos históricos, fundamentais para a história do jazz foram gravados por este lendário engenheiro de som. Entre muitos outros, aqui ficam alguns desses registos:

  • Blue Train - John Coltrane (saxofone)
  • Song to My Father - Horace Silver (piano)
  • Mayden Voyage - Herbie Hancok (piano)
  • Speak no Evil - Wayne Shorter (saxofone)
  • Moanin - Art Blakey (bateria)
  • Out to Lunch - Eric Dolphy (saxofone)
  • Point of Departure - Andrew Hill (piano)
  • Soul Station - Hank Mobley (saxofonista)
  • Sidewinder - Lee Morgan (trompetista)
  • Birht of the Cool - Miles Davis (trompetista)

Em 1999, RVG começou a remasterizar para o digital parte do seu acervo de gravações da Blue Note. Estas reedições ganharam o seu nome - Rudy Van Gelder Edition.
Não faço a mínima ideia quantos álbuns, que continuam a aumentar, tenho sobre a alçada das Edições RVG, mas são largas dezenas álbuns, incluindo os listados acima, que ajudaram a apaixonar-me e a manter-me apaixonado pelo jazz.

Rudy Van Gelder, morreu ontem à noite com 91 anos.


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