domingo, 21 de agosto de 2016

um poema de... Alexandre O'Neill (nos 30 anos da sua morte)


Alexandre O'Neill viveu furiosamente, sem limites, desregradamente. Boémio até mais não.
Noites, tabaco e petiscos de tascas. Uma gloriosa paixão dividida por mulheres e por álcool.
Inteligente, malicioso e sarcástico por natureza, feroz atacante da estupidez e muito pouco dado ao cumprimento de regras, à obediência e ao "establishment".

Era uma pessoa que corria atrás de miragens, alguém saltitão, sem eira nem beira. Não só nos muitos amores, mas também na mesma quantidade de desamores, trabalhos e casas.




A sua mãe, como boa mãe (e também salazarista convicta), interferiu na sua vida por duas vezes. Uma em 1950 e a segunda em 1954. A primeira ao impedir de partir com um dos seus amores, a francesa Nora Mitrani, ao conseguir que a PIDE lhe retirasse o seu passaporte, episódio que viria originar o poema Adeus Português, e depois de novo com a PIDE ao conseguir que esta o libertasse, da prisão em Caxias, após mês e meio.

Alexandre O' Neill, lidava bem com a morte, esta não a assustava. À sua boa maneira, era sarcástico com ela. Definia a morte como - "a fuga definitiva a todas as chatices" e chamava-lhe "esse lugar comum", Deus era "esse chato que ressona"
Consta que aos trinta anos escreveu o seu próprio epitáfio:

Aqui jaz Alexandre O'Neill/ Um homem que dormiu muito pouco/ Bem merecia isto"

A 9 de Abril de 1986 entra nas urgências do Hospital de Santa Cruz, com problemas cardiovasculares.
Já antes, em 1976, tinha tido um ataque cardíaco, que o poeta admitiu ser causa da sua vida quase dissoluta. Foi aconselhado pelos médicos, a deixar esse estilo de vida, que o poeta ignorou por completo e em 1984, um AVC.
Há trinta anos, a 21 de Agosto de 1986, Alexandre O'Neill, filho de pais irlandeses, morre com 61 anos.


Fernando Assis Pacheco, descreveu-o como alguém que "por ser vítima de nervos miudinhos, sempre se gastou à velocidade de um fósforo".



Há Palavras que Nos Beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.


Alexandre O'Neill, 'No Reino da Dinamarca'


1 comentário:

  1. Há aqui pormenores que desconhecia da vida de Alexandre O'Neill.
    "A fuga definitiva a todas as chatices"...não deixa de ser uma maneira curiosa de ver a "coisa":)

    O poema é belo! Vou roubá-lo:)))))

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