quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Grande Ecrã - Miles Ahead



Miles Ahead é um filme difícil e complexo e não é um filme de entretenimento.
Exige um público que goste de jazz e conheça um pouco da vida de Miles, por este também não ser um biopic.

Don Cheadle, realizador, argumentista e simultaneamente actor (Miles Davis) foca-se numa parte da vida de Miles, em que este está retirado das luzes da ribalta por forças de pressões continuas para que continue a tocar, que o levaram à exaustão.
Miles está esgotado. É um eremita, dependente de drogas, um solitário revoltado que vive de uma mesada dada pela sua editora.
A sua relação com a sua primeira mulher, a dançarina Francis Taylor desempenhada pela consistente Emayatzy Corinealdi, que aparece nas capas de dois álbuns de Miles Davis - Someday My Prince Will Come e ESP - inicialmente idílica, torna-se um pesadelo por causa das relações que Miles vai mantendo com fãs e admiradoras.

A ligar todos estes factos verídicos está um personagem fictício, David Brill (Ewan McGregor) e um fio condutor igualmente fictício, umas bobines com uma gravação não editada com músicas do trompetista.
David é um oportunista mas é com ele que vemos e vamos acompanhando o desenrolar da fase mais conturbada de Miles Davis.

Enquanto admirador confesso de Miles Davis, é-me difícil não gostar de Miles Ahead.
Mas gostaria que o filme fosse mais didático, mesmo não caindo como é o desejo de Don Cheadle de se tornar uma biografia.
O realizador, argumentista e actor vai alternando em jeito de flashback, o presente que nos é mostrado com o que o antecipou. Fá-lo subtilmente, sem explicações.

Para quem for ver Miles Ahead tem o bónus de ver Herbie Hancock (pianista) e Wayne Shorter (saxofonista), dois membros do segundo grande quinteto de Miles Davis, a tocarem juntos e ainda um vislumbre de Ron Carter (contrabaixista).

Uma curiosidade. Don Cheadle começou a aprender a tocar trompete três anos antes da realização do filme para melhor mimetizar Miles Davis.
O que consegue muito bem, apesar do esforço, particularmente na colocação da voz rouca que caracterizava o trompetista, que por vezes se sente. A transformação que sofre ao longo dos flashbacks que vai ilustrando é exigente. Não só tanto fisicamente, mas acima de tudo ao nível da personalidade e emocional.

E claro que a banda sonora é de eleição.




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