Os livros podem ser divididos em 2 grupos: aqueles do momento e aqueles de sempre.
John Ruskin
Há um ano tinha pensado para este dia escrever sobre o último dos meus Grandes Cinco livros.
Os cinco livro mais importantes da minha vida. Os meus Eleitos.
Falta eleger o último, mas não em último, livro. Sempre tive uma certa hesitação sobre qual seria o meu quinto livro. Durante muito tempo o Castelo de Kafka estava entre este Magníficos. Mas...
A minha relação com Siddhartha é daquelas relações longas em que apenas sabemos da existência um do outro. Eu vejo-me e tu vês-me. Eu aqui, tu aí. Tudo bem. Dois desconhecidos que ao longo do tempo se cruzam ocasionalmente num autocarro, comboio ou na net.

Os cinco livro mais importantes da minha vida. Os meus Eleitos.
Falta eleger o último, mas não em último, livro. Sempre tive uma certa hesitação sobre qual seria o meu quinto livro. Durante muito tempo o Castelo de Kafka estava entre este Magníficos. Mas...
A minha relação com Siddhartha é daquelas relações longas em que apenas sabemos da existência um do outro. Eu vejo-me e tu vês-me. Eu aqui, tu aí. Tudo bem. Dois desconhecidos que ao longo do tempo se cruzam ocasionalmente num autocarro, comboio ou na net.
Um dia descobrimos que gostamos os dois de livrarias e os encontros aumentam de frequência.
A curiosidade começa a aumentar e então cumprimentamo-nos e dizemos o nome um ao outro.
- Olá eu sou o Siddhartha. E tu?
- Oi. Eu sou o Pedro.
- Fixe. Um dia conversamos melhor. Já percebi que estás com pressa.
- Sim é verdade. Vemo-nos por aí. Gostei de te ver.
Algum tempo depois encontro-o mais uma vez numa livraria. Olho para ele com maior atenção e entabulamos uma curta conversa.
- Olá de novo, Siddhartha
- Pedro. Reconheci-te. Estás de novo com pressa?
- Nem por isso. Mas quero ir ver outras coisas aqui na livraria.
Mas posso falar contigo um pouco melhor. Diz-me, falas sobre quê?
- Humm... Do budismo, da Verdade, da Sabedoria, solidão, dor, descobertas, aprendizagem, amizade, arrogância e humildade.
- Isso é muita coisa ao mesmo tempo.
- Tens razão. Tens razão. Mas o Homem, a vida é tudo isto e muito mais. Acredita em mim.
- Não duvido disso Siddhartha. E és de que país?
- Índia
- Falaste de budismo. Identifico-me muito com o budismo. És budista?
- Sim. Sou. Mas não me reduzas apenas ao budismo.
Sou um homem budista que ao longo do seu percurso de vida, retirou ensinamentos sobre o que lhe foi acontecendo, acumulando sabedoria e evoluindo dessa forma até ao estádio final: a Harmonia com o mundo e o Universo. Torna-se Mundo e Universo simultaneamente.
Nesse dia comprei Siddharta do escritor alemão Hermann Hesse e vencedor do Nobel da Literatura de 1946. Sem saber, comprei um livro que se tornaria um dos meus Grandes Cinco. Nesse dia o Castelo foi destronado dos cinco eleitos.
Dos Grandes Cinco este é talvez o livro mais difícil de explicar porque é um eleito para mim.
É um livro fortemente espiritual, mas sem aquela carga de "espiritualidade" que me faz fugir mais depressa que o diabo da cruz.
Faz-me recordar os poemas de Fernando Pessoa. Que ele os escreveu para mim.
É um que livro fala comigo, tem um diálogo comigo. Entra e permanece em mim. Vai para além da simples leitura.
Siddartha é um jovem da casta brâmane (a mais alta). É inteligente, bem parecido. Sábio e clarividente.
Todos o respeitavam pelas suas reflexões e conselhos. Dominava as artes da meditação, da contemplação, dos rituais. Siddartha era considerado um prodígio e o seu futuro não poderia ser nada menos que brilhante.
Mas algo dentro dele não lhe proporcionava a Luz que procura, o seu interior era inquieto, algo em si provocava-lhe uma insatisfação que o consumia, algo que lhe faltava.
Ele parte e vai à procura desse algo.
Esta busca, este trajecto de vida vai ocupar-lhe longos anos. Durante todo esse tempo Siddartha vai experimentar tudo. A vida.
Vai conhecer a fome, a pobreza e vai aprender com isso, vai conhecer a opulência, a riqueza, o amor, a experiência carnal, a traição e de novo vai aprender com isso. Vai conhecer a alegria de ter um filho, de sofrer por causa dele, sentir a angustia da separação, a dor excruciante de o perder e vai aprender com isso. Vai saber o que é perder a mulher amada, o que é orgulho e a humildade. O que é desdenhar e recuperar uma amizade sincera que não espera nada em troca. Homens que são apenas homens humildes e que por isso são grandiosos.
Siddharta descobre que o que lhe fazia falta, aquilo que mais precisava, era precisamente o que tinha experienciado ao longo do trajecto da sua vida: a Vida.
Tudo o que lhe aconteceu tinha um propósito. Ser um ensinamento, uma lição, uma possibilidade de evolução. De ver o todo em vez da fatia. Tinha que sair do casulo da casta Brâmane para descer ao homem comum.
Quando Siddhartha compreende isto, na simplicidade do correr de um rio e na companhia do velho barqueiro Vasudeva com quem tinha partilhado vários anos da sua vida, torna-se tudo.
Torna-se mundo, Universo, pedra, Deus, Buda. Ele torna-se Tudo e Tudo torna-se nele.
Atingiu a sabedoria universal, a paz, a serenidade, a Harmonia suprema, o Conhecimento. O OM.
O Nirvana.
Quando acabei de ler Siddhartha senti-me bem. Um pouco como ele, estava em paz com o mundo e sereno comigo próprio.
Qualquer um dos Grandes Cinco tem o poder de me fazerem perder neles e por isso encontrar-me neles.
Do meu ponto de vista esse é o poder supremo de um livro. De nos marcar, mudar a nossa vida, de nos ensinar a olhar o mundo à nossa volta de maneiras e perspectivas diferentes.
E caminhar connosco até ao final da nossa jornada.
"Mas hoje em dia penso: esta pedra é pedra, mas também animal, é também Deus, é também Buda, não a venero e amo por poder vir a tornar-se nisto ou naquilo, mas porque ela é tudo, há muito tempo e para sempre."
A curiosidade começa a aumentar e então cumprimentamo-nos e dizemos o nome um ao outro.
- Olá eu sou o Siddhartha. E tu?
- Oi. Eu sou o Pedro.
- Fixe. Um dia conversamos melhor. Já percebi que estás com pressa.
- Sim é verdade. Vemo-nos por aí. Gostei de te ver.
Algum tempo depois encontro-o mais uma vez numa livraria. Olho para ele com maior atenção e entabulamos uma curta conversa.
- Olá de novo, Siddhartha
- Pedro. Reconheci-te. Estás de novo com pressa?
- Nem por isso. Mas quero ir ver outras coisas aqui na livraria.
Mas posso falar contigo um pouco melhor. Diz-me, falas sobre quê?
- Humm... Do budismo, da Verdade, da Sabedoria, solidão, dor, descobertas, aprendizagem, amizade, arrogância e humildade.
- Isso é muita coisa ao mesmo tempo.
- Tens razão. Tens razão. Mas o Homem, a vida é tudo isto e muito mais. Acredita em mim.
- Não duvido disso Siddhartha. E és de que país?
- Índia
- Falaste de budismo. Identifico-me muito com o budismo. És budista?
- Sim. Sou. Mas não me reduzas apenas ao budismo.
Sou um homem budista que ao longo do seu percurso de vida, retirou ensinamentos sobre o que lhe foi acontecendo, acumulando sabedoria e evoluindo dessa forma até ao estádio final: a Harmonia com o mundo e o Universo. Torna-se Mundo e Universo simultaneamente.
Nesse dia comprei Siddharta do escritor alemão Hermann Hesse e vencedor do Nobel da Literatura de 1946. Sem saber, comprei um livro que se tornaria um dos meus Grandes Cinco. Nesse dia o Castelo foi destronado dos cinco eleitos.
Dos Grandes Cinco este é talvez o livro mais difícil de explicar porque é um eleito para mim.
É um livro fortemente espiritual, mas sem aquela carga de "espiritualidade" que me faz fugir mais depressa que o diabo da cruz.
Faz-me recordar os poemas de Fernando Pessoa. Que ele os escreveu para mim.
É um que livro fala comigo, tem um diálogo comigo. Entra e permanece em mim. Vai para além da simples leitura.
Siddartha é um jovem da casta brâmane (a mais alta). É inteligente, bem parecido. Sábio e clarividente.
Todos o respeitavam pelas suas reflexões e conselhos. Dominava as artes da meditação, da contemplação, dos rituais. Siddartha era considerado um prodígio e o seu futuro não poderia ser nada menos que brilhante.
Mas algo dentro dele não lhe proporcionava a Luz que procura, o seu interior era inquieto, algo em si provocava-lhe uma insatisfação que o consumia, algo que lhe faltava.
Ele parte e vai à procura desse algo.
Esta busca, este trajecto de vida vai ocupar-lhe longos anos. Durante todo esse tempo Siddartha vai experimentar tudo. A vida.
Vai conhecer a fome, a pobreza e vai aprender com isso, vai conhecer a opulência, a riqueza, o amor, a experiência carnal, a traição e de novo vai aprender com isso. Vai conhecer a alegria de ter um filho, de sofrer por causa dele, sentir a angustia da separação, a dor excruciante de o perder e vai aprender com isso. Vai saber o que é perder a mulher amada, o que é orgulho e a humildade. O que é desdenhar e recuperar uma amizade sincera que não espera nada em troca. Homens que são apenas homens humildes e que por isso são grandiosos.
Siddharta descobre que o que lhe fazia falta, aquilo que mais precisava, era precisamente o que tinha experienciado ao longo do trajecto da sua vida: a Vida.
Tudo o que lhe aconteceu tinha um propósito. Ser um ensinamento, uma lição, uma possibilidade de evolução. De ver o todo em vez da fatia. Tinha que sair do casulo da casta Brâmane para descer ao homem comum.
Quando Siddhartha compreende isto, na simplicidade do correr de um rio e na companhia do velho barqueiro Vasudeva com quem tinha partilhado vários anos da sua vida, torna-se tudo.
Torna-se mundo, Universo, pedra, Deus, Buda. Ele torna-se Tudo e Tudo torna-se nele.
Atingiu a sabedoria universal, a paz, a serenidade, a Harmonia suprema, o Conhecimento. O OM.
O Nirvana.
Quando acabei de ler Siddhartha senti-me bem. Um pouco como ele, estava em paz com o mundo e sereno comigo próprio.
Qualquer um dos Grandes Cinco tem o poder de me fazerem perder neles e por isso encontrar-me neles.
Do meu ponto de vista esse é o poder supremo de um livro. De nos marcar, mudar a nossa vida, de nos ensinar a olhar o mundo à nossa volta de maneiras e perspectivas diferentes.
E caminhar connosco até ao final da nossa jornada.
"Mas hoje em dia penso: esta pedra é pedra, mas também animal, é também Deus, é também Buda, não a venero e amo por poder vir a tornar-se nisto ou naquilo, mas porque ela é tudo, há muito tempo e para sempre."
Siddhartha
Sem comentários:
Enviar um comentário