Ou-to-no.
Cada sílaba desta palavra tem algo que não encontramos juntas em mais nenhuma outra.
Elas tornam o Outono único.
Nelas encontramos, as tonalidades das cores quentes das folhas, aquele aroma a terra que as primeiras chuvas da estação arrastam e encontrar a paz que o calor de verão não permite ter verdadeiramente.
As temperaturas baixam, mas não desagradam. As folhas caem no alcatrão preto ou voam pelos jardins de relva verde mas ainda não é agora que as árvores se despem completamente. Elas exibem finalmente as suas cores mais belas que o inclemente verão as impediu de fazer.
Os rios despertam do seu torpor estival, enchem os leitos secos e ouvimo-los cantar de satisfação.
Os céus ganham outra luminosidade e o sol chega atrasado ao seu descanso. Relutante por deixar mesmo que por algumas horas as belas cores que ele próprio ajuda a criar e iluminar sublimente.
As nuvens que julgávamos desaparecidas surgem e tomam as formas que nós quisermos. Um campo de possibilidades infinitas aberto à imaginação e um convite para levantarmos os olhos ao alto.
Até à noite podemos continuar a olhar para o alto. As constelações de Inverno começam a desenhar-se no Outono enquanto algumas de verão ainda permanecem nas noites lavadas de fresco. As suas histórias podem ser ouvidas, sopradas por ventos e brisas outonais.
As neblinas matinais erguem-se pouco acima do solo. Não existem no verão. As suas temperaturas altas não permitem que surjam. Quando baixam as neblinas surgem e com elas um mundo feérico.
Fadas, duendes, gnomos e faunos, cruzam-se entre eles nos afazeres da fantasia, até que o seu efémero mundo seja dissipado e se volte a erguer numa outra manhã.
Se o verão ofusca-nos os sentidos e corta cerce a imaginação, o Outono desperta-los e traz-nos de volta mais apurados que nunca, embrulhados em fantasias e sons que de novo se fazem ouvir.
Tudo isto em três sílabas.
Mas quem conhece melhor que ninguém a beleza e as cores que essas três sílabas encerram é Vivaldi.
Das famosas Quatro Estações, a do Outono é a mais bonita. E não é triste. Pelo contrário. É festiva, alegre e por vezes convida-nos à reflexão.
Tal como o Ou-to-no.
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