terça-feira, 13 de março de 2012

Grande Ecrã - A Invenção de Hugo (Hugo)


Quando nos óscares deste ano, Michel Hazanavicius ganhou na categoria de melhor realizador por O Artista, sabia que não era merecido.
Na altura ainda não tinha visto A Invenção de Hugo de Martin Scorsese (vénia), mas sabia que este filme merecia ganhá-lo.
Martin Scorsese (vénia) não sabe, mesmo que queira, fazer maus filmes. É um génio do cinema e este filme, se tal fosse necessário, prova-o mais uma vez. 

A Invenção de Hugo é extraordinário.
É uma viagem ao mundo dos sonhos, da magia do cinema e do universo criado por George Méliès e tal como O Artista leva-nos quase às origens do cinema.

Na verdade quase roça o documentário sobre os passos iniciais do cinema. Mostra-nos os primeiros filmes dos irmãos Lumiére, com quem o cinema nasceu e uma biografia da vida de George Méliès.

A Invenção de Hugo, parte de um autómato que Hugo herda do seu pai que na determinação de o reparar, vai roubando pequenas peças de uma pequena loja de brinquedos da estação que pertence a George Méliès. Fica assim aberta a porta para a vida deste realizador francês, objectivo final deste filme.

De facto, George Méliès que começou por ser mágico, tinha uma pequena loja de brinquedos, na gare de Montparnasse e realmente destruiu boa parte dos seus filmes e cenários num acesso de fúria e frustração. Os seus filmes confiscados pelo governo francês foram efectivamente usados para fazer os saltos das botas de militares.
O estúdio de cinema envidraçado de Méliès que aparece no filme é réplica fiel do seu verdadeiro estúdio.
E ainda temos o privilégio de assistir (e perceber como foram feitos) a segmentos dos filmes de Méliès que sobreviveram à destruição.
E até o (espectacular) descarrilamento do comboio que aparece no pesadelo de Hugo é verdadeiro. Aconteceu em 1895 e foi fotografado na altura.







A sequência inicial de A Invenção de Hugo é deslumbrante e é uma fabulosa introdução daquilo que nós teremos a entrar pelos nossos olhos nas duas horas seguintes.
Nos primeiros minutos somos apresentados e levados pela mão ao espaço onde o órfão Hugo se movimenta e vive, a estação de comboio - segundo Scorsese (vénia) é uma mistura de elementos das gares de Montparnasse, Orsay e du Nord -  e às personagens que constituem esse mesmo mundo que vamos seguindo ao longo do filme, algumas delas constituindo por si só pequenas histórias dentro da história maior.

Fantástica a maneira como nos é mostrado e como somos submersos no mundo mecânico dos relógios da estação e como estão filmadas as dinâmicas deslocações de Hugo neste mesmo mundo que por vezes associei às fugas de Indiana Jones nos primeiros filmes desta saga (esqueçam a Caveira de Cristal!!).

Martin Scorsese (vénia) filma pela primeira vez em 3D e a sua utilização é magistral. Um dos poucos filmes que vi onde esta técnica se justifica e traz real valor acrescentado.
Pina, Avatar e A Gruta dos Sonhos Perdidos são talvez os únicos filmes onde o 3D é verdadeiramente bem utilizado e justifica o custo extra do bilhete.

Asa Butterfield é muito competente na composição de Hugo, mas não fascina, pelo contrário, a Isabelle, a amiga de Hugo de Chloe Grace Moretz e Ben Kingsley no martirizado Georges Méliès são cativantes nos seus papeis.
E surpresa (ou talvez não) é Sacha Baron Cohen no divertido e aparente implacável e coração de pedra, Gustave, o inspector da estação de comboios, sempre acompanhado do seu fiel (e mais divertido que o dono) doberman Maximilian.


A Invenção de Hugo é um filme visualmente exuberante que homenageia e de que maneira o cinema, através desse verdadeiro e literal mago do cinema que é Georges Méliès.
E quem melhor que ninguém o poderia fazer senão pelas mãos de um outro mago, Martin Scorsese (vénia).




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