O Artista, um filme francês escrito e filmado por Michel Hazanavicius, vive da simplicidade e da pureza.
Remete-nos quase para as origens do cinema, finais da década de 30, quando este era mudo e a preto e branco.
É um filme que vive da capacidade de representar dos seus actores. O argumento é-nos contado pelas expressões do rosto, dos trejeitos dos lábios, da movimentação dos olhos e da gestualidade do corpo. Aqui e ali, uma legenda surge a dar uma ajuda por vezes até desnecessária.
O argumento conta a história do artista George Valentin (Jean Dujardin) que no topo da sua carreira e a atrair multidões, vê-se ser relegado para um plano secundário, por incapacidade de se adaptar à revolução que a introdução do sistema sonoro provocou no cinema.
Entre a ascensão, a queda e depois posterior recuperação da sua carreira, O Artista dá-nos momentos bem muito conseguidos de comédia, drama e... dança.
A sequência dançada que antecede o final do filme é fabulosa a fazer lembrar de imediato os míticos pares de dança de Hollywood, Fred Astaire & Ginger Rogers e Gene Kelly & Debbie Reynolds.
A verosimilhança do argumento, a maneira como é filmado, a maravilhosa banda sonora de Ludovic Bource, por nos remeter para uma época em que o cinema está longe de ser aquele que conhecemos agora e o trabalho tremendo de Jean Dujardin - que parece verdadeiramente ser uma personagem do cinema mudo - contando com a divertida e emotiva ajuda do seu cão (Uggie de raça Jack Russel Terrier), torna o Artista um filme intenso, fascinante e ao mesmo tempo didáctico.
No outro extremo está A Guerra das Estrelas Episódio 1- A Ameaça Fantasma.
Complexo no seu argumento e na realização, ele vive essencialmente dos exuberantes e ruidosos efeitos especiais.
O trabalho dos actores é rígido, forçado e muito pouco inspirado.
Particularmente o cavaleiro Jedi Qui Gon-Jinn interpretado por Liam Neeson e o seu discípulo Obi-Wan Kenobi desempenhado por Ewan McGregor são incapazes de ganharem a nossa simpatia. Salva-se Natalie Portman no papel de Padmé/ Rainha Amidala.
Pela sua natureza é um filme que não nos deixa repousar. Com permanente acção de grande qualidade, os nossos ouvidos e olhos são ao longo de mais de duas horas inundados por violentas explosões, sibilantes lutas com sabres laser, ruidosas perseguições de naves, espectaculares batalhas espaciais e personagens de todas as cores e feitios saídos de n planetas e galáxias de nomes estranhos.
A acentuar e reforçar o seu lado tecnológico, esta versão é 3D. O que diga-se de passagem não se justifica e definitivamente não trás valor acrescentado ao filme.
Ver A Ameaça Fantasma em 3D justifica-se apenas para fãs do género, que tal como eu, gostam sempre de (re)ver o primeiro e na minha opinião o mais fraco, dos seis episódios que constituem a saga Star Wars no local onde deve ser visto: uma sala de cinema.
Mesmo que para isso se tenha aturar o gelatinoso e irritante Jar Jar Binks.
Se o Artista abre uma janela para o passado, A Ameaça Fantasma transporta-nos para o futuro e para mundos alternativos.
Então o que têm este dois filmes de naturezas e objectivos tão díspares entre si em comum? Para além de terem grandes bandas sonoras, ambos celebram à sua maneira, mas excelentemente a mesma coisa: o fascínio do cinema.
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