sábado, 8 de março de 2014

uma música para o fim de semana - Miguel Ângelo quarteto


A semana acabou. Mais uma vez foi longa e bastante stressante e dura. Preciso de abrandar a cabeça.
A que se avizinha não será melhor. Pelo contrário. Por isso preciso de me esvaziar. Pôr-me a zeros.

Para este fim de semana, não quero nada de complexo. Algo que não tenha letra para saber se gosto ou não gosto, se está ou não bem escrita.
Preciso da simplicidade. Algo que me leve em vez de ser eu a ter que levar.
O jazz sempre teve esse poder em mim. A sua liberdade, a quase ausência de regras, a ausência de formalismo, a sua leveza. A sensação que sempre tenho que são um grupo de amigos que se juntam para se descontraírem.

Escolhi o quarteto do contrabaixista Miguel Ângelo no álbum Branco.
Gosto do minimalismo do piano de Joaquim Rodrigues e da elegância do saxofone alto do João Guimarães. São boas asas para o espírito ir para nenhum lado em especial. Vai ao sabor da improvisação.

E quem faz os desenhos fá-los tão bem quanto eu. Ou seja, mais valia não os fazer :D.
Mas é bom para descontrair. É como respirar devagar para um vidro e depois fazer desenhos efémeros e sem significado no vidro embaciado e vê-los a desaparecer para depois repetirmos tudo de novo, sem nenhum outro objectivo que os de ver apenas por uns segundos.
Depois a prova do crime da falta de talento desvanece-se. Tal e qual como no vídeo.
Dá prazer e é libertador.


Bom fim de semana :)




quarta-feira, 5 de março de 2014

Grande Ecrã - Her, "Uma história de amor"




"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas."


Her - uma história de amor, poderia começar com este excerto do famoso poema de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa. E começaria bem.

Theodore escreve cartas de amor. Não para si, que poderia ser de tão sentidas que são, mas para terceiros, que incapazes de o fazerem, recorrem ao seu serviço.
Theodore é um homem introspectivo, cuja vida amorosa anda nas ruas da amargura.

Socialmente é recatado. Cumpre os mínimos. Conversa, é simpático para os colegas, é convidado para jantares. Mas é sua casa e fora destes compromissos sociais é que se sente à vontade. Tem uma forte ligação à tecnologia e está rodeado por ela.
Usa a tecnologia para não se separar da sociedade, mas é através da primeira que se afasta da segunda.

Descobre um dia que pode interagir com um sistema operativo (SO) e activa-o. Aos poucos e poucos sente que esse sistema operativo (inteligência artificial) chamado Samantha evolui com ele e ele com a Samantha,
Um começa a completar o outro e naturalmente estabelecem-se cumplicidades. Depois sentem a falta de estar um com o outro, sentem a saudade. E vai adquirindo (ainda) mais contornos humanos. O que se passou ao longo do dia, o falar sobre a trivialidade, a descoberta do sexo, do ciume, a preocupação com o tom de voz do outro. Ou seja descobrem o amor. Mas a níveis que nenhum dos dois tinha sentido até ao momento. Foi uma descoberta para ambos. Para o SO que nunca tinha sentido algo parecido com isso e para Theodore que apesar de já o ter sentido anteriormente, estava a redescobri-lo porque o tinha perdido na separação da sua mulher.

Spike Jonze introduz aqui uma reflexão extremamente actual e que de alguma maneira, em diferentes graus e de aceitação, todos nós a sentimos.
A visão que o realizador nos dá do mundo de Theodore é perigosamente próximo do nosso. Basta ver as cenas em que o protagonista olhando para o lado vê que toda as pessoas à sua volta está com um smartphone na mão a comunicar com os seus SOs.

É uma sociedade globalmente ligada, mas solitária na essência. É uma solidão que inicialmente é quebrada pela tecnologia mas que através dela quase que exorciza a "velha" realidade.
Mostra que a tecnologia nomeadamente e particularmente a social, é um pau de dois bicos. Tanto nos liga ao mundo, como aos poucos e poucos nos desliga dele.
E à medida que o argumento se desenrola, percebemos que ela de facto nos desliga do mundo social real e nos torna dependentes do mundo virtual.

E é no final, num acto consertado que a própria tecnologia, os SOs, põem os pontos nos is. Vão-se embora para assumir e gozar de pleno direito a sua virtualidade, para não deixar aos humanos, talvez em jeito de lição, outra opção que não aceitar a sua entidade e sociedade corpórea.

Há quatros pontos fortíssimos no filme. O primeiro é o argumento.
É preciso uma coragem tremenda para apostar em fazer um filme que retrata uma história de amor entre um ser humano um programa informático, de uma maneira coerente e lógica.
Através do seu argumento, Spike Jonze lança uma série de perguntas e até respostas sobre como a tecnologia toma conta de nós e dos nossos sentimentos.
Como estamos cada vez mais dependentes delas. O seu argumento é um grande e generoso acto de reflexão sobre esta relação cada vez mais poderosa, cada vez mais canibal.

O segundo ponto é "Samantha", o SO de Theodore.
É "apenas" uma voz (de Scarlett Johansson) que sem nunca a vermos, sentimo-la intensamente ao longo de todo o filme. É uma presença física sem nunca o chegar a ser. Mas ela está lá. É o contraponto por excelência a Theodore.
Não só por ser um programa informático e pela consequência de ser um. Quer ao nível da sua lógica e naturalmente eficiência informática e quer à sua ineficiência inicial quanto às questões humanas, ao que caracteriza um ser humano.

Através do seu SO, Theodore cresce e evolui. Vê novas perspectivas, faz coisas que anteriormente não fazia. Sai da casca. Torna-se dependente dependente dela. Fantástica a cena de Theodore quando procura Samantha "em todo o lado" sem a encontrar. E o alívio sincero que sente quando ela finalmente lhe responde.
Mas é um dar e um receber. Por sua vez Theodore ensina, faz evoluir Samantha. Explica-lhe aquilo que significa ser humano, as dúvidas, as sensações, as hesitações, os dilemas, os receios, a existência física que Samantha tenta a certa altura e a todo o custo atingir ou emular.

A Samantha de Scarlett Johansson é muito mais que uma voz. A sua presença é palpável, quase física.
Scarlett torna-se uma verdadeira actriz que desempenha um papel notável e apenas com a sua voz e entoações torna-se uma presença no ecrã sem o nunca estar.

O terceiro ponto é a realização de Spike Jonze. É limpa. Minimal, elegante, asséptica. Suave, cativante e gráfica.
Filma um mundo urbano futurista mas muito, muito próxima de nós. Não daqui a 100 anos, mas talvez distante de nós apenas um par de décadas.
Filma com uma grande intimidade, cheia de grandes planos de Theodore. Da sua vida, da sua rotina, do seu desejado isolamento. Através da câmara sentimos na nossa pele como a tecnologia rodeia a rua rotina.

E finalmente, claro Joaquin Phoenix. Ele e a voz de Scarlett enchem o ecrã. O trabalho de Joaquin impressiona de tão contido que é. Ele representa através do seu rosto, dos seus olhares. É tão minimalista quanto a realização de Spike Jonze.

Há muito tempo que um filme não me surpreendia tanto, que falava tanto comigo. A roçar a perfeição em tantos pontos no mesmo filme.
Uma grande surpresa, um grande, grande filme e nada ridículo.





segunda-feira, 3 de março de 2014

série "estatísticas da vida" - LXXV


A terceira série "estatísticas da vida" dedicada exclusivamente à gataria :)
A primeira e a segunda série estão aqui e aqui.


Até parece que não é nada com ele ;)




É mais complicado que isto. Tenho...três!
Mas dois deles dormem em cima das minhas pernas...