sábado, 1 de julho de 2017

uma música para o fim de semana - Minta & The Book Trout


Nem eu!!

Não é só o sol e o calor que tornam esta estação monótona, previsível e cansativa. É a falta de imaginação, é a superficialidade, os enormes rebanhos de carneirinhos enfileirados nas estradas que se formam para ir e vir às praias aos mesmos dias, às mesmas horas.

São os filmes vazios de conteúdo mas cheios nas bilheteiras, comédias realizadas com os mesmos clichés de décadas atrás mas com actores menores, acção que existe só porque existe efeitos especiais. Livros pensados para serem best sellers de praia, de autores que não se desviam um milímetro da receita para que este ao ser lido saiba exactamente como um mcdonald's plastificado.

Verão de tédio, de superficialidade. Reino do efémero e da inconsequência.
Divertimento feito de obrigação em páginas de calendário, descanso de sentido obrigatório.

Tal como Francisca Cortesão, a voz e a mentora por detrás dos Minta & The Brook Trout, canta de forma cristalina, sóbria e acustica na música para este fim de semana: I Can´t Handle the Summer.
Nem eu!!


Bom fim de semana ☺




I can’t handle the summer 
How I long for the slippery sidewalks 
Water dripping into my neck 

Riding on a crowded bus 
I’d write some good advice 
On the foggy glass 

Along the lines of 

Take it slow 
Learn to let it go 
Take it slow 

I can’t handle the summer 
I can’t handle the heat 
I fall in love every two seconds 
It’s kind of embarrassing 

And I ignore the nagging voice 
Trying to give me good advice 
Along the lines of 

Take it slow 
Learn to let it go 
Take it slow


quarta-feira, 28 de junho de 2017

os blues de Bluesnik


Dizem que das várias sessões que o altoista Jackie McLean gravou para a etiqueta norte-americana Blue Note, a que deu origem a Bluesnik, é a mais acessível.

Será como a Metamorfose de Kafka. Para alguém cruzar a porta de entrada do universo kafkiano, costumo sugerir a Metamorfose.
Quem gostar deste conto deste escritor nascido em Praga, certamente que se sentirá com vontade de explorar as obras mais complexas e densas dele.
E nem de longe, nem de perto, se pode pensar que Metamorfose é uma obra menor do escritor e contista checo.
Bem pelo contrário, é uma obra prima.


O mesmo acontece com Bluesnik do saxofonista alto Jackie McLean.
É fácil e seguro dar este passo inicial em direcção ao universo musical de McLean.
De facto é um dois em um. É um álbum de blues em formato jazz muito orelhudo e acessível.

A composição do quinteto é estelar. Freddie Hubard estava num crescendo de forma para o génio trompetista que se iria tornar, o pianista Kenny Drew já não deixava dúvidas nenhumas sobre o pianista influente que era, Pete La Roca, era um baterista perfeitamente consolidado e o contrabaixista Doug Watsson, um dos Jazz Messengers era bastante requisitado como sideman dos grandes jazzmen da altura. Iria morrer quase um ano depois de ter gravado Bluesnik, apenas com 27 anos, numa colisão com um camião quando adormeceu ao volante do carro que conduzia.


O dilema é velho de décadas, entre os que defendem que Bluesnik é o melhor trabalho de sempre de e os que afirmam que Let Freedom Ring é o melhor que se pode encontrar na sua obra.
A revista Jazzwise em 2010 coloca-o na posição 89, nos 100 discos mais influentes de sempre da história do jazz. Bluesnik não surge nesta compilação. Como qualquer compilação, lista ou escolha, terá sempre uma forte componente subjectiva, por muito bem que ela esteja fundamentada ou suportada.

Mas se sentirem tentados a irem directo ao número 89 da lista, passem por primeiro por Bluesnik.
Se Let Freedom Ring é mais selvagem, pouco contido, exuberante, mais exigente, o segundo, Bluesnik, é mais melodioso, harmonioso, mais fácil de seguir, de sermos levados com ele e por ele.

Goin' Way Blue, o segundo tema de Bluesnik é isto tudo.
É fácil de gostar, muito cool, e ao mesmo tempo é música de primeira água. Imprescindível em qualquer colecção de jazz, sejam ou não apreciadores de Jackie McLean.