sábado, 9 de junho de 2018

uma música para o fim de semana - Xutos & Pontapés


Enquanto vou continuando a revisitar o álbum 88 dos Xutos & Pontapés, encontro Doçuras.
Pessoalmente considero um dos temas mais subvalorizados do álbum que celebra este ano 30 anos.

É uma canção de amor melancólica, de uma simplicidade e sinceridade a toda prova.
As guitarras são tocadas de uma forma gentil e minimal e o assobio quando entra em cena é a companhia perfeita para elas.

Claramente um tema onde o menos é mais.


Bom fim de semana ☺




Hei-de encontrar
Aquilo que procuras
Para te dar
E receber ternuras

Doçuras

Se eu não achar
Aquilo que procuras
Vou aguentar
As tuas amarguras

Doçuras


quarta-feira, 6 de junho de 2018

Aranha vs Borboleta


A animação é de eleição, a música é épica e o desfecho inevitável e dramático.

Pouco aconselhado a aracnofóbicos, mas para quem admira e se sente fascinado por estes seres incríveis...





terça-feira, 5 de junho de 2018

18 - assim era a canção que cantava para ti


Comparado com os outros eras um titã. Grande. Grande mesmo.
Eras tão grande que a única roupa que encontraram para ti era rosa. E assim vestiram-te. Ficaste incrível. Tão belo, tão belo que era difícil acreditar que eras meu. Dormias na inocência dos que são supostamente protegidos pelos Deuses.
E no entanto a tua fragilidade era tão grande quanto o teu tamanho. Houve Alguém que se esqueceu de ti, que recolheu a asa sobre ti quando ainda dela estendida precisavas.
E o amor de uma mãe, por muito que se diga o contrário, não é suficientemente poderoso para te proteger quando esse Alguém se esqueceu de ti.
E no entanto esse mesmo amor consegue amar de tal forma, ver tão longe, tão à frente, que percebe coisas que os outros não conseguem perceber.

E quem te amou tanto como eu, que te ama tanto quanto eu, cantava uma canção que te embalava e suavizava o tormento que vivias, o mundo estranho e escuro em que estavas mergulhado.
Essa voz, doce, dolente e encantada, cantava essa canção, com uma ternura, com uma protecção, com um amor tão grande que só ela seria capaz de cantar. Cantava para ti e para ela. Para se suportar, para ganhar forças numa canção cuja letra poderia ter sido escrita por si e para ti.

Assim era a canção que cantava para ti e para si própria.





Se essa rua

Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhante
Só pra ver
Só pra ver meu bem passar

Nessa rua
Nessa rua tem um bosque
Que se chama
Que se chama solidão
Dentro dele
Dentro dele mora um anjo
Que roubou
Que roubou meu coração

Se eu roubei
Se eu roubei teu coração
Tu roubaste
Tu roubaste o meu também
Se eu roubei
Se eu roubei teu coração
Foi porque
Só porque te quero bem




18 - um tosco Pigmalião das palavras


Na mitologia grega Pigmalião era o rei de Chipre e um escultor admirado pela perfeição e beleza das suas estátuas.
O rei escultor há muito que procurava a mulher dos seus sonhos. Sempre que encontrava uma mulher que pensava que estava à altura do que almejava, algo corria mal.
Desesperado, Pigmalião pega no seu mais belo bloco de mármore branco e projecta nele, todas as suas expectativas, todos os seus desejos, tudo o que uma mulher deveria ser. Quando acaba, a estátua final era tão bela, tão perfeita, que ele se apaixona por ela. Chamou-lhe Galateia.
Construiu um altar, fez oferendas e orações apaixonadas a Afrodite, a Deusa do Amor e da Beleza para que concedesse vida à estátua. Afrodite rendeu-se aos pedidos do rei cipriota e a estátua ganhou vida.

Como um tosco Pigmalião das letras e não tendo acesso ao poderia ter sido, posso projectar e escrever o que poderia ter sido. Porque apaixonado já o estou. Há dezoito anos ando neste estado límbico, platónico, de amar o que já não pode ser amado.

Garantidamente... alto e bonito. Não poderia ser de outra maneira, dizem-me.
"Tem a quem sair. De um lado e do outro."
Diria, que estarias na casa do 1.90m.
Olhos claros. Apontaria para os verdes, mas não puros. Neles, a cor castanha seria razoavelmente identificável. Penetrantes mas sem julgar.
Inteligente? Sim, claro que sim. A um nível normal. O seu sorriso não seria aberto ou rasgado, mas contido. Delicado e elegante. Cativante? Muito.
Feitio? Não é difícil de adivinhar. Seria difícil. Vontade própria bem marcada. Reservado e curioso.

Gostaria de música, livros e de arte. Preferiria os contemporâneos aos mestres. Mais atraído pelo que pode ser trilhado do por aquilo que já foi trilhado. Mas seria um bom conhecedor dos clássicos e da importância deles para o que ainda terá que ser descoberto.
Reconheceria boa parte das constelações do céu e as estrelas nunca cessariam de o fascinar.
Por inerência, as mitologias do mundo não lhe seriam de todo estranhas.

O que gostaria de ser? Não sei.
Não me parece relevante para alguém que faz hoje 18 anos. Pedem-nos para escolher algo para a vida quando não nos conhecemos, não conhecemos o mundo, em que as pessoas mais relevantes na nossa vida se resumem apenas aos pais e à família. Pedem-nos o que ser no futuro baseado apenas em meia dúzia de pessoas e experiências. Não é justo. Não te pressionaria nesse aspecto.
Mas enquanto um mau Pigmalião das palavras escritas, projecto para tudo o que pudesse ser relevante para a evolução do conhecimento do Homem, no passado ou no futuro. Seja nas letras, seja nas ciências.
Amaria e seria nobre perante a vida senciente. Perceberia o que é sofrimento. Respeitaria a vontade de viver de todos os animais. Teria um amor grande ao seu planeta, à necessidade de o proteger, de o acarinhar, de o respeitar. De o amar.


O tempo é algo de extraordinário. "O tempo tudo cura" diz o provérbio.
Dilui na distância dos dias, dos meses, anos e décadas, a acutilância da dor. Habituamo-nos a ela, à sua existência, à sua omnipresença.
À saudade, não. Aos flashes vindos do nada ou despoletados por algo que nem sabemos o quê, da memória revoltada e não domável, também não.
Isso, a seta do tempo não nos protege.

Não sei como é ter-te, mas sei como seria não ter-te tido. Mau, mau demais.
Provavelmente o que conheço, o que já vivi, o que viverei, o que já experimentei e terei que experimentar, o que chorei e o que ainda está para ser chorado, o que amo, amarei e o que agora sou, é um legado teu.

Não sei se voltarei a estar contigo, dar-te as mãos, brincar, correr e falar contigo. Saber o que aconteceu ao longos de tantos anos não partilhados. Mas pelo menos um dia vou para o mesmo sítio para onde foste há 18 anos. Talvez até estejas à minha espera. Não sei. Depois logo se vê.
Entretanto talvez Afrodite atenda os meus desejos.




Há uma voz de sempre, 
Que chama por mim. 
Para que eu lembre, 
Que a noite tem fim. 

Ainda procuro, 
Por quem não esqueci. 
Em nome de um sonho, 
Em nome de ti. 

Procuro à noite, 
Um sinal de ti. 
Espero à noite, 
Por quem não esqueci. 

Eu peço à noite, 
Um sinal de ti. 
Quem eu não esqueci... 

Por sinais perdidos, 
Espero em vão. 
Por tempos antigos, 
Por uma canção. 

Ainda procuro, 
Por quem não esqueci. 
Por quem já não volta, 
Por quem eu perdi. 

Procuro à noite, 
Um sinal de ti. 
Espero à noite, 
Por quem não esqueci. 

Eu peço à noite, 
Um sinal de ti. 
Eu nunca esqueci...