terça-feira, 5 de junho de 2018

18 - assim era a canção que cantava para ti


Comparado com os outros eras um titã. Grande. Grande mesmo.
Eras tão grande que a única roupa que encontraram para ti era rosa. E assim vestiram-te. Ficaste incrível. Tão belo, tão belo que era difícil acreditar que eras meu. Dormias na inocência dos que são supostamente protegidos pelos Deuses.
E no entanto a tua fragilidade era tão grande quanto o teu tamanho. Houve Alguém que se esqueceu de ti, que recolheu a asa sobre ti quando ainda dela estendida precisavas.
E o amor de uma mãe, por muito que se diga o contrário, não é suficientemente poderoso para te proteger quando esse Alguém se esqueceu de ti.
E no entanto esse mesmo amor consegue amar de tal forma, ver tão longe, tão à frente, que percebe coisas que os outros não conseguem perceber.

E quem te amou tanto como eu, que te ama tanto quanto eu, cantava uma canção que te embalava e suavizava o tormento que vivias, o mundo estranho e escuro em que estavas mergulhado.
Essa voz, doce, dolente e encantada, cantava essa canção, com uma ternura, com uma protecção, com um amor tão grande que só ela seria capaz de cantar. Cantava para ti e para ela. Para se suportar, para ganhar forças numa canção cuja letra poderia ter sido escrita por si e para ti.

Assim era a canção que cantava para ti e para si própria.





Se essa rua

Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhante
Só pra ver
Só pra ver meu bem passar

Nessa rua
Nessa rua tem um bosque
Que se chama
Que se chama solidão
Dentro dele
Dentro dele mora um anjo
Que roubou
Que roubou meu coração

Se eu roubei
Se eu roubei teu coração
Tu roubaste
Tu roubaste o meu também
Se eu roubei
Se eu roubei teu coração
Foi porque
Só porque te quero bem




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