sábado, 23 de janeiro de 2016

uma música para o fim de semana - DJ Ride feat Capicua


Há uma maior consistência nesta colaboração de Capicua com DJ Ride do que quando esta cantava solo o Vayorken.

Ao contrário de Vayorken, que era um hip-hop escorreito, ligeirinho, colorido, que não obrigava a uma grande digestão do tema.
Em Fumo Denso, acontece o contrário. A letra e a voz de Capicua são envolventes, diferente do que normalmente se espera de um hip-hop clássico.
Quer uma, quer a outra, exigem atenção e DJ Ride consegue criar uma musicalmente atmosfera densa, monocromática, sem chegar a ser monótona.

A letra é um jogo de palavras que rodam sobre elas próprias. É sobre silêncios, saudades, questões sem respostas e inexistentes barreiras que são difíceis de ultrapassar e até de as suportar.

Dj Ride forma uma dupla com Stereossauro, que tem uma daquelas músicas orelhudas que o pessoal agarra facilmente, aqui, e que da mesma maneira também a esquece, os Beatbombers.

Fumo Denso foi o segundo single a ser lançado para o público a preparar a saída do quarto álbum de DJ Ride, From Scratch.


Bom fim de semana :)





Tu fumas à janela, olho pra ti espelhado nela,
A noite é longa e dentro dela, a chuva pinta uma aguarela
Somos tu e eu, só tu e eu, tu e eu, só tu e eu...
E é quando me tocas que eu sei. Eu sei.
Porque é que eu ainda não te ultrapassei. E sei...
Que nada eu que eu vivi ou viverei
Pode ser maior que o nosso fogo e neste jogo todo és rei.
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O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...
O lume... o cheiro...
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E é quando me falas que eu sinto...
Que as palavras são amargas como o tinto
E esses lábios doces cor de vinho
Só me mentem ao dizer “Eu não te minto”!
E nesses olhos verdes absinto
Eu só consigo ver um labirinto.
E é quando tu te calas que eu penso... 
Porque é que não és feito de silêncio? 
Dás-me um copo que eu dispenso
Estendo o corpo e adormeço
sono tenso, sonho intenso
entre nós só fumo denso
fumo denso...
é só fumo denso...
fumo denso...
Dás-me um copo que eu dispenso
Estendo o corpo e adormeço
sono tenso, sonho intenso
entre nós só fumo denso
só fumo denso...
fumo denso...
é só fumo denso...
...
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...

O lume... o cheiro...
---
Tu fumas à janela, olho pra ti espelhado nela,
A noite é longa e dentro dela, a chuva pinta uma aguarela
Somos tu e eu, só tu e eu, tu e eu, só tu e eu...
---
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...
O lume... O cheiro...


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

asas negras



asas negras




em noite de breu escurecido
na esquecida fonte foram pousar
as asas negras de um pássaro ferido
negrume solitário de um mudo piar

gota escassa, hesitante em cair
pássaro cansado do inútil debater
a vontade do corpo a esvair
a surda esperança de a lágrima beber

ei-la que cai a gota ressequida
asas negras do pássaro moribundo
pelas penas escorre perdida
essa gota no mármore imundo

ergue-te e voa pássaro morto
de asas negras renascidas
celebra a ausência do teu corpo
e o fim das dores sofridas


Inkheart


terça-feira, 19 de janeiro de 2016

primeira compra do ano


Se a minha primeira compra deste ano, reflectisse o que este irá ser nos próximas doze meses, 2016 seria um ano fantástico.

Calmo, sereno, límpido, Seria lírico, colorido, rico em descobertas e novidades.
Um ano quase New Age, de pairar no ar.

É assim que o trio do dinamarquês, Jakob Bro (guitarra), o norte-americano, Thomas Morgen (contrabaixo) e o mítico baterista norueguês, Jon Christensen tocam o álbum da ECM de 2015, Gefion.

Jakob tem a parte de leão no disco. Nem sempre gosto quando o elemento líder de uma formação domina um álbum inteiro com o seu instrumento.

Gosto quando há democracia. Quando há lugar para todos eles. Mas aqui o domínio da guitarra, em quase todas as faixas faz todo o sentido. Ela é a alma de Gefion. As suas notas são espectrais, ficam em suspenso no ar sendo sopradas suavemente pela secção rítmica de Jakob Bro.

Apesar de discreto, a soar quase lá ao longe, a bateria de Christensen, é absolutamente imprescindível. O norueguês, tem um trabalho rico, delicado, mas sofisticado.
Morgen tem o contrabaixo ritmado e incisivo. Tanto está quase no horizonte sonoro onde música e silêncio se unem, como consegue imperial e mostrar o caminho à guitarra de Jakob.

Este tem sido o trio que mais tem tocado na minha sala, desde que entrei em 2016.
E creio que nos próximos meses continuará a sê-lo.