A primeira vez que Dream a Little Dream of Me foi gravado foi em Fevereiro de 1931. A partir daí os covers foram sucedendo-se. The Mamas & the Papas, Ella Fitzgerald, Diana Krall and Michael Bublé foram alguns dos muitos músicos que cantaram este tema.
Este ano a TMN utiliza Dream a Little Dream of Me no spot publicitário Fenómeno com a voz de Aurea. E ficou surpreendente.
É esta a minha sugestão em plena época natalícia em que supostamente se pode sonhar livremente e na qual todos os sonhos são permitidos.
Roland Emmerich, cineasta alemão bem conhecido pelos seus filmes catastróficos e apocalípticos, tem em Anónimo, um filme bem mais contido, menos espectacular e com níveis de destruição substancialmente mais baixos.
A ideia não é nova. Muito pelo contrário, data de finais do século XVIII e tem seguidores desde essa altura. A teoria de que não terá sido William Shakespeare a escrever as obras imortais que lhe são atribuídas mas sim alguém que se desconhece.
Anónimo conta a história de um dos nomes que actualmente é o mais apontado e defendido como podendo ser o verdadeiro autor das obras "ditas" shakespearianas - Edward de Vere, Conde de Oxford e que deu origem à chamada teoria de Oxford ou oxfordiana por oposição aos defensores da autoria de Shakespeare de Stratford, os stratfordianos.
É claramente um filme de época. A reprodução da época shakespeariana, os guardas roupas, a fotografia, toda a política e intriga palaciana da altura, Londres, uma cidade suja, quase fétida, enlameada, ruidosa, mas já cheia de vida, torna Anónimo um filme visualmente muito apelativo e realista.
Nota-se bem aqui o eficaz dedo de Emmerich no domínio e utilização de efeitos especiais.
Está bem apoiado num argumento historicamente bem fundamentado - com um ou outro erro histórico e na colocação temporal das personagens - apesar de por vezes ser difícil e confuso de seguir e carecer de alguma dinâmica narrativa apesar da sua boa fluidez.
Ter conhecimentos históricos da época Isabelina por parte de quem assiste a este filme é uma ajuda significativa.
Rhys Ifhans, está irreconhecível no seu papel de Edward de Vere. É talvez a primeira vez que o vejo num papel "sóbrio" e introvertido, nada dado à caricatura e à excentricidade que frequentemente caracterizam os seus trabalhos no grande ecrã.
William Shakespeare (Rafe Spall) é-nos apresentado como um mau actor, interesseiro, frequentador de tabernas, pouco menos que analfabeto e que obviamente nunca escreveu nada digno de nota. Vanessa Redgrave é tremenda no seu papel de Rainha Isabel I. Uma mulher de força que marcou uma época, mas que se torna frágil e se deixa enlevar e manipular pelas palavras e textos de Edward de Vere.
Anónimo consegue plausivelmente convencer-nos a acreditar na teoria oxfordiana ou pelo menos levantar a dúvida se realmente William Shakespeare será o autor ou não das melhores obras escritas em língua inglesa até à data de hoje.
Mas só pela reconstituição histórica, pelo trabalho de actores e pelos seus diálogos, Anónimo é um filme que vale a pena ver.
Pensar pela própria cabeça, não seguir o rebanho e manter firme no que se acredita.
Três coisas raras de se encontrar em simultâneo nos dias que correm.