sábado, 31 de janeiro de 2015

uma música para o fim de semana - Luis Figueiredo


Chove intermitentemente. Entre duas chuvadas, o sol dá uma pestanada rápida cá para fora. O céu está denso de cinzento. Facilmente volta a tapar o sol.
Com um pouco de sorte as compras estão feitas na véspera ou serão rápidas de fazer durante a manhã.
O corpo e a cabeça estão estourados de cinco dias duros de trabalho de um milhão de mails escritos e e dois milhões de telefonemas entre recebidos e feitos. Aos sábados a televisão estupidifica quase mais que durante a semana mas o sofá convida.

Uma proposta.
Um copo na mão, na outra, um livro. Para os indefectíveis da televisão, esta pode estar ligada, mas sem som. Essencial. Mas eu desligo.
Uma taça com amendoins e uns quantos cajus noutra taça ao lado dos amendoíns. Na aparelhagenzita a tocar o Lado B do pianista português de jazz, Luís Figueiredo. Na verdade não o tenho, mas fica como sugestão para o fim de semana.

O tema é Dear John, Dear Kenny. Um tributo a dois músicos de jazz de referências nos seus instrumentos. John Taylor e Kenny Wheeler.
É um tema doce, sem pressa, simpático e agradável. Dá muito e exige muito pouco.

Quando o nada puxa tudo, tudo pode ser feito. O Lado B da vida.


Bom fim fim de semana :)




quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

ele, tu e eu


ele, tu e eu

Ele, é negro e revoltado
tropeça, cai e levanta
vive dorido e cansado
no mundo que não encanta.

Ele, está confuso e desnorteado
perdido sem estar a olhar
não tem porto destinado
sem saber onde chorar.

Tu, não vás por essa rua
a dor baixinho sussurrou
assim todos me vêm nua
assim todos vêm como sou.

Tu, que desejas encontrar
aquilo que buscas e almejas
um sítio onde possas descansar
e ser o que não queres que sejas.

Eu, vou-te recompensar
desses tempos tão castigados
de doer sem descansar
na escuridão obcecados.

Eu, rasgo o que te ferra
essa mágoa de desassossegar
no macio solo que te encerra
secar teus olhos cheios de mar.


Inkheart


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Auschwitz. Uma das maiores nódoas da Humanidade.





Aquelas paredes, os edifícios, os passeios, devem cheirar a morte.
Pior. Deve-se sentir a Ceifeira a espreitar. À espera de alguém que não tenha sido tocada por ela.
Ainda viciada e sedenta depois de ter sorvido mais de um milhão de almas durante a existência do complexo dos campos de concentração de Auschwitz.
No seu peito estava tatuada a negra suástica.

A Ceifeira abraçava enganadoramente o destino de quem cruzava aqueles portões de Auschwitz - O Trabalho Liberta. A ímpia face negra tocava com falsa ternura os lívidos e assustados rostos através daquele sinistro letreiro.

A suástica, mais vil que Judas, estava permanentemente ávida dos comboios de carruagens carregadas de seres humanos. Todos de apelidos judeus e estrelas amarelas pregadas na roupa, que seres inumanos diariamente lhe forneciam.
Seis a dez mil pessoas todos os dias alimentavam a besta hedionda. Uma fonte, uma torrente de interrupção de tudo e todos.
O número de mortos por dia ficava sempre muito próximo das que chegavam. Um balanço de deve e haver macabramente equilibrado.

Para muitos, os comboios, as carruagens, tornaram-se nos seus caixões. À chegada dos campos de concentração, muitos já tinham cedido as suas vidas à Ceifeira.
Nas carruagens, as pessoas eram empilhadas uns sobre outros. Fardos de palha humanos atirados displicentemente para o seu interior.
Sufocados, sem luz, ar fresco ou hidratação, o calor e a imobilização roubava a muitos o seu último fôlego.

À saída, uma revista, uma inspecção. Duas filas. A ignóbil análise e de omnipotente escolha de Josef Mengele. Um gesto nefasto da mão para um dos lados e concedia a vida ou a morte.
Para a direita, a Ceifeira que respirava Zyklon B, para a esquerda os campos de trabalho. Um rápido prólogo para a morte, para uma efémera vida que matava. A média desta falsa sobrevivência tinha um número. Três meses.
Muitas foram as companhias alemãs que se instalaram nestes campos para usufruírem desta frágil e descartável, mas renovável, mão de obra.

Mulheres para um lado, homens para outro. Quem podia trabalhar para um lado, os mais fracos para o outro.
Muitas crianças foram no conforto dos braços das mães que as protegiam do impossível para as câmaras de gás. Talvez essas fossem as mais afortunadas.
As outras tornaram-se ratos de laboratório, atrozes experiências médicas de Mengel, o médico carrasco das SS.
Em Auschwitz as crianças não estavam autorizadas a crescer.


Faz hoje setenta anos que Auschwitz foi libertada pelos soldados russos. Oito mil sobreviventes. 
Entre 1940 e 1945, cerca de um milhão e trezentas mil pessoas morreram às mãos infames dos Nazis.
A Alemanha nas décadas seguintes calou e ignorou esta loucura de morte dentro de si própria.
Foi apenas na década de sessenta que pela primeira vez a Alemanha foi confrontada dentro e fora das suas fronteiras com barbárie que habitava nestes campos . 
Em 1985 o horror dos campos de concentração e particularmente Auschwitz, uma palavra sinónima de trituradora e incineradora de vidas voltou a surpreender e a chocar os alemães.

Auschwitz e Birkenau estão longe de serem os únicos campos de concentração, as únicas fábricas de montagem em série de morte.
Havia muitos, muitos outros. Dachau, Treblinka, Bergen-Belsen, Buchenwald, Jasenovac. Uns eram campos de extermínio, trabalhos forçados ou ambos.
E nem todos estavam na Alemanha. Polónia, Itália, Estónia, Croácia e até França também tinham os seus campos de concentração onde a vida era amaldiçoada.
Os tentáculos nazis eram longos,fétidos e tingidos de vermelho. O toque de Midas da Ceifeira.

O nazismo, a sua filosofia e Auschwitz, são uma das maiores nódoas jamais geradas pelo ser humano
E que nunca mais caia outra no pano da Humanidade. Porque não há expiação possível para ela.






segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

de novo o Fogo Grego


Foi acossada, foi esvaziada. Atiraram-na para a lama. Foi-lhe retirada a esperança e a dignidade.
Sofreu pela corrupção e ganância da sua classe política e mais ainda pela ganância e classe política dos países que supostamente deveriam ser solidários.
Chicotearam a Grécia até ao ponto em que esta já não conseguia andar mais, até ao ponto em que nada mais havia a perder. Só o orgulho
Por fim soltaram o monstro. A Grécia abriu as garras e fugiu para a frente. Agora a Europa treme.

E poderá ser a sorte de Portugal que tantas vezes se demarcou dos gregos.






o Fogo Grego aqui


série "estatísticas da vida" CIX


A menos que tenha a sorte de ter um Samsung...