sábado, 7 de dezembro de 2013

uma música para o fim de semana - ITB


É inevitável. Nestes últimos dias só se fala da morte de Nelson Mandela, o que é justo. Ele deixou ensinamentos e um legado de paz e humanidade tremendo.
Comparo-o às pirâmides egípcias. Sendo do Egipto, o imenso legado e simbolismo delas ultrapassam largamente a pequenez da geografia local. 
Nelson Mandela mais do que sul-africano, tornou-se agora parte de todos nós, pertence à Humanidade.




Ao fazer o que fez pela África do Sul, fez também o mesmo por todos nós. Por isso todos os povos e cinicamente muitos dos políticos que agora o evocam, o apontam como um modelo a seguir, um homem inspirador, alguém que mais do que ter entrado na história universal em vida, entrou para a eternidade na morte.

Pensei em que música para este fim de semana poderia traduzir aquilo que devemos a Nelson Mandela.
No youtube encontrei um vídeo de um grupo do qual nunca ouvi falar e que provavelmente também não vou ouvir mais falar depois deste fim de semana.
Chamam-se ITB e cantam uma canção de agradecimento ao homem que após ter estado vinte e sete anos preso, saiu da sua prisão sem revolta, desejo de vingança ou rancor contra os seus carcereiros.
A sua única vontade era unir e reconciliar todo o povo sul africano sem usar a violência. Um activista pelos direitos civis de todo o povo sul africano.

Curiosamente o pacifismo convicto do político Mandela tem raízes na violência quando este pega em armas e cria o braço armado do Congresso Nacional Africano, o MK, em 1960. A sua captura em Agosto de 1962 e posterior julgamento ditou prisão perpétua na Ilha Robben, onde passaria dezoito dos vinte e sete anos preso.

Após a sua libertação em 11 de Fevereiro de 1990 pelo presidente Frederik de Klerk, com quem partilharia o Nobel da Paz em 1993, usando algo ainda mais poderoso que a violência, a sua determinação, as suas palavras, as suas acções pacifistas e o exemplo que ele próprio deu, conseguiu tudo o que a África do Sul necessitava e não tinha.
Liberdade, o reconhecimento da igualdade e oportunidade entre raças, um sistema político universal e pela primeira vez eleições livres e multirraciais em 1994.
Dessas eleições Nelson Mandela tornou-se o primeiro presidente negro da história da África do Sul e espalhou a sua influência ao mundo inteiro.

Tal como título da canção que os tais ITB cantam  - Thank You Madiba.


Bom fim de semana :)





quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Enkosi. Hamba kahle Madiba


Quem é como quem diz - "Obrigado. Fica bem Madiba"


"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar."

Nelson Mandela, Nobel da Paz em 1993
(18. 07.1918 - 05.12.13)




sobre a Morte





Culturalmente temos tendência a suspende-la, a ignorar, a ausenta-la daquilo que a mais caracteriza, daquilo que a torna natural, a vida.

Vemos a vida como uma moeda de uma só face. Sabemos intrinsecamente que é uma inevitabilidade mas "esquecemos-mos" dela, do equilíbrio que ela representa, da renovação que permite, a outra face dessa moeda, a Morte.
Afastamo-nos e afastamos os nossos putos dela. Não os deixamos ir aos funerais e contamos histórias que tal senhor ou tal senhora foi dormir para céu. Como se os quiséssemos proteger de algo que provavelmente e culturalmente não deveriam/ deveríamos ser protegidos. Mas sim plenamente e naturalmente, porque é disso que se trata, introduzidos nesse conceito.

Sou um ocidental, portanto partilho e sinto em mim esse peso, esse medo cultural da morte.
Pessoalmente o que mais me assusta na morte não é a morte em si, mas não a perceber, não compreender o que ela é. Algo que só perceberei quando a tiver à minha frente. Faz sentido.
Como ser vivo que sou, só percebo a vida. Não percebo, não consigo conceber o seu oposto.

Por vezes, à noite quando o meu pensamento vagueia à solta pelos cantos do meu quarto escuro, eu oscilo indeciso de um lado para o outro, como uma bola de ping pong atirada de um lado para outro da rede.
Tanto quase fico com um pavor dela, desse desconhecido inevitável, como por vezes fico fascinado, quase impaciente por a sentir, por a perceber.

Tenho inveja de outras culturas que como a oriental, em que a morte é algo que coexiste com a vida. Uma tão natural como a outra. A morte é encarada como um passo em frente. Uma evolução, uma reaprendizagem, uma oportunidade de redenção não punitiva. Como na escola. Só se passa de ano, depois de se ter aprendido o anterior.
Algo (entre muitas outras) que me desagrada na religião cristã. Os bons vão para céu, os maus para o inferno e os assim-assim para essa coisa cinzenta indistinta que é o purgatório. Uns tantos anos aqui, para depois passares a eternidade acolá.
É um conceito simplório, redutor. Pouco imaginativo. Não se aprendem lições.

Talvez a morte talvez não tenha que ser má. Certamente que não, tento eu acreditar como um ocidental que inutilmente foi ensinado a virar a cara, a passar ao lado dela.
Há quem procure nela um refúgio para os fardos da vida.
Um aparte. Ao contrário do que genericamente se pensa, não considero um suicida como um covarde. Pelo contrário, penso que é preciso muita coragem para dar o salto para aquilo que se desconhece, dar o salto para o outro lado. O lado "escuro" e ostracizado da moeda que na outra face ostenta a vida.

A morte pode ser seja algo bom. Pela lógica deverá ser aquilo que as nossas crenças permitem ou acreditam que seja. 
A crença por definição resulta da fé. Na fé supostamente encontramos a esperança. A fé é positiva, é desejável. Não há portanto motivos para termos medo dela. Ninguém com fé pode crer que a morte é algo negativo. Não faria sentido ter fé se não fosse assim.
Outro aparte. Não sou uma pessoa de grande fé. Sou daqueles que quando chegar a minha vez logo se vê. Isto se houver algo para ver.

Quase todas as religiões, particularmente a budista, por a qual tenho uma grande simpatia e empatia, a vêm como o fim de trajecto, um caminho percorrido. Como a passagem de uma lagarta não particularmente bonita para uma delicada e bela borboleta. Uma metamorfose. Isto se o merecermos do ponto de vista budista.
Mas sempre como um processo mais ou menos lento de transformação, de evolução. Precisamos de ser várias vezes lagartas, mas cada vez mais perfeitas, para chegarmos ao nosso destino final: a borboleta que voa. O Nirvana.
"Morrer não é acabar, é a suprema manhã" escreveu uma vez Victor Hugo.

Para além de necessária, talvez a morte seja positiva. Talvez seja doce. Talvez seja terna. Principalmente se bem acompanhada.
Não gostava que ela fosse repentina. Gostava de sentir a sua chegada sem pressa. Que fosse suave. De a ver nos olhos e sorrirmos um para o outro. Dois desconhecidos que finalmente se vão conhecer.

Tropecei neste poema de Vasco Graça Moura por acaso. Gostei de imediato da sua doçura, de não rejeitar a morte, mas apenas a ideia de morrer sozinho, ou de não ter um amor. Esses sim, parecem ser os seus verdadeiros medos. E deve ter razão.
Revi-me nele. Depois de o ler várias vezes, também talvez gostasse de ter uma mão a segurar a minha. Nunca tinha pensado nisto.
Talvez seja mais fácil, mais tranquilo, enfrentar o supremo desconhecido desta maneira.
E à falta de uma mão, preferivelmente a complementá-la, seria bom ter uma pata. Gostaria muito de ter um animal ao meu lado. Quer seja um velho companheiro de vida, ou um recém chegado a ela. Ir-me-ia trazer conforto tê-lo comigo.

Imagino a Morte como uma senhora elegante usando um longo manto de um profundo negro de veludo, de rosto pálido e misterioso, mas sereno, delicado e de sorriso compreensivo. Alguém que reclinando-se sobre nós estende a mão, fazendo a transição das mãos que ficam com a que parte, ou que na ausência das terrenas nos cede gentilmente a sua mão para ajudar a fazer a tal passagem de lagarta para borboleta. 



Soneto do amor e da morte

quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.

quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não

tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.


Vasco Graça Moura


domingo, 1 de dezembro de 2013

Dia Mundial da Luta Contra a Sida





Em números redondos estima-se que em 2012 existiam aproximadamente 35.3 milhões de pessoas infectadas com o vírus da SIDA
2012 é o ano desde 2001, com o menor de número de novos casos de infecções com cerca 2.3 milhões. Em 2001 esse número era de 3.5 milhões.
Também foi em 2012 que o número de mortes relacionados com a Sida atingiu o seu ponto mais baixo com 1.6 milhões contra o triénio de 2004 a 2006 em que se atingiu o pico com com 2.3 milhões mortes.

Em termos regionais foi na África Subsariana que maior número de mortes teve no ano passado - 1.2 milhões. Só esta região representa 75%(!) do número global de mortes por Sida. 
No lado oposto está a Oceania com 1200 mortes, representando cerca de 0.075%

A Europa ocidental e central tem cerca de 7200 casos estimados de mortes, contribuindo cerca de 0.475% para o total do ano de 2012.


Os números que mencionei podem ser encontrados aqui, num curto e conciso relatório das Nações Unidas sobre a incidência da SIDA desde 2001 até 2912