sábado, 12 de abril de 2014

uma música para o fim de semana - Melech Mechaya


Os Melech Mecaya não são muito conhecidos do grande público. São uma daquelas bandas (um quinteto) de nicho.
Tal como os Kumpania Algazarra, são lufadas de ar fresco, acima de tudo trazendo irreverência e novas sonoridades àmúsica lusa.

Não parecem seguir segundo os padrões ocidentais uma lógica musical. Estão longe serem uma banda de massas. Aparentemente tocam numa forma de caos organizado. Onde cada um dos cinco instrumentos desempenha um papel.

Faz sentido que para ouvidos ocidentais menos abrangentes musicalmente, seja difícil gostar ou perceber Melech Mecaya.

As suas raízes, as suas influências geograficamente estão bem longe das nossas. Vamos encontrá-las na música cigana, na influência árabe e nas tradições judaicas não religiosas. É a chamada música klezmer. Nome que era dado mais aos instrumentos que aos músicos e que com o tempo acabou identificar estes últimos.

Eram grupos itinerantes de músicos amadores que usualmente tocavam em festas como baptizados e casamentos e que tinham por objectivo animar e pôr as pessoas a dançar, tocando frequentemente durante horas o que provocava o rápida desafinamento dos instrumentos de cordas (violinos, contrabaixos e violoncelos) que contribuíam de alguma maneira para o som característico do klezmer.
Não segue uma estrutura musical formal, vivendo na essência do improviso e da irreverência dos músicos.

O significado da banda, Melech Mecaya, vem do hebraico que significa, os Reis da Festa ou Reis da Alegria. Que aliás foi essa maneira de estar em palco, a maneira como interagiam com a assistência que também os tornou conhecidos internacionalmente.

A Dança do Desprazer é uma das músicas do seu primeiro álbum Budja Ba de 2009.
Álbum que teve uma aceitação inesperada internacionalmente, enquanto que em Portugal passava quase despercebido.


Bom fim de semana :)





quinta-feira, 10 de abril de 2014

terça-feira, 8 de abril de 2014

um poema de... Fernando Pessoa (sobre a minha nuvem)





Todos os dias deito-me numa nuvem. Uma nuvem especial. A minha nuvem. 

Gosta que eu me atire para cima dela e que brinque com ela como ela gosta de brincar comigo no seu silêncio. Gosta que eu esfregue o meu rosto nela antes de adormecer.
Não se molha quando choro porque enxuga-me as tristezas antes de elas correrem pelos meus olhos. E quando me rio com ela, ela também se ri com um felpudo arrepio de satisfação. 

Sabe o que me vai na alma todas as noites.
Ela ouve-me sem que eu fale, fala comigo sem que eu a oiça. Sabe do que preciso sem que eu lhe conte e protege-me dos pesadelos. Mas não dos reais. Infelizmente.
Propositadamente faz-me quase indetectáveis cócegas quando se enrola e fecha as suas pontas fofas e aveludadas sobre mim, formando um casulo de paz para a metamorfose da noite.

A minha nuvem é suave como todas as nuvens. Não é grande, nem pequena. É à medida do que preciso.
Mas para mim é uma bela e altaneira nuvem. Não tem nome porque não precisa. É só a minha nuvem. A mina nuvem.

Mas Fernando Pessoa também deve ter tido uma...


Vaga, no azul amplo solta, 
Vai uma nuvem errando. 
O meu passado não volta. 
Não é o que estou chorando. 

O que choro é diferente. 
Entra mais na alma da alma. 
Mas como, no céu sem gente, 
A nuvem flutua calma. 

E isto lembra uma tristeza 
E a lembrança é que entristece, 
Dou à saudade a riqueza 
De emoção que a hora tece. 

Mas, em verdade, o que chora 
Na minha amarga ansiedade 
Mais alto que a nuvem mora, 
Está para além da saudade. 

Não sei o que é nem consinto 
À alma que o saiba bem. 
Visto da dor com que minto 
Dor que a minha alma tem.


Fernando Pessoa