sábado, 22 de março de 2014

uma música (pimba) para o fim de semana - Suzy


E "prontos". Este deve ser o ponto mais baixo, tipo Fossa das Marianas, que a Esteira atingiu musicalmente desde que "uma música para o fim de semana" existe. Quase três anos.
Mas não foi só a Esteira. O país também :(.

É difícil de acreditar que no fim de semana passado, tenha sido escolhida uma música pimba, com letra pimba, dança pimba, cantada por uma gaja pimba numa versão pimba da Beyoncé para representar Portugal no Eurovisão deste ano em Copenhaga, Dinamarca.
Mas é o espelho de um país de baixa cultura e cultura baixa. Ou seja, um país... pimba. 


Um país que prefere telenovelas monótonas, reality shows estupidificantes, literatura cor de rosa rasca, cultura pré-digerida e enlatada porque não tem, não lhe dão, não incutem o gosto e a capacidade de apreciar e saborear a Cultura.
É culpa do país pelo custo absurdo de um cd, de um dvd, um livro, uma ida ao um bailado, cinema e particularmente ao teatro.
Porque temos um secretário de estado da cultura que prefere vender uma colecção única de Mirós por um preço muito questionável em vez de os expor ao público.
Porque o acesso à Cultura pelo seu preço (com o IVA no seu máximo) tornou-se elitista em vez de generalista. Aristocratizou-se.
O resultado de tudo isto é uma canção medíocre, que surgiu num festival que até já não faz sentido existir.

E se houve pessoal que se indignou com os Homens da Luta em 2011, com a Suzy, nunca mais devíamos ligar a televisão. Pelo menos para a RTP1.

Quero Ser Tua, a música para este fim de semana aparece na Esteira como um autoflagelo. Vergastadas nas nossas próprias costas porque merecemos. Castigo!
É como a Troika. Em quarenta anos eles estão cá pela terceira vez. Não aprendemos. Castigo!

Bom fim de semana e de caminho vão até ao cinema e leiam um livro ou um jornal, desde que não seja o Correio da Manhã.
A menos que queiram saber o que é um não-jornal ou um jornal pimba. Uma espécie da dupla Suzy/ Emanuel em formato impresso.

:)





sexta-feira, 21 de março de 2014

Dia Mundial da Síndrome de Down




No dia 21 de Março, comemora-se n coisas bonitas. Nomeadamente o dia Mundial da Poesia, o dia Mundial da Árvore e quando calha neste dia, a chegada da Primavera
Mas mais bonito que tudo isto, é que também se comemora o dia mundial da Síndrome de Down ou Trissomia 21.
Dia 21 de Março (21-3) foi escolhido por simbolicamente representar esta doença genética.
É uma chamada de atenção, a nível global para as pessoas portadoras desta doença. Sim. São pessoas!
E são especiais. E são bonitas e têm sorrisos lindos.

Devem e têm que ser protegidas, acarinhadas, amadas como qualquer outra pessoa dita normal.
Têm as suas aspirações, os seus desejos e ambições. Sabem o que precisam e o que desejam. Também têm sonhos.
Podem precisar de uma ajudinha maior, de uma maior compreensão de nós, mas mais uma vez quem é que não precisa de tudo isto?

Ser mãe e pai de um filho com Síndrome de Down é angustiante, desgastante, física e mentalmente. Uma tarefa exigente, uma luta diária contra o preconceito, contra um mundo que não aceita, não tem compreensão e tempo para com a diferença. Seja ela qual for.
Mas deve ser também um privilégio. Doloroso, mas um privilégio. Uma maneira diferente de ver e sentir o mundo, talvez mais pura.

Talvez seja amar mais e ser mais amado ainda.
Talvez seja até mais mais bonito que um bonito poema escrito com folhas e ramos de um carvalho ou de um plátano numa manhã primaveril.

A Coordown é uma organização italiana que um dia recebeu uma mensagem, um mail de uma mãe preocupada porque sabia que ia ter um filho com a Síndrome de Down.
Nesse mail, a mãe, assustada, perguntava que tipo de vida ele poderia ter.

A reposta da Coordown foi este vídeo.





Trilogia da Dor III - desespero (dia mundial da Poesia)





desespero

Vozes iradas sussurram em mim sonhos que me cegam e torturam,
vejo fontes secas sedentas de água que me pedem beber,
lágrimas abafadas em dor, sangrando por esperanças vãs que tardam em chegar,
hediondos espectros, retorcidos, trocistas, mostram o que não pode acontecer,
com os meus olhos surdos ao desejo que rompe de imagens impossíveis geradas pela razão.


Fujo, cego por caminhos de desespero,ciclicamente percorridos, vezes sem conta,
uma espiral, um vórtice, indefinido, atroz, atrai-me, puxa-me, convida-me,
uma porta que não tem entrada, uma saída sem saída, um beco morto de sentidos estendidos,
no chão indiferentes, à minha sombra, às minhas perguntas, à minha ausência,
ao que não sou, ao que sou mas que não sei, errante vagabundo com destino mal traçado.


Sem me movimentar paro enfim, por desta vez, aberto à realidade criada pela necessidade,
sinto a esperança que não oiço, que desconheço, mas que me chama.
Um toque gentil na minha pele gretada pelo desespero continuado, 
desperta a minha mente embotada pelo torpor do nada.
Um tremor, um movimento enfunado por uma cor que não existia antes, alivia a negridão que me veste.
Talvez exista o que procuro, aquele calor impossível, aquele toque de seda por criar,
a realidade suavizada.


Inkheart


quinta-feira, 20 de março de 2014

Trilogia da Dor II - tormentos





tormentos

A garganta rasga-se em labaredas de suspiros que me sufocam as entranhas
não libertando o que deve ser libertado,
obscuras asas grasnando de dor,
pesados e inquietos assombros, filhos do inconsciente e da punição.
Demónios impacientes, sem forma e sem nome,vassalos da noite sem sono
geradas pelas memórias negras dos tempos vividos.


Imploro, retomem ao escuro covil de onde vieram canibais da razão,
às angústias que vos alimentam, tormentos inquietos esgotando a vitalidade dos sorrisos.
Acalmai-vos por instantes, devolvei por fugazes momentos a Tranquilidade roubada.
De novo rugireis, roedores de vontades,
devastando, rasgando o meu Eu, o que sobra dele, o que foge de vocês,
mais negro que vocês, melhor que vocês, destruidoras de sonhos.


Mas palidamente, memórias de luz erguem-se.
Impõem-se pela vontade às insistentes negras sombras voadoras que rondam inquietas,
assustadas, a força que emerge.
Cores, música, uma paisagem, um sorriso adivinhado, mais percepcionado que visto,
erguem-se em firme e frágeis passos, que abrandam, ilusão talvez, as peludas sombras.
Descalça, a Tranquilidade chega. Fecho os olhos e adormeço.


Inkheart


quarta-feira, 19 de março de 2014

Trilogia da Dor I - exangue





exangue

Um vento distante, do longínquo distante onde o sol não existe
sopra o vazio frio que me enche a alma
um nevoeiro denso de coisa nenhuma passa por mim
e sem marcar deixa-me a consciência repleta de feridas
drenando gota a gota o sangue seco em mim.


Ergo alto os meus olhos cegos e cansados de não verem nada
exaustos, esgotados de inutilmente estarem abertos
buscando o impossível, procurando, sabendo que não encontrarei o que preciso,
aquela réstia de luz em fuga de uma frincha negra, da paz que não me pertence,
do sossego que foge, se esquiva dos meus ansiosos e hesitantes dedos.


Almejo o refúgio uterino da calma da nova existência
onde a efémera matéria se dilui em encontros desejados e procurados,
a luz solta-se das prisões corpóreas cumprindo finalmente os destinos alheados,
e quando no término das horas,
as palavras sentidas e contidas se libertam cumprindo finalmente a sua missão,
Eu descanso e sorrio, o impossível chegou. Eu já existo.


Inkheart


terça-feira, 18 de março de 2014

introdução à Trilogia da Dor





Há dor física, a dor do corpo.
Conhece-mo-la bem, conhecemos as suas causas, é-nos familiar. Ela pode ser suave ou violenta, estar mais ou menos presente, estar mais ou menos visível, durar mais ou menos tempo. Muitas vezes ultrapassa-se. Com mais ou menos analgésicos, com mais ou menos cuidados paliativos.
Na pior das hipóteses habituamo-nos a ela.

Depois há a dor da alma. Ela transveste-se de várias roupagens.
A dor dos porquês, a dor da incompreensão, a dor da saudade, a dor da fatalidade, a dor da perda, que muitas vezes provoca também a nossa própria perda. É sempre violenta, saturante, cansativa. Ultrapassa-se mas não passa.

Com o tempo habituamo-nos a ela. Mas é permanente. Vive connosco dia e noite. Deitamo-nos com ela e acordamos com ela, mas muitas vezes por ela não dormimos. Corrói-nos, tira-nos o discernimento, o bom senso, a capacidade de pensar e agir. Ficamos sós, inquietos, perdidos no mundo e às vezes até no nosso próprio mundo.
Olhamos à volta e desenquadrados não percebemos o que se passa. O mundo passa por nós, mas nós não passamos por ele ou com ele. Não percebemos porque as pessoas são capazes de falarem umas com as outras, de ir às compras, de viver e de rir.

Ela trás o passado de volta ao presente. Desperta os nossos demónios adormecidos. Primeiro um, depois o segundo, depois um outro, depois outro e outro e outro e depois... todos.
Ficamos exangues, atormentados e desesperados. É a trilogia da dor. Caímos num poço de fundo bem negro.
Mas essa também é vantagem de bater no fundo, podemos usá-lo para nos impulsionar de novo para cima. Aqui temos que nos socorrer do arquivo das coisas belas que estão na nossa memória.

É altura de ir buscarmos um sorriso, uma cor, uma paisagem, uma esperança. Procurar uma música, a nossa música e com sorte encontrar o abraço certo, um ombro que oiça mas que não pergunte e onde as lágrimas possam correr livremente.
É aquele ponto de apoio que aliviará o esforço que os pés e mãos que vão subir pela parede do negro poço que nos trará de volta ao mundo.

Tentarei mostrar isto mesmo, ao longo desta semana. nos próximos três poemas que constituem esta trilogia. A terceira parte será postada no dia mundial da Poesia, no próximo dia 21 de Março.


Inkheart