sábado, 2 de junho de 2012

uma música para o fim de semana - Os Azeitonas


Já estive anteriormente para pôr Os Azeitonas numa música para o fim de semana.
Deles gosto particularmente do modo descontraído, mas sério com que fazem música.

O tema que tinha escolhido na altura, Quem és tu miúda, mostra bem o que pretendo dizer. A sua letra é divertida, até romântica. A música é "fácil" de entrar no ouvido, não é excessivamente comercial e é fácil entrar no espirito dela.
Diria que Os Azeitonas fazem música para eles próprios e se divertem com isso.

Os Azeitonas nasceram em 2002 no Porto e vão no seu terceiro álbum.
Em 2005 aparece o seu primeiro trabalho, Um tanto ou Quanto Atarantado, dois anos depois surge o Rádio Alegria, que inclui o Quem és tu miúda e agora em 2011 lançaram Salão Alegria que tem por emblema o tema Anda comigo ver os aviões.

É o tema escolhido para este fim de semana.
Tal como o outro, longe da superficialidade, é fantástico na "leveza" e descontracção da sua letra. A música tem um toque saudável de nostalgia graças ao lento arrastar do acordeão e a voz de Marlon completa excelentemente a atmosfera.


Anda comigo ver os aviões a levantar voo
a rasgar as nuvens
rasgar o céu

Anda comigo ao Porto de Leixões ver os navios
a levantar ferro
rasgar o mar

Um dia ganho a lotaria
ou faço uma magia
(mas que eu morra aqui)
Mulher tu sabes o quanto eu te amo
O quanto eu gosto de ti
E que eu morra aqui
Se um dia eu não te levo à América
Nem que eu leve a América até ti.

Anda ver os automóveis à avenida
a rasgar as curvas
queimar pneus

Um vamos ver os foguetões levantar voo
a rasgar as nuvens
rasgar o céu

Um dia eu ganho o totobola,
ou pego na pistola,
E que eu morra aqui.
Mulher tu sabes o quanto eu te amo,
o quanto eu gosto de ti.
E que eu morra aqui
Se um dia eu não te levo à lua
Nem que eu roube a lua só p'ra ti

Um dia eu ganho o totobola,
ou pego na pistola,
E que eu morra aqui.
Mulher tu sabes o quanto eu te amo,
o quanto eu gosto de ti.
E que eu morra aqui
se um dia não te levo à América
Nem que eu leve a América até ti.


Bom fm de semana :)




segunda-feira, 28 de maio de 2012

Lagarde tem razão



Muito se tem escrito (e indignado) sobre as afirmações de Christine Lagarde que basicamente disse que tem mais pena das crianças do Niger do que das crianças da Grécia, porque as primeiras precisam mais de ajuda em termos de educação que as segundas.

Talvez dito de outra maneira fosse menos visceral ou até que nem sequer devesse ter sido dito, mas já que o foi, não consigo deixar de concordar com esta afirmação.
Não tenho a menor dúvida que as condições de vida das crianças do Níger é muito pior comparativamente com as da Grécia.

É só pensar na (falta) de educação, habitação, higiene, alimentação e cuidados de saúde. E podemos depois acrescentar a elevada mortalidade infantil, a elevada taxa de orfãos devido à SIDA, o número de crianças abandonadas e número infame de crianças-soldado.
Vai muito para além de três crianças algures num vilarejo no Níger partilharem uma única cadeira numa sala de aulas.

Para o Níger e para toda a África subsariana, as condições de vida da Grécia são inantigíveis, utópicas.
As declarações da Sra FMI podem não ter sido muito elegantes e a sua comparação peca por defeito como já vimos, mas critica-las é claramente ter vistas curtas e mesquinhas.
Ela tem razão.


domingo, 27 de maio de 2012

compra (muito atrasada) de fim de semana - Carlos Martins


Confio frequentemente nas aparências.
Por vezes um filme que me é desconhecido atrai-me apenas porque tem um poster que está bem desenhado, tem um conjunto de cores ou uma fotografia especialmente apelativa ou até porque tem um motivo elegante. 
O mesmo acontece com a capa de um livro ou cd.


Numa das minhas compras de jazz que usualmente faço ao fim de semana (esta foi em Fevereiro), mas que na altura não escrevi sobre ela aqui, encontrei o cd Água de Carlos Martins.
O que me atraiu nele e me motivou a ouvi-lo foi a simplicidade da fotografia da sua capa.

Um anel de água interrompido aqui e ali num tampo aparentemente envidraçado.
Como se alguém tivesse pousado uma garrafa ou um copo com o fundo molhado numa superfície de vidro acastanhada.

Na altura era bastante desconhecedor do jazz nacional e o nome de Carlos Martins que estava na capa não me disse nada.
Ao contrário da música, que me pareceu muito melódica, muito sentida, homogénea e controlada. Sem fraseados muito longos e complexos. Quando o ouvi fez-me pensar se não teria influências de Sonny Rollins e John Coltrane na sua fase de cool jazz e modal.
A compra foi inevitável.

Sei agora que Carlos Martins foi um dos primeiros músicos a abraçar o jazz profissionalmente e a utilizar o seu saxofone como instrumento de trabalho, tendo sido aluno da escola de jazz do Hot Clube de Portugal, tornando-se depois docente na mesma.
É um compositor versátil, escrevendo para ballet, teatro e cinema e teve ainda participação na iniciativa que levaria com sucesso a que o fado fosse considerado património imaterial da humanidade.

Água foi considerado o melhor álbum de jazz nacional do ano 2008 e Carlos Martins dificilmente juntaria um naipe de músicos de jazz melhor que aqueles que tem no seu quinteto.
Para além do próprio Carlos Martins no saxofone tenor, participam ainda Alexandre Frazão na bateria, Nelson Cascais no contrabaixo, André Fernandes na guitarra e dependendo dos temas, Bernardo Sasseti alterna com Júlio Resende no piano.

Mas confesso que é sempre com uma certa pena que na bonita faixa que encerra o álbum, Meados de Maio, quando pensamos que já está tudo acabado e nos preparamos para colocar outro cd no leitor, insolitamente, saindo do nada e sem motivos para tal, ouve-se a voz de Pacman a declamar um poema inconsequente.
Uma colaboração desnecessária.