sexta-feira, 23 de abril de 2010

dia mundial do livro - "uma rosa por São Jorge, um livro por Cervantes"


Foi na Catalunha que surgiu a ideia de celebrar o dia do livro no dia 23 de Abril.

Inicialmente foi proposto o dia 7 de Outubro de 1926, para celebrar o nascimento de um dos gigantes da literatura espanhola e mundial: Miguel de Cervantes. Tendo sido aceite, foi posteriormente mudada para o dia 23 de Abril, data de morte (ano 1616) do escritor.
Esta data era coincidente com a comemoração inglesa do nascimento e morte de um outro gigante das letras inglesas e mundiais, William Shakespeare (1564 - 1616) e de um outro vulto de nomeada - Vladimir Nabokov, famoso escritor russo, autor de Lolita.

Assim foi muito naturalmente que a UNESCO tenha proclamado o dia 23 de Abril como o "dia mundial do livro e dos direitos de autor" a 15 de Novembro de 1995, por se tratar de um dia emblemático para a literatura mundial e para as estantes em nossas casas.

Neste dia celebra-se igualmente na Catalunha o dia da rosa (no sec. XV realizava-se a 23 de Abril a Feira das Rosas) e o dia de São Jorge (santo padroeiro de Espanha).
Os livreiros catalães sob o lema "Uma rosa por São Jorge, um livro por Cervantes" têm por hábito oferecer uma rosa por cada livro comprado.
Este hábito generalizou-se um pouco por todo o lado e é possível em Portugal encontrar livrarias que põem em prática este mote.

Umberto Eco uma vez escreveu que:

"Há o hábito de pensar que se entra numa biblioteca para procurar um livro. Não é verdade.
Sim, por aí se começa, mas o que na realidade se busca é a aventura."

Hoje parto em busca de aventuras. Numa livraria mais próxima de mim.


Notas adicionais:

Nas pesquisas que fiz sobre as datas de nascimento e morte relativamente aos escritores que menciono no texto encontrei várias datas possíveis, o que não é invulgar uma vez que os registos das épocas em que eles viveram não eram exactos e é frequente existirem datas dispares entre si.
Mas a principal razão é a aplicação de diferentes de calendários. Ou seja, a passagem do calendário juliano para o calendário gregoriano foi feito em alturas diferentes para países diferentes.

Por exemplo as datas de falecimento dos escritores Shakespeare (inglês) e Cervantes (espanhol), os principais "mentores" do dia mundial do livro, são ambas indicadas como tendo sido a 23 de Abril de 1616, mas Cervantes morreu dez dias antes de Shakespeare. Em Inglaterra e na Russia ainda se usava o calendário juliano, enquanto em Espanha já vigorava o gregoriano.

O calendário gregoriano está avançado 10 dias relativamente ao juliano.
Papa Gregório XIII em Fevereiro de 1582 estabelece na bula "Inter Gravíssimas" que o dia seguinte a 04 de Outubro de 1582 (quinta feira) é o dia 15 de Outubro de 1582 (sexta feira), retirando desta maneira 10 dias ao calendário juliano. O objectivo era fazer regressar o equinócio da Primavera a 21 de Março anulando os dez dias de diferença que o anterior calendário juliano tinha ao longo do tempo acrescentado.

Ainda relativamente a Cervantes, historiadores afirmam que a data que é atribuida à sua morte (23 Abril 1616) e que consta na lápide da sua tumba, de acordo com os costumes da sua época, é a data de enterro e não o dia da morte que provavelmente terá ocorrido no dia anterior (22 Abril 1616).

Links pesquisados

http://www.catalonia.com.br/catalunha_cultura5.asp

http://www.mat.uc.pt/~helios/Mestre/H01orige.htm


fotografias (fonte Google Imagens)

fotografia de topo - bula do Papa Gregório XIII na qual institui o calendário gregoriano
fotografia de fundo - busto do imperador Júlio César

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Terra - cansada e maltratada

O Dia da Terra foi instituído pelo senador norte americano e ambientalista Gaylord Nelson em 22 de Abril de 1970, como protesto para a exploração excessiva dos recursos do planeta e alterações climáticas que já nessa altura já davam que falar.

Por altura do sismo do Haiti, ouvi alguém, ironicamente, dizer que a Terra estava a vingar-se da falta de acordo e ausência de resultados visíveis na cimeira de Copenhaga 2009 relativamente à emissão de gases poluentes que contribuem para o aquecimento global.
Se pensarmos em todos as catástrofes naturais que aconteceram (e já foram algumas) desde essa altura, esta afirmação não parece completamente absurda.
Especialmente as que aconteceram agora, o aluvião na Madeira e o vulcão na Islândia, não tendo sido verdadeiras catástrofes naturais, foram no entanto e acima de tudo catástrofes económicas (a primeira local, a segunda globalizada).

Curiosamente em ambas as situações foi o turismo que foi esteve em
causa.
Apesar de cansada e maltratada, Ela até parece que sabe onde beliscar o Homem.
Dá que pensar...


Uma nota:

Enquanto um todo, o planeta Terra foi alvo de 2 reflexões antagónicas entre si, que deram origem a duas hipóteses: Gaia e Medeia.

A primeira foi desenvolvida pelo britânico James Lovelock (investigador e ambientalista), no final dos anos 60 e que designou por Hipótese Gaia.
Segundo ele, a Terra é um ser vivo em sentido figurativo. Todos os elementos contidos nela – água, gases, plantas, animais e até seres humanos – são partes de um sistema único que se auto regula para manter as condições necessárias para a vida. Sendo assim, a Terra, em caso de um desequilíbrio (causado pela acção do Homem) severo pode adoecer e até morrer.

A segunda reflexão foi denominada por Hipótese Medeia. 
Formulada por Peter Ward (paleontólogo) no livro com o mesmo título em 2009, afirma que o planeta Terra é um ambiente hostil à vida.
Afirma que vida é tóxica a ela própria e que conduz a uma espécie de suicídio, à auto destruição. É o ser humano com a sua tecnologia e inteligência que pode inverter a situação.
Fundamenta estas afirmações com base na paleontologia. Ele verificou que ao longo das várias eras geológicas da Terra, a vida sofreu várias extinções maciças causadas por ela própria.

O humano por ser o animal mais evoluído à face do planeta é obviamente o causador do desiquilibrio ambiental que se vive presentemente.
Estas duas hipóteses, embora por vias diferentes, fazem passar pelo Homem a solução para este problema.
Em "Gaia" a solução passa pela cooperação e harmonia com o planeta, por "Medeia" passa pela ciência e evolução tecnológica. 


Alguns links sobre as Hipóteses Gaia e Medeia

http://arquivoetc.blogspot.com/2010/01/entrevista-peter-ward.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hipótese_de_Gaia



fonte fotografias - Google Imagens

quarta-feira, 21 de abril de 2010

ainda a propósito de João Garcia

Ontem à hora do almoço entre colegas comentou-se o feito de João Garcia de ter escalado as 14 montanhas mais altas do mundo. Levantou-se a questão, milhares de vezes perguntada, qual o motivo que leva uma pessoa a querer subir às montanhas (sejam elas altas ou baixas, fáceis ou difíceis). Suportar o frio, sofrer com o mal de montanha, andar com quilos às costas, frequentemente comer mal, dormir mal, sentir cansaço extremo e pôr a nossa vida em risco.
Retorqui com a famosa resposta de George Mallory, alpinista britânico que morreu numa expedição ao Everest em Junho de 1924, respondeu a um insistente jornalista que lhe perguntava qual o motivo que ele tinha para querer escalar o Everest: "Porque ele está lá".
Na verdade esta citação responde a tudo. A questão de "qual o motivo ?" é uma das poucas perguntas em que a resposta "porque sim" faz todo o sentido.
O facto é que a recompensa a estas provações é enorme. Temos o prazer da viagem com tudo o que isso traz associado. A paisagem pode ser avassaladora, descoberta de novos sabores, rostos diferentes, aromas desconhecidos, línguas distantes, o encontro com nós próprios.

Mas na essência, trata-se de sermos crianças grandes.
Trata-se de conquistar e de superar. Trata-se de estarmos altos e sermos importantes. Orgulho no estado puro.
É uma questão de sabermos até onde somos capazes de ir. Até onde o nosso corpo aguenta, até quando a nossa cabeça consegue puxar pelo corpo quando este já não quer continuar.
Isto é válido para uma montanha, uma árvore ou um penedo.

Trata-se de continuarmos a sermos rapazinhos e rapariguinhas brincando com coisas grandes, mais altas que nós, mais altas do que os ombros nos quais encavalitados enquanto putos, nos sentávamos a espreitar o mundo.


imagem - Google Imagens


domingo, 18 de abril de 2010

João Garcia e os 14 gigantes

Quando nos dispomos a escalar uma montanha, ela testa-nos. 
Mostra-nos o que temos de melhor e de pior. 
Revelamo-nos perante nós e perante os outros. 
Para a enfrentar temos que ser gigantes na nossa pequenez.

E mais que na determinação física, temos que ser gigantes na determinação mental.
João Garcia é um gigante nestes dois campos. E é um gigante num outro terceiro aspecto: a inteligência.
Quando se está na Montanha, temos que saber compreendê-la e interpretá-la. Temos que saber lutar contra ela quando não nos quer lá, mas também (e é aqui que a inteligência entra) temos que saber desistir de lutar contra ela.

O que João Garcia conseguiu ontem, só a elite consegue. Conquistou o último dos 14 picos mais altos do mundo (acima dos 8000m de altitude) que lhe faltava conquistar: o Annapurna I com 8091m. Todos sem oxigénio artificial. A maneira mais pura de escalar. Foi o 10º alpinista a consegui-lo. 


Levou Portugal bem alto, à história do alpinismo mundial.
Obrigado João.



Lista das 14 montanhas mais altas do mundo (picos que se situam acima dos 8000m), todas elas conquistadas por João Garcia:
  1. Everest (8848m)
  2. K2 (8611m)
  3. Kanchenjunga (8586m)
  4. Lhotse (8516m)
  5. Makalu (8485m)
  6. Cho Oyu (8188m)
  7. Dhaulagiri (8167m)
  8. Manaslu (8163m)
  9. Nanga Parbat (8125m)
  10. Annapurna I (8091m)
  11. Gasherbrum I (8080m)
  12. Broad Peak (8051m)
  13. Gasherbrum II (8034m)
  14. Shishapangma (8027m)

fotografia de topo - Annapurna I (fonte Google Imagens)

fotografia de fundo - João Garcia (fonte Google Imagens)