sábado, 8 de fevereiro de 2014

uma música para o fim de semana - Sensi


Gosto da liberdade de expressão que praticamente só o hip hop e o rap gozam.
É difícil censurar o que quer que seja. Não é pretensão, nem objectivo ser politicamente correcto.
Muito pelo contrário. O que se deseja do hip hop é que seja incisivo, que ponha o dedo na ferida, que aponte os podres sem papas na língua.
Faz das letras, quase sempre uma forte transmissão de estados de espírito e pensamentos de quem canta. Sejam eles revolta, crítica social, reivindicação ou apenas mensagens de amor e paz.

O papel da música de intervenção cabe agora a este género musical que nasceu das ruas de Nova Iorque nos anos 70 e que tem como bandeira o querer ser uma contra-cultura.
Aquilo que começou às escondidas, foi ganhando espaço, visibilidade e popularidade cada vez maior. Foi sendo abraçado por outros géneros musicais e viu a sua influência aumentar.

Entre nós ainda continua como uma subcultura, algo escondida do grande público, sem ainda ser um género musical de massas. 
Apesar de o hip hop já ter pisado várias vezes o palco de "uma música para o fim de semana" da Esteira, não é verdadeiramente o seu género musical de eleição.
Mas quando sei que Manuela Azevedo dos Clã está a fazer um dueto com um rapper faz-me tocar logo as minhas campainhas.

Sensi é o seu nome. No álbum Pequenos Crimes entre Amigos, que lançou em Outubro do ano passado tem"amigos" de respeito. Pesos pesados da música portuguesa. Para além de Manuela Azevedo, Rui Veloso, Dead Combo, Orelha Negra, Expensive Soul e mais uns quantos nomes dão uma "perninha" no álbum.

Até dá ideia que Sensi é um nome maior do hip hop, pela quantidade de músicos que participam no seu álbum, mas pessoalmente ao ouvi-lo, falta-lhe alguma agressividade, dinâmica e a sua voz é pouco acutilante, fico claramente convencido que são os músicos convidados que o puxam e o valorizam. 
Sem o seu suporte, talvez Sensi ficasse na prateleira de um canto escuro de uma sala.
Ser filho do baterista dos Xutos, Kalú e irmão do baterista Fred Ferreira dos Orelha Negra, talvez ajude a explicar como consegue juntar tantos nomes em volta de si.

Introspecção conta com a colaboração de Manuela Azevedo. 
É uma crítica social, uma viagem aos estados de alma, reflexões interiores com aquela tal liberdade de expressão politicamente incorrecta que desejamos e sabemos que vamos encontrar numa letra de um rapper.


Bom fim de semana :)





quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

a ganância tem vistas curtas


Somos pequeninos e mesquinhos. Pomos dinheiro à frente da cultura. Não de uma cultura qualquer, mas refiro-me à Grande Cultura. Empobrecemo-nos por isso.
Falo da colecção de quadros, a maior colecção privada do mundo(!!!) do pintor catalão Joan Miró que está na posse do Estado e que Passos Coelho quer a todo o custo vender mesmo que ilegalmente.

Oferecemos o BPN cuja nacionalização custou ao Estado cerca de seis mil milhões de euros, por quarenta milhões ao Mira Amaral e compadres angolanos e agora queremos vender uma colecção de obras de Miró porque é necessário realizar dinheiro pagar a dívida e o lixo tóxico do BPN que os angolanos não quiseram ficar.

É verdade que ninguém sabia que eles existiam até esta bronca estalar. E também é verdade que cuidar deles pode ser caro e que para ganhar o dinheiro equivalente à sua venda demoraria uns anitos.
Mas a grande diferença está entre vender e investir.
Por isso é que somos pequeninos.

Porque ninguém, especialmente Passos Coelho, pensa que o turismo cultural atrai muita gente (especialmente estrangeiros) e que o que esta colecção já deu que falar, traria, de novo, muita gente (especialmente tugas) ao museu que a albergasse.

Vendidos, sinceramente, o povo português não lucra um chavo com isso.
Os preços da electricidade vão continuar a subir, as pensões vão continuar a ser cortadas, a saúde continuará a tornar-se mais débil, a educação mais analfabeta e a justiça mais desacreditada.
O dinheiro vai ser perdido no vórtice dos juros e ninguém vai notar na descida do défice ou na melhoria das suas condições de vida.

Investidos é diferente. Não se realiza dinheiro a curto prazo. Mas ganha-se tudo no médio e certamente no longo prazo. Ganhamos cultura, ganhamos prestígio, nacional e internacional, por termos uma colecção de um artista como Joan Miró e não duvido que o museu ou museus onde estes quadros estivessem alojados veriam a sua assistência aumentar e logo as suas receitas.
Os portugueses que, agora, ouviram falar pela primeira vez de Miró poderiam perceber o que é um pintor (e escultor) surrealista e quem já o conhece poderia também, talvez, pela primeira vez admirar a sua obra ao vivo.

Somos e queremos ser um país de turismo. Sol, gastronomia, praias, serras, etc, etc...
Mas também há turismo cultural e nesse somos quase uma nulidade. Os quadros de Miró são uma mais valia para o turismo cultural. E este tipo de turismo não é o do pé descalço. É turismo qualificado, do "bom", do que sabe o que quer e do tipo que cá deixa divisas, dinheiro. Algo que o governo, que gosta tanto dele, nem sabe quanto poderia ser.

Estes quadros que nunca viram a luz do dia, que nunca foram expostos, estiveram perdidos e ignorados numa cave, sala ou armazém durante seis ou sete anos. Nunca foram vistos, nunca foram expostos.
Durante estes anos foram verdadeiramente inúteis, culturalmente e financeiramente falando. Valeram zero.
Agora há uma ganância pela sua venda. Ela é tão grande que muito provavelmente o valor que a sua alienação gerará poderá ser abaixo do seu verdadeiro valor.

E quando os 85 quadros de Miró são avaliados (correctamente???) em cerca de 36 milhões de euros rapidamente se percebe que valem quase tanto quanto a venda de um banco, o nacionalizado BPN. O tal que foi vendido por 40 milhões. Ou seja, algo está errado. E não é dos quadros.

Quanto ao Secretário de Estado da Cultura, essa coisa chamada Jorge Barreto Xavier que permitiu que os Mirós saíssem "ilegalmente" de Portugal em mala diplomática, uma maneira chique de dizer que passaram a fronteira a salto e que até apoia a sua venda, deveria passar para a contabilidade ou finanças. Cultura vale zero.

Mas o governo vai ficar feliz porque vai ganhar dinheiro, não interessa quanto, mas vai ganhar.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Philip Seymour Hoffman, um eleito





Nem sabia que ele tinha participado em Perfume de Mulher, mas em Tornado (Twister), achei piada ao louco caçador de tornados Dustin Davis.
E é em Magnólia através do enfermeiro Phil Parma que cuidava do moribundo Earl Partridge que procuro o nome do actor que o desempenhava nos créditos do filme: Philip Seymour Hoffman.

Em todos os filmes que vi com ele, quase todos em papeis secundários, estavam cheios de força e carisma.
Na minha memória estão os meus preferidos. O espantoso Flawless (O destino de Um Ex-combatente), o excelente Jogos de Poder (Charlie Wilson's War) e o divertido e excêntrico O Barco do Rock.
E não, não vi Capote. Infelizmente. Um dos meus grandes pecados cinéfilos.

Nele fascinava-me a intensidade do olhar e o seu tom de voz lento quase a roçar a insolência.
O que lhe faltava em físico, era avantajado, uma antítese do actor do cinema hollywoodesco, que lhe terá tirado muitos papeis principais, sobrava-lhe em força e versatilidade, era um actor camaleónico, nos muitos papeis secundários que desempenhou e que terão igualado ou na maior parte das vezes, feito sombra aos actores principais.
Penso de imediato em Missão Impossível 3, foi por ele que vi este filme, superior a Tom Cruise, e de novo em Flawless, superior a Robert De Niro e Jogos de Poder, superior a Tom Hanks.

As drogas e uma overdose ter-lhe-ão roubado a vida antes de tempo. A sua toxicodependência era conhecida do público. Ele próprio tinha a noção dos riscos que a sua vida corria se não largasse o consumo de drogas.
Dele diz-se que tinha uma alma perturbada. Talvez sim, talvez não. Era um actor genial e por vezes a genialidade faz-se pagar caro. Paga-se pela diferença ou com a indiferença e muitas vezes pela incompreensão por parte da vulgaridade.

Como em todos o que partem cedo demais e que foram os melhores de entre todos nós, deixam um vazio e uma questão que nunca será respondida. o que eles poderiam feito ainda de melhor, mais surpreendente ou mais marcante.
Acredito que Philip Seymour Hoffman foi um actor desaproveitado pelo cinema comercial de Hollywood.
A busca do sucesso de bilheteira, o ideal da beleza estereotipada, masculina ou feminina, terão provocado um dos maiores desperdícios da história do cinema moderno.


Como tantas vezes acontece e infelizmente, foi a sua morte, mais que a sua obra, que o tornou conhecido e trouxe o seu nome ao grande público, mesmo entre aqueles que vão ao cinema.
Morreu no domingo passado com 46 anos.


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

série "estatísticas da vida" - LXXI


Sou pouco dado à buzina. Mas... talvez um misto de azul e vermelho.




O porta-copos podia até acabar. Substituam por um reciclador de materiais...