quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

a ganância tem vistas curtas


Somos pequeninos e mesquinhos. Pomos dinheiro à frente da cultura. Não de uma cultura qualquer, mas refiro-me à Grande Cultura. Empobrecemo-nos por isso.
Falo da colecção de quadros, a maior colecção privada do mundo(!!!) do pintor catalão Joan Miró que está na posse do Estado e que Passos Coelho quer a todo o custo vender mesmo que ilegalmente.

Oferecemos o BPN cuja nacionalização custou ao Estado cerca de seis mil milhões de euros, por quarenta milhões ao Mira Amaral e compadres angolanos e agora queremos vender uma colecção de obras de Miró porque é necessário realizar dinheiro pagar a dívida e o lixo tóxico do BPN que os angolanos não quiseram ficar.

É verdade que ninguém sabia que eles existiam até esta bronca estalar. E também é verdade que cuidar deles pode ser caro e que para ganhar o dinheiro equivalente à sua venda demoraria uns anitos.
Mas a grande diferença está entre vender e investir.
Por isso é que somos pequeninos.

Porque ninguém, especialmente Passos Coelho, pensa que o turismo cultural atrai muita gente (especialmente estrangeiros) e que o que esta colecção já deu que falar, traria, de novo, muita gente (especialmente tugas) ao museu que a albergasse.

Vendidos, sinceramente, o povo português não lucra um chavo com isso.
Os preços da electricidade vão continuar a subir, as pensões vão continuar a ser cortadas, a saúde continuará a tornar-se mais débil, a educação mais analfabeta e a justiça mais desacreditada.
O dinheiro vai ser perdido no vórtice dos juros e ninguém vai notar na descida do défice ou na melhoria das suas condições de vida.

Investidos é diferente. Não se realiza dinheiro a curto prazo. Mas ganha-se tudo no médio e certamente no longo prazo. Ganhamos cultura, ganhamos prestígio, nacional e internacional, por termos uma colecção de um artista como Joan Miró e não duvido que o museu ou museus onde estes quadros estivessem alojados veriam a sua assistência aumentar e logo as suas receitas.
Os portugueses que, agora, ouviram falar pela primeira vez de Miró poderiam perceber o que é um pintor (e escultor) surrealista e quem já o conhece poderia também, talvez, pela primeira vez admirar a sua obra ao vivo.

Somos e queremos ser um país de turismo. Sol, gastronomia, praias, serras, etc, etc...
Mas também há turismo cultural e nesse somos quase uma nulidade. Os quadros de Miró são uma mais valia para o turismo cultural. E este tipo de turismo não é o do pé descalço. É turismo qualificado, do "bom", do que sabe o que quer e do tipo que cá deixa divisas, dinheiro. Algo que o governo, que gosta tanto dele, nem sabe quanto poderia ser.

Estes quadros que nunca viram a luz do dia, que nunca foram expostos, estiveram perdidos e ignorados numa cave, sala ou armazém durante seis ou sete anos. Nunca foram vistos, nunca foram expostos.
Durante estes anos foram verdadeiramente inúteis, culturalmente e financeiramente falando. Valeram zero.
Agora há uma ganância pela sua venda. Ela é tão grande que muito provavelmente o valor que a sua alienação gerará poderá ser abaixo do seu verdadeiro valor.

E quando os 85 quadros de Miró são avaliados (correctamente???) em cerca de 36 milhões de euros rapidamente se percebe que valem quase tanto quanto a venda de um banco, o nacionalizado BPN. O tal que foi vendido por 40 milhões. Ou seja, algo está errado. E não é dos quadros.

Quanto ao Secretário de Estado da Cultura, essa coisa chamada Jorge Barreto Xavier que permitiu que os Mirós saíssem "ilegalmente" de Portugal em mala diplomática, uma maneira chique de dizer que passaram a fronteira a salto e que até apoia a sua venda, deveria passar para a contabilidade ou finanças. Cultura vale zero.

Mas o governo vai ficar feliz porque vai ganhar dinheiro, não interessa quanto, mas vai ganhar.


Sem comentários:

Enviar um comentário