quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

mãos ao alto


Ontem tive que ir com o meu cão (Thor) ao veterinário.
A clínica abre às 10.00h e cheguei por volta das 09.45h, sentei-me num murete e o Thor sentou-se ao meu lado. Ele tem um derrame numa orelha e com um dreno, o que faz com que a ela esteja toda ligada com uma ligadura vermelha, o que salta facilmente à vista uma vez que tem a pelagem de um branco meio dourado.
É natural portanto que as pessoas que passavam por nós fossem metendo conversa connosco, tal como uma senhora que passou com a mão direita ligada que falando directamente com o cão afirmou que "as desgraças não acontecem só às pessoas", perguntando-me depois o que ele tinha.

Poucos minutos depois, foi a vez de um casal de idosos que desta vez falando comigo primeiro, perguntaram que idade o cão tinha porque já tinha um aspecto velhote. Respondi que sim, que já estava a caminho dos 14 anos, mas que estava muito bem para a idade que tinha.
O senhor apontando para sua companheira disse que ela deveria pôr as mãos ao alto porque já tinha 96 anos(!) e que também estava muito bem para a sua idade. Imaginei a cena. Pensei as histórias aquelas mãos encerravam em si e o que teriam para contar para quem as olhasse e soubesse ler.

Se seria possível contar as lágrimas que já teriam secado, sentir as dores já suavizadas, contar os tormentos aliviados, que prazeres e pecados teriam sido provocados.
O seu rosto estava bem marcado pelo tempo, mas os seus olhos azuis serenos e brilhantes ainda mantinham a beleza de décadas atrás. Despedimo-nos, desejando mutuamente felicidades e boa sorte.
Olhei para ela a afastar-se admirando-a. Pequena, como os passos que dava ao afastar-se, corpo franzino e curvado enfrentava e suportava o gigantismo e o peso de 96 anos. Como será comigo ? Emanarei esta força e sobretudo serenidade ?
Terei que esperar para ver.