sábado, 24 de março de 2012

uma música para o fim de semana - HMB


A música soul portuguesa está em grande.
Depois dos Expensive Soul terem trazido o soul português para a ribalta, com os temas o Amor é Trágico e o fantástico Dou-te Nada, surgem agora os HMB na mesma linha.

O quinteto liderado pela voz de Héber Marques já existe desde 2007. Afirmam-se naturalmente influenciados pelo soul, funk e r&b.
Fizeram o percurso tradicional de bares, casinos e concursos de bandas de garagem.
Dois anos depois de terem começado as gravações lançaram este mês, dia 12, o seu primeiro álbum, homónimo do grupo - HMB.
Começaram por cantar em inglês, mas apresentam-se neste momento ao público na lingua nacional.

Um álbum com boa onda, positivo e cheio de boas vibrações, dizem eles. Cantam o amor e a complexidade dos relacionamentos.
Segundo os próprios HMB, estão tão felizes com o seu lançamento que quando as suas músicas tocam na rádio ou televisão telefonam uns aos outros avisar para mudar para essa rádio ou estação.

O tema que está a rodar com insistência nas rádios e que promove o grupo e álbum chama-se Dia D.


Bom fim de semana :)


Hoje acordei a queimar por dentro
Com uma vontade de me querer expressar
A mão no bolso um lume aceso
Com uma mensagem dura para entregar

Tu não és ninguém
Melhor que ninguém
Ouve escuta bem
O que te vai acontecer
Hoje é o dia D
O dia que arrombei
A alma de quem
De quem não sabe o que é viver

Hoje acordei a queimar por dentro
Com uma vontade de me querer expressar
Não é o mundo que dita a sentença
Uma só voz pode marcar a diferença

Tu não és ninguém
Melhor que ninguém
Ouve escuta bem
O que te vai acontecer
Hoje é o dia D
O dia que arrombei 
A alma de quem
De quem não sabe o que é viver

Tu não és ninguém
Melhor que ninguém
Ouve escuta bem
O que te vai acontecer
Hoje é o dia D
O dia que arrombei
A alma de quem
De quem não sabe o que é viver

Dia D arrombei a alma de quem não quer viver

Hoje acordei a queimar por dentro
Com uma vontade de me querer expressar
A mão no bolso o lume aceso
Com uma mensagem dura para entregar

Tu não és ninguém
Melhor que ninguém
Ouve escuta bem
O que te vai acontecer
Hoje é o dia D
O dia que arrombei 
A alma de quem
De quem não sabe o que é viver

Tu não és ninguém
Melhor que ninguém
Ouve escuta bem
O que te vai acontecer
Hoje é o dia D
O dia que arrombei
A alma de quem
De quem não sabe o que é viver





quarta-feira, 21 de março de 2012

um poema de... Florbela Espanca (no dia mundial da Poesia)


Há poucos anos atrás, dizia em tom de brincadeira, mas a sério, que o maior dos poetas nacionais é Fernando Pessoa, a seguir há um extenso deserto e que depois dele surge Florbela Espanca.

Agora sem ser em tom de brincadeira continuo a afirmar que Pessoa é o maior entre os maiores e que Florbela Espanca surge depois, mas que o extenso deserto foi substituído por uma pequena orla de areia.
Quase como se ela se pudesse esticar toda e tocar ao de leve na mão de Pessoa.

São dois poetas diferentes, mas também muito iguais.
Em ambos se sente o peso e a força do destino, em ambos existe uma mente torturada e almas rasgadas, em ambos há uma consciência dolorosa da existência e em ambos existe algo que buscam e que não encontram.

Quem lê e gosta de Pessoa fica com a sensação que ele escreveu para cada um de nós, que há uma generalizada identificação muito pessoal com a sua poesia.
A poesia de Pessoa é tortuosa, complexa, esquizofrénica nos heterónimos, por vezes contraditória.

Mas Florbela Espanca já não. Ela escreveu para que nós percebêssemos o que sentia, mas não conseguimos perceber como se sentia.
Não escreveu para nós, mas sim acima de tudo para ela própria. Numa tentativa aliviar, talvez esconjurar o peso da sua existência, da fatalidade, do destino e da inevitabilidade do fim.
A sua poesia é inquieta, sombria e até violenta. Gosto de a descrever como visceral.

Se Fernando Pessoa se auto-desconstruiu em heterónimos para "escapar" à queda no abismo interior ou pelo menos para tornar o seu caminho mais longo, Florbela Espanca caminhou directo para lá.
Fumadora compulsiva, com três casamentos, dois divórcios e vários amantes, sofrendo de uma neurose e depressão crónica, nunca recuperando da morte do seu irmão Apeles Espanca, Florbela Espanca era uma mulher de versos tristes e melancólicos.
Os seus poemas são anúncios e prenúncios do que estaria para vir, o desenlace final, a acalmia e consolo que ela procurou, encontrou e concretizou à terceira tentativa, o seu suicídio.

Florbela Espanca morre, a última e derradeira oferta para si própria, no dia em que nasceu, 36 anos depois, a 8 de Dezembro de 1930.


Deixai entrar a Morte

Deixai entrar a Morte, a Iluminada,
A que vem para mim, pra me levar.
Abri todas as portar par em par
Com as asas a bater em revoada.

Quem sou eu neste mundo? A deserdada,
A que prendeu nas mãos todo o luar,
A vida inteira, o sonho, a terra, o mar
E que, ao abri-las, não encontrou nada!

Ó Mãe, Ó minha Mãe, pra que nasceste?
Entre agonias e em dores tamanhas
Pra que foi, dize lá, que me trouxeste

Dentro de ti?...Pra que eu tivesse sido
Somente o fruto amargo das entranhas
Dum lírio que em má hora foi nascido!...

Florbela Espanca



Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do sonho, e desta sorte,
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida, 
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que alguém sonhou.
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca



Mais poemas aqui e aqui.


domingo, 18 de março de 2012

compra de fim de semana - Bill Evans





Depois de no fim de semana passado ter falado do Everybody Digs Bill Evans, a compra deste Bill Evans Trio Sunday at the Village Vanguard era óbvia.

Este álbum de jazz do trio de Bill Evans gravado ao vivo, em Junho de 1961, num dos grandes clubes de jazz de Nova Iorque, o Village Vanguard fundado em 1935, é considerado uma das melhores gravações ao vivo da história do jazz.
Uma gravação em que os três elementos - Bill Evans no piano, Scott LaFaro no contrabaixo e Paul Motian na bateria - tocaram na perfeição não só cada um nos seus instrumentos, mas também no diálogo musical que existiu entre eles.

Esta álbum e suas as faixas resultam da escolha pessoal de Bill Evans.

Talvez duas semanas depois das gravações, o contrabaixista Scott LaFaro com vinte e cinco anos, morreria num acidente de automóvel. Bill Evans fica devastado o que o levou a iniciar um período sabático. Regressaria à música no ano seguinte com um novo trio.

Consciente do talento e da importância e contribuição de LaFaro no trio, Bill Evans escolhe as faixas onde a presença do contrabaixista é mais evidente e onde este mais brilha.
É uma homenagem que Bill Evans prestou ao seu malogrado companheiro de trio.

Num outro volume, chamado Waltz for Debby, Bill Evans vai buscar os restantes temas gravados. Posteriormente surgiria The Complete Village Vanguard Recordings, 1961 com a unificação da totalidade dos temas tocados.

Ouvir este álbum, transporta-nos para a cena do Village Vanguarde. A gravação está cheia de "ruídos", como copos a tilintar, pessoas a conversar e os seus aplausos que se percebem que não vêm de uma grande sala de concertos, mas sim de um espaço mais pequeno e intimista.
O que dá a sensação, que nós próprios fazemos parte desse grupo privilegiado de pessoas que sem saber, esteve presente e assistiu a um momento histórico do jazz.